Escrito por: Rogério Hilário, com informações do Estado de Minas, SJPMG e Brasil de Fato MG
Manifestação para lembrar os atos golpistas de janeiro de 2023 começou dentro da Casa de Jornalista e por causa do número de participantes teve ser transferida para a Avenida Álvares Cabral
Dia 8 de janeiro é uma data que entra para o calendário brasileiro como marco de resistência das instituições, e da democracia, frente às tentativas de golpe de Estado. Do dia da infâmia, a data se tornou o dia da defesa da democracia. Uma data que reforça que a vigilância com nossa democracia deve ser permanente, e que as Instituições têm um papel crucial na defesa da liberdade de imprensa, dos direitos humanos, dos direitos trabalhistas, assegurando que as diferenças de opiniões, e de escolhas, sejam respeitadas e não usadas como motivações para polarização e a violência.
Tudo isso foi evidenciado em ato realizado na tarde desta segunda-feira (8) na sede Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG), que abriga também a Casa de Jornalista, e sempre acolheu as lutas contra a ditadura militar, pela retomada do estado democrático de direito no país, e dos movimentos sociais, sindicais, estudantis e populares.
A manifestação, organizada pelas centrais sindicais, sindicatos, lideranças políticas e a Superintendência Regional do Ministério do Trabalho e Emprego, a princípio teve saudações no salão principal do SJPMG. Mas o grande número de participantes e a representatividade das entidades levou o ato para a Avenida Álvares Cabral, quando os manifestantes dialogaram com a população sobre a importância da resistência ao golpe e da luta permanente pela democracia..
Durante o ato, o Hino Nacional foi cantado à capela e os manifestantes gritaram “ditadura nunca mais” e “sem anistia” para os golpistas de janeiro de 2023. Durante a solenidade, o superintendente do Ministério do Trabalho e Emprego em Minas Gerais, Carlos Calazans, entregou uma cópia do relatório final da CPI do 8 de janeiro, criada no Congresso Nacional, de forma simbólica às lideranças sindicais e políticas presentes, entre elas a presidenta do SJPMG, Lina Rocha.
“A presidência da CPI e deputados federais mineiros que integraram a comissão pediram que eu entregasse ao Ministério Público o relatório completo da CPI, com todos os depoimentos, todas as análises, que culminaram no relatório final. Para o MP, é importante para, caso aconteça alguma coisa aqui em Minas, poder utilizar o relatório para embalar alguma medida ou ação”, destacou Calazans
Os manifestantes também se comprometeram com a luta permanente contra o fascismo que perdura no país e, principalmente, a necessidade de derrotar o projeto do governador Romeu Zema, um representante do bolsonarismo. A manifestação incluiu ainda o apoio ao povo palestino, massacrado por Israel.
O presidente da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), Jairo Nogueira Filho, enfatizou não apenas a defesa da democracia, mas também a luta contra o bolsonarismo, que persiste em Minas Gerais, com o governo Romeu Zema (Novo). “O dia de hoje é para gente não esquecer. É para a gente marcar, estar lembrando que aconteceu há um ano atrás. Do absurdo que foi a tentativa de golpe, que foi arquitetado. Teve todo um processo para tirar Lula do governo, trazer a ditadura para o Brasil. E se tivessem sucesso naquele dia, a gente da classe trabalhadora estaríamos vivendo com muita dificuldade no dia de hoje, se o governo Lula não tivesse segurado, mantido, junto com os poderes, a questão da democracia brasileira. Por isso é muito importante este ato no dia 8 de janeiro, para relembrar, para não deixar cair no esquecimento. Sem anistia para este povo. Para condenar a todos que participaram desta barbárie que aconteceu em Brasília”, disse Jairo Nogueira Filho, presidente da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG).
O dirigente sindical ressaltou que a resistência em Minas Gerais contra o projeto de Romeu Zema é fundamental para a classe trabalhadora e todo o povo mineiro. “Estamos atentos com a nossa democracia e fazendo a luta em Minas Gerais. Não vamos deixar criar um candidato igual ao Zema, para disputar 2026 com o risco de ganhar a Presidência do Brasil. É a nossa tarefa aqui no Estado, além do dia de hoje, de trabalhar firme até 2026 para fazer com que a população entenda que Zema não atende os anseios do povo. Só atende a quem tem muito dinheiro. Então galera é o fora Zema neste dia 8, democracia sempre e anistia nunca para este povo que fez esta tentativa de golpe no Brasil.”
O deputado estadual e presidente do Partido dos Trabalhadores em Minas Gerais Cristiano Silveira ponderou que o Brasil precisa ter consideração com a sua própria história, uma vez que, durante a ditadura, diversas pessoas enfrentaram processos de dor e sofrimento para que, hoje, a sociedade possa se expressar. “Nós queremos todo o 8 de Janeiro para relembrar que foi tentativa de golpe. Não dá para minimizar, não dá para relativizar, não foi apenas um evento político de opositores que estavam descontentes com o resultado. Vamos dar a esse evento a gravidade que ele merece e portanto nossa vigíliaTemos que lutar para que não aconteça de novo. Em homenagem àqueles que lutaram, precisamos garantir que a luta não se perca. Durante os quatro anos do mandato do Lula, queremos ato todo 8 de janeiro”, convocou.
A presidenta do SJPMG, Lina Rocha, também reforçou a importância de que a sociedade esteja vigilante para que atos que visem a ruptura democrática não ganhem adeptos. "Hoje a gente se reúne aqui para que se fortaleçam as instituições. O papel da imprensa, que é fundamental nesse combate a ditadura, nessa vigilância, democracia... A imprensa foi muito golpeada nesses anos de governo Bolsonaro", comentou Lina Rocha, relembrando as agressões que jornalistas receberam durante os acampamentos na Avenida Raja Gabaglia na capital mineira.
Conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seção Minas Gerais, o advogado William Santos avaliou que a capital mineira é uma das cidades vanguardistas no que se refere às manifestações em defesa da democracia. No entanto, ele também reforçou que outros setores da sociedade ainda precisam se mobilizar melhor contra “aqueles que deturpam a democracia e são contra o estado democrático de direito”, afirma.
Para ele, é preciso que essas mobilizações sejam consolidadas. “Inclusive abrindo espaço de fala para as minorias, porque é importante a manifestação das pessoas desses grupos, contra o ódio, contra os preconceitos de todas as ordens”, observa.
Lembre o que aconteceu
Nesta segunda-feira, 8 de janeiro, completou um ano do pior ataque às instituições democráticas brasileiras desde o fim da ditadura em 1985. Na ocasião, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiram e depredaram as sedes dos Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo em Brasília, em ato golpista contra o presidente Lula (PT).
Segundo o STF, foram instauradas 1.354 ações penais contra participantes dos atos antidemocráticos. No entanto, até o momento, a instituição julgou e condenou apenas 30 pessoas. Os crimes foram descritos como associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e deterioração de patrimônio tombado. Em 14 de setembro de 2023, o primeiro réu foi condenado.