Escrito por: MST
Com decisão, serão destruídos 1.200 hectares de lavoura de milho, feijão, mandioca e abóbora, 40 hectares de horta agroecológica, 520 hectares de café
Durante audiência realizada na tarde de quarta-feira (7), o Juiz Walter Zwicker Esbaille Junior mandou despejar as 450 famílias moradoras da usina falida de Ariadnópolis, em Campo do Meio, Minas Gerais. Ele deu o prazo de sete dias para desfazer a ocupação.
Com essa decisão serão destruídos 1.200 hectares de lavoura de milho, feijão, mandioca e abóbora, 40 hectares de horta agroecológica, 520 hectares de café. Além disso, centenas de casas, currais e quilômetros de cerca serão derrubados. Essa ordem destruirá tudo o que as pessoas construíram em duas décadas de trabalho.
De acordo com os advogados de defesa das famílias, a decisão é arbitrária e fere princípios constitucionais ao não reconhecer valores de dignidade humana. A audiência aconteceu de maneira atípica. Houve restrição para a entrada da representação das famílias acampadas e impedimento de autoridades que se deslocaram para acompanhar a audiência.
Durante a condução do rito, o juiz solicitou a presença da tropa de choque dentro da sala. Os representantes do latifúndio, junto com a prefeitura local, propuseram alojar as famílias em um ginásio. Por fim, o Juiz sequer leu a sentença, apenas informou rapidamente a decisão.
O MST está recorrendo, diante da decisão arbitrária e injusta. As famílias reafirmam a disposição de seguir a luta e resistir a mais essa investida da velha usina.
É sabido que a veia fascista do projeto eleito ao governo do Brasil vai intensificar o uso de toda máquina do estado para criminalizar e segregar o povo Sem Terra. Assim como o fará nas comunidades urbanas. Mas o povo brasileiro é corajoso e forte. O Movimento enfrentou a ditadura militar desde o nascimento. É com essa história e com essa coragem que as famílias do Quilombo Campo Grande irão resistir e permanecer nas terras de Ariadnópolis. Não vai ser uma liminar de despejo que apagará tantos anos de luta.
São 450 famílias, que vivem há mais de 20 anos na usina falida Ariadnópolis, em Campo do Meio, Minas Gerais. Atualmente a área é chamada de Quilombo Campo Grande, possui vasta produção de alimentos e colhe 510 toneladas de café por ano. As famílias moram em casas de alvenaria, construídas sem qualquer apoio de políticas públicas. A usina encerrou suas atividades em 1996, porém ainda possui várias dívidas trabalhistas.
No lugar onde se produzia somente cana de açúcar e álcool e gerava renda para um único proprietário, hoje gera trabalho e renda para cerca de 2000 pessoas. As famílias produzem sem o uso de agrotóxico, como orienta o MST. São hortaliças, cereais, frutas, fitoterápicos, leite e derivados, produtos processados como doces e geleias. Tudo isso produzido de forma agroecológica ou em transição.
Amancio de Oliveira nasceu em Campo do Meio, trabalhou a vida toda na usina Ariadnópolis e foi demitido durante o processo de falência da empresa. Conseguiu receber seus direitos após 24 anos de disputa judicial. “Campo do meio faliu por causa dessa Usina. Hoje a Campo do Meio está reerguendo graças aos assentados que compram na cidade. Toda hortaliça vende na cidade, colhemos café, torra e vendemos na cidade. Antes eu vivia trabalhando para fazendeiro, trabalhava cedo para comer de tarde, só tinha uma calça e uma camisa”, conta o agricultor.
O decreto 356 de 2015 desapropriava 3.195 hectares das terras da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (CAPIA). No entanto, a pressão da bancada ruralista e latifundiários da região, junto ao judiciário fez com que esse documento fosse anulado, mesmo tendo passado por dois julgamentos que validaram a importante ação do governo de Minas Gerais.
“O avanço da ultra direita nessas eleições contra a classe trabalhadora, junto com a sanha do agronegócio, que apoiou a eleição do Bolsonaro, mostra o projeto que eles têm para o campo no Brasil. Essas ações de despejos que estão acontecendo em toda Minas Gerais vêm no sentido de criminalizar os lutadores populares e movimentos sociais. Querem acabar definitivamente com a pauta a Reforma Agrária, mas nossa história é resistir”, afirma Michele, da direção estadual do MST.
Fazendo da produção seu meio de contrapor as injustiças sociais e de denunciar os grandes latifúndios improdutivos, o Quilombo Campo Grande foi responsável pela produção de 55 mil sacas de milho, mais de 8 mil sacas de feijão e 8.500 sacas de café, na safra de 2017-2018. “O nosso grande proposito é produzir a partir da agroecologia, um alimento saudável e de qualidade, gerando segurança alimentar não só pra quem produz, mas para toda a população”, afirma Tuíra Tule, uma das responsáveis pela produção.
Uma das maiores riquezas do acampamento é justamente a sua produção de forma agroecológica, em especial do Guaií, café tipo arábica. Ele vem sendo comercializado para escolas, entidades públicas e através de feiras, lojas da reforma agrária, tudo com um preço justo para que o consumidor possa ter acesso a produtos de qualidade e sem veneno. Só em 2017 foram vendidos mais de 120 mil pacotes do café pela Cooperativa Camponesa.
Tendo em vista o risco iminente que as famílias correm de perder sua moradia e tudo o que foi conquistado até agora, os mesmos pedem quem aqueles que sabem a importância e reconhecem o valor da luta por dignidade assinem a moção de apoio e enviem um e-mail para vara agrária de MG pelo e-mail bhe.vagraria@tjmg.jus.br, com cópia para contato@crdhsulmg.com.br (entidade que está acompanhando o caso).