Escrito por: Rogério Hilário, com informações de Erica Aragão

Como na época da fundação, CUT completa 36 anos em meio à luta pela democracia

Para presidente da CUT, o 13º Congresso será o segundo mais importante da história da Central, que irá rever, modernizar e readaptar a CUT para as novas relações no mundo do trabalho

Lidyane Ponciano
Lula, Jairo, Vagner e Beatriz Cerqueira na abertura do Congresso Estadual da CUT/MG de 2015 em BH

A CUT completa 36 anos com desafios semelhantes aos que enfrentou na época da sua fundação. Os cenários político e econômico de 1983 e 2019 impõem organização, mobilização e estratégias de luta contra o desemprego e os ataques aos direitos da classe trabalhadora.

Em 1983, com o país imerso em grave recessão, taxas de desemprego batendo recordes históricos, arrochos salariais, ditadura militar e muita repressão e opressão, mais de cinco mil trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade fundaram a Central Única dos Trabalhadores, a CUT.

Em 2019, a CUT realiza seu 13º Congresso Nacional da CUT (Concut), enfrentando desemprego recorde e o maior ataque aos direitos sociais e trabalhistas já vistos na historia do Brasil. Desde que assumiu, há oito meses, o governo de extrema direita de Jair Bolsonaro (PSL), não anunciou uma única medida em benefício da classe trabalhadora. Tudo, até agora, beneficia empresários, em especial do agronegócio.

“A CUT surgiu porque sabíamos que os sindicatos são extremamente importantes na vida do trabalhador, da trabalhadora e da democracia, mas também sabíamos que tinha que ter uma entidade com capacidade para liderar a organização de todos os sindicatos do país em torno de uma mesma ideia. Só assim era possível dar mais força para a luta e a conquista dos trabalhadores. O desafio é o semelhante 36 anos depois”, afirma o presidente da CUT, Vagner Freitas.

Com Bolsonaro, a CUT tem um papel mais importante ainda, pois ele está promovendo um ataque feroz aos direitos conquistados com muita luta em todos esses anos, além dos ataques direcionados à organização sindical e à democracia, analisa Vagner.

“O governo de Bolsonaro não tem nenhum respeito com a história e a democracia do país, com os trabalhadores, com as trabalhadoras e muito menos com o movimento sindical brasileiro, responsável por inúmeras conquistas que melhoraram a vida de milhões de pessoas”, disse o presidente da CUT.

Ele trabalha todos os dias para sufocar o sindicalismo e, assim, impedir avanços e destruir direitos que muita gente deu a vida para conquistar- Vagner Freitas

Para Vagner, Bolsonaro quer destruir o movimento sindical porque sabe a força de centrais como a CUT que “há 36 anos mostra no dia a dia sua importância, capacidade de organização e luta, além do enorme compromisso com os direitos da classe trabalhadora”. É isso que tornou a CUT, diz o dirigente, a maior do Brasil, quarta maior do mundo e uma das mais respeitadas pelos trabalhadores do mundo inteiro.

A fundação da CUT

Cedoc/CUTA aprovação da fundação da CUT no 1º Conclat em 1983

O 1º Congresso Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), realizado há exatos 36 anos, entre os dias 26 e 28 de agosto, no Pavilhão Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, reuniu trabalhadores e trabalhadoras de todas as regiões do Brasil. Eles representaram 912 entidades, sendo 335 urbanas, 310 rurais, 134 associações pré-sindicais, 99 associações de funcionários públicos, 5 federações e 8 entidades nacionais e confederações.

E em 23 de agosto de 1983 conseguiram, depois de várias tentativas, consolidar a organização da classe trabalhadora, fundando a primeira central nacional intersindical e intercategorias construída após o golpe militar de 1964.

 As reivindicações aprovadas no 1º Conclat foram o fim da Lei de Segurança Nacional e do Regime Militar, combate à política econômica do governo, contra o desemprego, pela reforma agrária, reajustes trimestrais dos salários e liberdade e autonomia sindical. E para coordenar essas lutas foi eleita uma direção colegiada, presidida por Jair Meneguelli, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema.

“Depois da fundação da CUT, resistindo à ditadura militar e lutando por uma democracia, nós viajamos o Brasil inteiro dando palestras e debatendo com os sindicalistas com uma malinha de roupa e de remédios. Trouxemos muitos sindicatos para a CUT e mostrávamos a importância de uma entidade estar filiada a uma central combativa e forte. Foi com muita luta e dificuldade que chegamos até aqui”, disse o primeiro presidente da CUT, Jair Meneghelli.

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Quando a CUT foi fundada, já existia um histórico de lutas lideradas pela Comissão Nacional Pró-CUT [grupo de trabalhadores criado para organizar a CUT em 1981]. A pauta era ampla, ia desde a luta pelo fim do desemprego, redução de jornada de trabalho para 40 horas semanais,  greves gerais e seguridade social, passando pela luta contra a carestia e pelo direito à moradia, até e liberdade e autonomia sindical e liberdades democráticas.

Cedoc/CUTMesa da diretoria na plenária que decidiu a fundação da CUT

 

Em 1984, um ano depois da sua fundação, a CUT foi uma das protagonistas da luta pelas eleições diretas. A Central  organizou, inclusive, uma marcha à Brasília, que agregou outras reivindicações como salário-desemprego e contra o Decreto-Lei 2.065 que arrochava ainda mais os salários.

 Os desafios do 13º Concut

O presidente da CUT destaca a importância do 13º Congresso Nacional da CUT (Concut) para os próximos anos da Central. De acordo com Vagner, a CUT tem que se adequar aos novos tempos.

“Em 1983, 1984, era uma classe trabalhadora, uma organização. Agora é outra classe trabalhadora em outra organização. Somos exitosos no que construímos até agora, mas não é mais suficiente pro que vem adiante”, disse Vagner se referindo aos novos desafios do mundo do trabalho.

“Esse tem que ser o congresso da virada da CUT para representar toda classe trabalhadora, tanto os afetados pelos novos modelos de contratos, como o intermitente legalizado pela reforma Trabalhista, quanto os trabalhadores informais e a nova classe trabalhadora com a indústria 4.0”, pontuou Vagner.

“Esse é o grande desafio do 13º Congresso, o segundo mais importante depois da fundação. O desafio do primeiro foi o de construir a CUT e chegar até onde chegamos. Agora será hora de rever, modernizar, readaptar a CUT ao mundo moderno e continuar trabalhando para que ela seja combativa e importante”, afirmou Vagner Freitas.

Sobre o 13º Concut

O 13º Congresso Nacional da CUT “Lula Livre” acontecerá entre os dias 7 e 10 de outubro, na Praia Grande, mesmo local onde foi realizado o congresso da Comissão Nacional Pro-CUT. O mote será “Sindicatos Fortes = direitos, soberania e democracia” e tem como objetivo intensificar e aprofundar o debate, definir estratégias e elaborar um plano de lutas para fazer frente aos desafios que estão colocados para a classe trabalhadora, para o movimento sindical e para o povo brasileiro. O Congresso também vai eleger a direção para o período de 2019 a 2023.

A participação das mulheres

Cedoc/CUTDidice na criação da Comissão sobre Questão da Mulher Trabalhadora

As mulheres participaram desde o inicio da construção e das lutas da CUT, mas as fotos mostram que elas aparecem pouco nas mesas e nos destaques porque ainda era esta a constituição do sindicalismo brasileiro, muito mais masculino do que feminino.

Mas a CUT saiu na frente mais uma vez e foi no 2º Congresso Nacional da CUT (2º Concut), em 1986, que  deu início a política de gênero na CUT e foi criada a Comissão Nacional sobre a Mulher Trabalhadora, uma conquista das mulheres da CUT.

“Conseguimos aprovar a comissão sobre a questão da mulher trabalhadora e isso mostrou justamente que a CUT, como central sindical moderna e progressista, tinha que assumir esta luta pela igualdade entre homens e mulheres e os direitos das trabalhadoras e foi aprovado.”, contou a primeira coordenadora da Comissão da Questão da Mulher Trabalhadora da CUT e primeira secretária da Mulher Trabalhadora na CUT, Didice Godinho Delgado.

Segundo ela, isso só foi possível porque tinha um ambiente mais favorável a introduzir questões consideradas novas no sindicalismo e também porque teve muito apoio e influência dos movimentos feministas.

Didice disse que um dos legados importantes daquele período, que se mantém até hoje, é a união entre as mulheres.

Cedoc/ CUTFormação da Comissão sobre a Questão da Mulher Trabalhadora

“Nós somos mulheres diferentes, de setores diferentes, vindas de regiões diferentes, com ideologias políticas diferentes, do campo e da cidade, mas estávamos convencidas e seguras que precisávamos construir uma atuação unificada. E esta compreensão de que unidas somos fortes foi fundamental para o êxito da organização das mulheres na CUT”, disse ela.

“Atuar de forma unificada possibilitou que as divergências entre as mulheres não comprometessem o objetivo maior, que era e continua sendo, que a CUT seja uma central comprometida com a igualdade de gênero, na luta contra o racismo, por direitos da população LGTBQI e contra todo tipo de discriminação. Legado importante e que a CUT tem dado ao sindicalismo a nível mundial”, conclui Didice.

 

Minas Gerais com vanguarda e protagonismo

Em Minas Gerais, como um espelho da catástrofe nacional, a CUT Minas, criada em 1984, faz o enfrentamento com um governo com a mesma política de sucateamento do Estado, com suspensão de concursos públicos, privatização em massa, cortes nos investimentos em educação, saúde e políticas públicas. Zema supera até mesmo as políticas neoliberais de Aécio Neves e Antônio Anastasia. Deste modo, a união dos movimentos sindical, sociais e estudantis, articulada em Minas Gerais, faz-se, mais necessária do que sempre foi.

A CUT Minas, em 2012, se consolidou também como vanguarda na luta pela igualdade de gênero ao eleger a primeira mulher à presidência, com uma chapa encabeçada por Beatriz Cerqueira, então coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores e das Trabalhadoras em Educação (Sind-UTE/MG), e com um histórico de enfrentamentos com seguidas administrações neoliberais no Estado. A luta teve como ápice a greve de 112 dias da educação, em 2011, que foi o embrião da articulação Quem Luta, Educa e da união com movimentos sociais e estudantis que resultou na derrota dos neoliberais na eleição para o governo estadual em 2014.