Escrito por: Rogério Hilário

Ato contra as privatizações ocupa as ruas de Belo Horizonte

Carreata une sindicatos, movimentos sociais e lideranças políticas na defesa das empresas estatais, de empregos, da soberania nacional e do patrimônio do povo. Manifestantes garantem que voltarão sempre às ruas

Fotos Rogério Hilário

Dirigentes e militantes de sindicatos, movimentos sociais e lideranças políticas se uniram, na manhã deste domingo (16) em Belo Horizonte, em ato e carreata contra os ataques às empresas estatais, com tentativas de privatizações, dos governos de Romeu Zema, em Minas Gerais, e de Jair Bolsonaro. Os manifestantes, convocados pela Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG) e pelo Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do Estado de Minas Gerais (Sintect), dialogaram com a população sobre luta em defesa de empregos, de um serviço público de qualidade, do patrimônio do povo brasileiro e da soberania nacional. Todos seguiram as recomendações sanitárias de combate à pandemia. A carreata, que começou na Avenida Assis Chateubriand, no Bairro Floresta, percorreu as ruas do Centro da capital mineira. O ato, segundo os organizadores, é mais um dos muitos que ainda serão realizados em todo o Brasil.

“A proposta do ato é o combate a privatizações das estatais. Primeiramente chamado pelos trabalhadores dos Correios e tomou uma dimensão maior em todo o país, convocado por vários movimentos sociais, sindicatos e a CUT. E é um ato em defesa de um serviço público e de qualidade para o povo brasileiro. Nesta semana, houve andamento em uma das comissões do Congresso que está tratando da privatização dos Correios e a privatização foi aprovada em uma primeira comissão. E os trabalhadores estão saindo às ruas para dizer que não vão aceitar a privatização e nem a retirada dos seus empregos. Privatização quer dizer demissão de  milhares de trabalhadores. Quer dizer precarização dos serviços para a população. Quer dizer a destruição do que a gente conhece hoje como Estado. Então é por isso que estamos na rua. E vamos fazer mais atos de rua. Tem mais atos programados. Este é só mais um do que vamos fazer contra a privatização dos Correios e em defesa dos serviços públicos de qualidade para o povo brasileiro”, afirmou Robson Silva, presidente do Sintect/MG.

“Este ato é muito importante para denunciar à população a tentativa do governo federal de privatizar uma das maiores empresas públicas do país, que tem o reconhecimento da população por sua eficácia e que se mostrou essencial neste momento de pandemia com sua logística para distribuição de vacinas. Uma empresa brasileira lucrativa e, por isso, não se justifica de forma alguma a privatização. Esta mobilização, e muitas que se seguirão, une a classe trabalhadora, categorias de várias empresas públicas e estatais que são ameaçadas não apenas pelo governo de Jair Bolsonaro, mas também pelo governo de Romeu Zema, em Minas, e governos de outros estados. Em Minas Gerais, o também genocida Zema tenta privatizar a Cemig, a Copasa, a Gasmig e outras estatais”, disse Jairo Nogueira Filho, presidente da CUT/MG.

“E não podemos deixar de parabenizar a deputada estadual Beatriz Cerqueira pela proposta de CPI da Cemig. Há sérias irregularidades, não apenas na Cemig. Zema faz uma ação entre amigos, em que leva o presidente da Cemig para o Conselho de Administração da Copasa e, como isso, o executivo ganha jeton de R$ 28 mil. Logo um governo que falou que era o novo age desta forma. Vamos combater estas pautas, mas respeitando a segurança da saúde, com o distanciamento, o uso de máscaras. Mas como disse o companheiro Lula, quando estivermos vacinados vamos mostrar a eles quem leva mais pessoas às ruas. Fora Zema. Fora Bolsonaro”, concluiu.

“Vimos de vários retrocessos com este governo genocida de Jair Bolsonaro. E em Minas Gerais, com este governo Zema, que veio em campanhas eleitorais falando em privatizar a Cemig, a Copasa dizendo que são empresas ineficientes. Lógico que nós vemos, nos últimos anos, que a Copasa totalmente superavitária. Apresentou no ano passado um lucro de R$ 816 milhões e teve uma distribuição de mais de R$ 1 bilhão de lucro para os acionistas. Enquanto a Cemig, da mesma forma, veio de lucro extraordinário de mais de R$ 3 bilhões em 2019 o que derruba o argumento do governo do Estado de que a empresa é deficitária. A Copasa no primeiro trimestre de 2021, um lucro de R$ 216 milhões. O governo do Estado tenda usar a Lei 1426 para justificar a privatização da Copasa. Chamamos a atenção da população nesta carreata que fazemos hoje em defesa das estatais, em defesa dos Correios, da Gasmig, da Cemig, da Copasa. Não podemos entregar a soberania estadual para o mercado financeiro. Chamamos a população para luta, da luta para resistência. Precisamos mostrar nossa força com nosso voto na próxima eleição. Não deixar este governo continuar no Estado e tirar o governo genocida para que a gente possa sonhar novamente com um país justo e igualitário”, disse Eduardo Pereira de Oliveira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição e em Serviços de Esgotos do Estado de Minas Gerais (Sindágua/MG).

“Esta manifestação é fundamental. É a forma que a gente tem de demonstrar à população o que está acontecendo. Nós temos um presidente que, além de genocida,  está entregando a soberania. E as consequências são estruturais para o país. Não são consequências para o mês que vem, são para décadas. Precisamos impedir a privatização da Petrobras, dos Correios, Serpro, Dataprev, porque isso diz respeito à soberania, e diz respeito aos direitos da população à prestação de serviços pelo estado brasileiro de qualidade. É gravíssimo. O governo mente ao dizer que as privatizações são necessárias. Mente a respeito da reforma administrativa, da PEC 32. A gente tem que disputar opinião. Quero parabenizar a CUT e seus sindicatos pela iniciativa. E gente precisa estar nas ruas nas condições que a pandemia permite para que possamos denunciar, resistir e impedir as privatizações”, declarou a deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT).

A parlamentar também fez críticas ao governo de Minas Gerais que, na sua opinião, se omitiu no combate à pandemia de Covid-19. “A UFMG desenvolveu sete vacinas, mas não tem qualquer investimento do governo de Romeu Zema, que mandou o vírus viajar e é responsável, por omissão, por mais de 34 mil mortes no Estado. Zema é negacionista. E, inacreditavelmente, o governo de Minas quer transferir a gestão de escolas estaduais para empresas! Lançou o 'projeto Somar', somando de faro para o lucro de empresários. É inequívoca a violação da Constituição Federal, pois é obrigatória a prestação direta do serviço educacional público. Diante de tamanho absurdo, nosso mandato reuniu com os coletivos das três escolas estaduais e a direção do Sind-UTE/MG e assumimos o compromisso de lutar contra essa imoralidade. Já apresentamos pedido de impugnação do edital publicado e solicitando a sua anulação. Não estamos com mais gente nas ruas porque o governo não cumpriu a sua parte. A luta popular, a luta sindical é que vai fazer a diferença. A luta é essencial. Eles não passarão, nós ficaremos. Este governo genocida vai passar.”

“O fato do momento é a CPI da Covid-19. Assunto que Jair Bolsonaro tenta esconder do povo brasileiro com os factoides e, ao mesmo tempo, tenta fazer a boiada passar. São mais de 400 mil brasileiros mortos pelo genocida. E este número deve ultrapassar 500 mil. Em pouco, teremos mais vítimas que os Estados Unidos. Lá o governo controlou a pandemia. A CPI já provou que ele é responsável, por não querer comprar as vacinas e dizer que a cloroquina iria curar as pessoas, que todo mundo morre um dia, que não passava de uma gripezinha. Não houve uma política de tratamento da pandemia. Em seu depoimento, o representante da Pfizer comprovou que não quiseram comprar a vacina. E, na CPI, o filho de Bolsonaro, ium vereador, atuou para tumultuar. O que ele estava fazendo lá numa sessão do Senado? E agora Bolsonaro está fazendo tudo para passar a boiada, com R$ 3 bilhões para distribuir para o Centrão”, alertou o deputado federal Rogério Correia (PT).

“A popularidade do Bolsonaro derrete. Mas ele quer fazer a ‘farra do boi’. E um dos elementos dela são as privatizações. Quer privatizar a Eletrobrás por medida provisória. Entregar Furnas. Para os Correios, o prazo é o final do ano. Além disso, temos na pauta a Emenda Constitucional 32, com o objetivo de privatizar todo o serviço público. Ela possibilita ao Estado cobrar mensalidades nas escolas, na assistência à saúde, o que significaria um plano de saúde no lugar do SUS. A votação da emenda está marcada para esta semana. Não podemos esperar por 2022. O momento é agora. O Movimento Fora Bolsonaro tem que ser intensificado”, acrescentou o parlamentar.

Para Soniamara Maranho, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), “é importante deixar claro que a privatização mata, como ficou comprovado com a Vale”. “Conhecemos, de longa data, que o capital quer se apoderar do que foi construído com o suor e o sangue do povo brasileiro. E estamos num momento de rapinagem do capital, na medida que as empresas estatais dão lucros extraordinários. Querem se apoderar de empresas que são frutos do nosso trabalho. A privatização mata. Ela é a perda da soberania e do patrimônio do povo brasileiro. E a exploração de trabalhadoras e trabalhadores. E, se não lutarmos para barrar isto, teremos que construir um projeto de revogação de todo o processo de privatização. Ou seja, temos que derrubar o presidente. Mas estamos sendo encurralados. Sem vacinas, ficamos em casa. Nós respeitamos as medidas sanitárias, enquanto os outros vão para as ruas.”

“Primeiramente, agradecemos a deputada Beatriz Cerqueira por colocado em pauta na Assembleia Legislativa a produção de vacinas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Nós temos que intensificar a unidade dos trabalhadores, para lutar em conjunto contra as pautas de privatizações. Precisamos manter os Correios públicos, a Copasa, a Cemig, Serpro, Dataprev, entre outras empresas, que compõem o arcabouço do serviço público. Os trabalhadores e a população precisam reconhecer elas são o alicerce do país para o crescimento real da economia e da manutenção dos direitos trabalhistas. O momento é fundamental. E estamos fazendo o contraponto com as outras manifestações, nos domingos. Por isso temos que continuar nas ruas”, disse Cleide Donária, diretora do Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos de Belo Horizonte (Sindibel).

“O ato de hoje é mais uma das tarefas que o movimento sindical e, sobretudo, do movimento sindical CUTista. Estamos juntos para combater os ataques às nossas estatais, que ameaçam diretamente a soberania popular. As empresas estatais têm um papel fundamental e estamos juntos pela manutenção do nosso modo de vida. Os Correios são garantia de integração nacional. A Cemig é garantia de disponibilidade de acesso à energia elétrica. A Copasa garante o acesso à água e ao saneamento básico. São fundamentais para a população, assim como as demais estatais. Elas têm papel decisivo na garantia de implementação de políticas públicas. Repudiamos qualquer tentativa de privatização e os ataques aos direitos de trabalhadoras e trabalhadoras. Fora Zema, fora Bolsonaro”, afirmou Jefferson Silva, coordenador-geral do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro/MG).

 “Construímos nossos atos com a unidade da classe trabalhadora.  E contra um governo que é pior que o vírus. Estão vendendo a Petrobras em pedaços. Venderam uma refinaria na Bahia e  querem privatizar a produção de biodiesel. É um processo ideológico, que começou, estrategicamente, no Nordeste. A produção de biodiesel serve para fomentar a agricultura familiar, por exemplo. E estão vendendo os trabalhadores junto. Estamos em Montes Claros para organizar uma greve a partir do dia 20, por causa da ameaça de privatização da fábrica de biodiesel. Temos fábricas em Minas e na Bahia, e a administração é no Rio de Janeiro. Precisamos do apoio de vocês para que o movimento tenha repercussão, pois 150 trabalhadores serão vendidos. Pretendem vender, também, oito refinarias. Temos que lutar muito, pois defender a Petrobras é defender o Brasil”, afirmou Anselmo Braga, diretor do Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais (Sindipetro/MG).

"É o momento de nos unirmos para derrotar este desgoverno que ataca as empresas estatais, entre elas o Serpro e a Dataprev. Empresas que abragem trabalhadoras e trabalhadores ainda mais necessitados. Nossa resistência e nossa luta são fundamentais para o povo brasileiro", disse Cláudio Luiz Jesuíno, do Sindicato dos Empregados em Empresas de Processamento de Dados, Serviços de Informática e Similares do Estado de Minas Gerais (Sindados/MG).