Escrito por: Rogério Hilário, com informações de Amélia Gomes – Brasil de Fato MG e Rádio Itatiaia

Após crítica de deputado bolsonarista, jornalista tem exposição interditada na ALMG

Em defesa do artista e da liberdade de expressão, Sindicato dos Jornalistas ocupa a Casa e cobra respostas

SJPMG

Nesta segunda-feira, 19 de setembro, o jornalista Carlos Barroso teve sua mostra “Deslocamentos” interditada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Barroso, que também é artista visual, poeta e presidente da Casa dos Jornalistas, inaugurou a exposição na galeria da ALMG no último dia 5.

O trabalho traz como tema o inusitado e o controverso, e instiga por meio de obras plásticas uma quebra dos rótulos impostos socialmente. A mostra deveria permanecer aberta à visitação até o próximo dia 23. “Essa exposição é fruto de um edital de concorrência pública, aprovado há quase três anos. Não foi executada antes por causa da pandemia. Eu como poeta e artista já vinha fazendo isso há trinta e cinco anos. Não devo nada a ninguém. E agora houve essa obstrução, essa censura, esse atentado à liberdade de expressão e anticonstitucional, com a ordem da Assembleia Legislativa de retirar a amostra”, explica o artista.

Carlos Barroso também alega que a exposição não representa nenhuma afronta à fé das pessoas. “Eu defendo todas as religiões, defendo todas as fés, tenho uma formação cristã. Agora, a arte através de todos os tempos, talvez desde lá das cavernas, ela sempre teve o papel de desacreditar, de inquietar e de desmistificar. Então, naturalmente, quem não conhece a arte e tem os olhos de preconceito acham que as obras que existem aqui são ataques à fé cristã”.

A interdição aconteceu no dia seguinte às críticas publicadas pelo deputado estadual Carlos Henrique (PRB), que afirmou que as obras seriam um ataque aos cristãos. No domingo (18), o parlamentar publicou um vídeo em suas redes sociais criticando a exposição. “Existe o artigo208 do Código Penal Brasileiro, que trata sobre o vilipêndio público de ato ou objeto de culto religioso. E essa exposição fere frontalmente este artigo da Constituição. A mesa diretora resolveu reavaliar a exposição, que tem um estímulo ao preconceito, ao ódio religioso, à intolerância religiosa, ao vilipêndio, à cristofobia. Isso mexe com o sentimento das pessoas. Noventa por cento dos mineiros são cristãos e merecem respeito. Como membro da mesa diretora da Assembleia eu vou pedir providências e a primeira é retirar essas peças de arte”, afirma o parlamentar.

Em 2005, Carlos Henrique, então vereador de Belo Horizonte pelo PL, teve o nome envolvido em outra polêmica. Dessa vez, o parlamentar foi flagrado pela polícia federal, transportando pelo aeroporto da Pampulha, 11 malas com R$ 600 mil em dinheiro vivo. De acordo com o parlamentar, que é pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, o dinheiro era fruto do dízimo recolhido pela igreja no fim de semana.

Para o presidente da Casa dos Jornalistas e autor das obras, a atitude do parlamentar é "uma censura à liberdade de expressão, à arte e à cultura”. “Um discurso de ódio de grupos que são essencialmente contra a arte e a cultura”, desabafa.

Sindicato exige respostas

Em nota pública, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais pontua que "a interdição da mostra é mais um ato de intolerância que marca os dias de hoje". A presidenta da entidade, que desde a manhã desta segunda (19) acompanha o caso, afirma que não irá se retirar da ALMG até obter um posicionamento da Casa.

“A assembleia está se curvando ao fascismo e à censura", critica a sindicalista. “Quem censurou? Quem mandou censurar? Daqui não sairemos até obtermos resposta. É um absurdo. A Casa do povo tem o dever de zelar pela Constituição e garantir o que prevê o seu artigo quinto, que é a liberdade de expressão”, completa Alessandra.

O que diz a ALMG

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, para um posicionamento sobre o caso e aguarda o retorno.