Escrito por: Rogério Hilário

CUT/MG realiza Plenária de Sindicatos com  Sérgio Nobre e Vagner Freitas

Presidente e vice da Central debatem com dirigentes os próximos desafios da conjuntura nacional e os enfrentamentos com o projeto da extrema direita e ultraliberal no Brasil e em Minas Gerais

Rogério Hilário

Com análises de conjunta do presidente da CUT Nacional, Sérgio Nobre, o vice-presidente Vagner Freitas, e Soniamara Maranho, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG) realizou, nesta terça-feira (21), Plenária de Sindicatos CUTistas. O debate, que contou com representantes das categorias de todo o Estado, abrangeu as próximas lutas no enfrentamento com os governos ultraliberais e de extrema direita, federal e do Estado, com Jair Bolsonaro e Romeu Zema, em defesa dos direitos e conquistas da classe trabalhadora, da democracia, do patrimônio do povo brasileiro. Na Plenária foram apresentadas as propostas do MAB, que realiza a Marcha dos Atingidos de Belo Horizonte e Brumadinho desde segunda-feira (20), e terá, na sexta-feira (24), a presença do presidente Lula em Betim, para seminário e ato, além de participações em atos no sábado (25), dia em que completa um ano o crime da Vale; o Dia Nacional de Mobilizações e Lutas de todas as categorias, em 18 de março; o 1° de Maio, Dia das Trabalhadoras e dos Trabalhadores, ampliado, com mais manifestações nos municípios; e greves em defesa dos direitos e conquistas, pela educação e contra as privatizações.

As análises de conjunturas e o debate foram coordenados pelo atual presidente da CUT/MG, Jairo Nogueira Filho, e pela secretária-geral Lourdes Aparecida de Jesus.  Da CUT Nacional, participaram também da atividade o secretário de Cultura, José Celestino (Tino), e de Meio Ambiente, Daniel Gaio. Nobre, Freitas e Gaio aproveitaram para conhecer a nova sede da Central, que fica na rua Pedro de Carvalho Mendes, Bairro Colégio Batista, em Belo Horizonte.

Convidada a compor a mesa por Jairo Nogueira Filho, Soniamara Maranho revelou que o MAB está num processo de construção de estratégias para este ano, depois de quatro anos do crime da Vale e BHP Billiton, em Mariana, e quando se completa um ano do crime da Vale em Brumadinho.

“Estamos num processo de luta e resistência, em um período que se elegeu Jair Bolsonaro. Nos qualificando para a cultura de resistência no dia 25 de janeiro, botar a cara neste momento de ofensiva. Enfrentamos empresas poderosas, que tiveram o maior lucro no ano passado. E nada fizeram em Mariana e Brumadinho. Precisamos mexer na estrutura política de nosso povo, pois a maioria da população de Mariana votou em Bolsonaro. Temos que organizar o povo. Vamos trazer o Lula para seminário e ato, na sexta-feira, dia 24, em Betim (Citrolândia). Mas o governo Zema está se articulando para trazer Bolsonaro, lançar um pacto e chantagear as famílias das vítimas, quando estaremos em atividades, em Brumadinho, em solidariedade e reconhecimento”, afirma Soniamara.

“Duzentas e setenta e duas pessoas estão mortas. Foram registrados dois abortos. Em Mariana, foram 20 mortos. E a própria criminosa é que está gerindo o atendimento às vítimas. Em Marina não se construiu uma casa para os desabrigados. Em Brumadinho nossa reivindicação é de que as buscas não parem. O governo do Estado diz que a Vale é uma joia da Mineração. E ainda falta encontrar os corpos de 11 pessoas, que, para nós e as famílias, são 11 joias. Os atingidos precisam fazer parte do processo de negociação. E para pressionar, temos trazido para a porta do Tribunal de Justiça (TJMG), centenas de atingidos para protestar. Não temos marco legal de tratamento de atingidos. As empresas é que definem a média de valores das indenizações pelos imóveis perdidos. Quem coordena o modelo energético são os acionistas”, diz a coordenadora do MAB em Minas Gerais.

Soniamara Maranho denuncia que os crimes “trouxeram insegurança à Região Metropolitana de Belo Horizonte”. “Pelos estudos, nove barragens podem se romper. O rompimento pode contaminar os mananciais e não teremos água em Belo Horizonte. Os moradores de Barão de Cocais, Congonhas e Itatiaiuçu já me disseram que escolhem quem vai ficar acordado e vigiar a barragem. Foram criadas rotas de fuga. É uma pressão psicológica muito forte. Em Congonhas, a barragem está acima de 5 mil pessoas. Em Macacos, aqui pertinho, a tensão é constante. A empresa está se lixando para isso. Para ela, o rompimento serve para ‘limpar’ a região, que tem potencial de mineração para mais 150 anos.”

“Afinal, que desenvolvimento vamos querer?”, questiona a coordenadora do MAB. “Minas Gerais, com os dois crimes, tem contribuído para a reflexão. Os direitos estão sendo violados porque a Vale tem força para coagir e governos federal e estadual tentam se apoderar da pauta, para se dizerem vitoriosos, mesmo com a contaminação das bacias dos rios Paraopeba e Doce. Há casos de contaminação com metais pesados, que desestabiliza o corpo humano. A ameaça é tal que estão desaconselhando as mulheres de engravidar. A pauta da saúde é muito forte. Por tudo isso estamos em marcha, de 300 km, até Brumadinho. Faremos num seminário na sexta-feira, dia 24, com representantes de 15 países. No encerramento, teremos ato com a presença de Lula. Lula vai dormir com os atingidos. Ele quer ouvi-los. As 19 horas, teremos missa com Dom Walmor. Participaremos de atos no sábado, 25, em Brumadinho e iremos até Córrego do Feijão. Estamos trabalhando contra a violação dos direitos humanos e pela retomada da democracia.”

Diante do momento no país, Vagner Freitas, vice-presidente da CUT Nacional, recomenda: “O principal desafio é encorajar as pessoas. É levar esta mensagem. O momento é dificílimo e não podemos esperar soluções em curto prazo. O governo Bolsonaro tem problemas, mas vai, juntamente com empresários, Congresso Nacional e mídia tentar convencer a sociedade que  o Brasil está bem economicamente. Vão apresentar crescimento do PIB. O grande centroavante do governo ultraliberal é Paulo Guedes, amparado pelo poder econômico. Toda pauta dele passou no Congresso Nacional, o que não aconteceu em outros governos. Quem detém o poder econômico e a burguesia estão felizes da vida. O maior ganho deles pode ser nosso trunfo, porque isso vai aprofundar a miséria do povo, que está excluído das políticas das empresas”, analisa.

Para o dirigente CUTista, “é hora de estar com Lula”. “Estamos com o presidente Lula. É o momento de ele se levantar. Por que ele vai percorrer o Brasil? Para se fortalecer e levantar a militância, que tem que lutar junto. Na agenda de Lula não foi possível incluir a visita à nova sede da CUT/MG. Faremos uma agenda regresso a Minas e ele virá aqui. A casa é belíssima. Boa nova gestão e esperemos que vocês ajudem Sérgio Nobre a fortalecer ainda mais a CUT.”

O presidente da CUT Nacional, Sérgio Nobre, define como fundamental “encarar o desafio de crescer na atual conjuntura”. “Nosso mandato todo vai se dar durante o governo Bolsonaro. Este ano será fundamental. Temos que entender este governo. Quando a eleição acabou, muita gente da esquerda entrou em pânico, pensando que ele seria capaz de arregimentar uma multidão. Ele vem se deteriorando muito rápido. Quando houve o fechamento da Ford, falei com o general Mourão. Ele me disse que o problema de Bolsonaro é que ele criou um personagem e ganhou a eleição. Se ele se desfaz do personagem, perde a credibilidade. E vem perdendo em aprovação. Dizem que o Brasil vai se dar bem na reunião de Davos, porque ele não vai lá.”

“Para quem apoia o governo Bolsonaro o que importa é a agenda econômica. Por trás dele estão as forças financeiras, as multinacionais e os militares. Estes parceiros já buscam alternativas, pois, para a direita, o desempenho da economia é fundamental para a eleição de 2022. Nós temos um projeto político. Mas a maioria da população tem projeto de vida, de ver o filho na universidade, ter casa, carro. Sucesso na economia é fundamental. Foi assim na Alemanha. O debate é se vai ter recuperação da economia ou não. Já tem jornal prevendo que o PIB crescerá 2,5%. A dúvida é se isso vai se refletir na vida da população. Não significa que terá impacto na vida de trabalhadoras e trabalhadores. Esta semana, Marilena Chauí fez a defesa da democracia. Ela disse que um governo fascista não se implanta de uma hora para outra. A primeira vítima é a classe trabalhadora. Chauí classifica a democracia não é aquela que promove eleições periódicas, é a que gera direitos. Foi o caso dos governos Lula e Dilma. O povo fez três refeições por dia, os pobres entraram na universidade”, lembra Sérgio Nobre.

“O único interesse dos bancos é que não tenha convulsão social. Numa palestra com presidentes do Bradesco e Itaú, eles falaram 20 minutos cada. Foi horroroso. Para eles, crescimento com inclusão não existe, pois cria um estado gigantesco. Como se o povo não tem nada, como crescer sem transferência de renda? Eles não podem governar. O projeto deles não é o nosso. Trabalhadoras e trabalhadores têm que entender isso”, diz Sérgio Nobre

“No processo de globalização, os países estão divididos em dois grupos: os que produzem tecnologia e os que vão ser compradores, com salário baixo e desorganização sindical, para atender as multinacionais. É a desregulamentação do mercado de trabalho. O Guedes é ultraliberal. Para ele, o estado não tem papel nenhum. Isso é grave. Na história do desenvolvimentismo no Brasil, os períodos foram construídos pelo Estado. A iniciativa privada nunca investe, pois 98% são microempresas e 2% multinacionais, que não pensam no Brasil. Guedes quer privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil. Estão desmontando a Fiocruz, a Embrapa, o Inpe desmontando o conhecimento. O Brasil está importando satélites da China”, afirma o presidente da CUT Nacional.

“O povo tem que entender o que vai acontecer com o preço da água, da energia, se tudo for privatizado, as perdas que vai sofrer. Temos que falar isso não só nos locais de trabalho, mas em todos os lugares. O número de trabalhadores está diminuindo. Estivemos outro dia no Brás, com carro de som, e conversamos com a população. Distribuímos 100 mil panfletos. Precisamos conversar com o povo nos bairros. Usar a música, o teatro para denunciar tudo isso. A cultura é muito importante. Ir para as feiras, mostrar que não querem destruir só as estatais, mas a saúde, a educação. Desmanchar o SUS”, acrescenta.

Para Sérgio Nobre, Lula “é a personificação desta luta”. “Temos que provar que Lula é inocente. Que a Lava Jato jogou a economia para baixo e foi uma estratégia para o golpe contra Dilma e a prisão do Lula, para que não vencesse as eleições de 2018. O desafio não é vencer a eleição, é governar e desfazer o que fizeram. Lula personifica a nossa luta. Não querem que ele volte. Nossa tarefa é difícil, mas é nos momentos de dificuldade que damos um grande salto. E vamos construir no dia 18 de março, o Dia Nacional de Mobilizações e Lutas de todas as categorias, com uma greve nacional, paralisações e grandes atos. E um 1º de maio em todos os municípios para conversar com o povo.”

Jairo Nogueira Filho, tendo como referência sua experiência como eletricitário e dirigente do Sindieletro-MG,  sugere que é preciso aproximação com os terceirizados, categoria em grande número na Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), e retomar o diálogo com os “territórios da periferia”. “Nem sempre eles entendem o que falamos. Temos que reaprender a conversar com eles. Se a aproximação acontecesse desde o primeiro dia de mandato, teríamos impedido o impeachment de Dilma e outras pautas do neoliberalismo e da extrema direta”, avalia.

Intervenções e análises 

Durante as intervenções realizadas após as análises de conjuntura, a secretária de Políticas Sociais e Direitos Humanos da CUT/MG, Yara Cristina Batista Diniz, defendeu que o Sistema Único de Saúde (SUS) precisa ser inserido em todos os debates para as próximas lutas. “Não podemos deixar de falar do SUS. Era o SUS que estava no primeiro momento do rompimento da barragem em Córrego do Feijão, em Brumadinho. E o trabalho continua com adoecimento, desemprego, informalidade e tendências ao suicídio. Anvisa, SUS, controle social são necessários na discussão da democracia e saúde, porque, nos anos 1980, apenas quem tinha carteira assinada tinha direito à saúde pública. Uma portaria, aprovada em 12 de dezembro de 2019 pelo governo federal, acaba com o princípio da integralidade da saúde, a participação dos conselhos e dos trabalhadores (2.979). Ela atinge a saúde como direito humano.”

Lionete Santos Pires, da Secretaria de Assuntos do Interior do Sind-Saúde/MG, também defendeu a valorização do Sistema Único de Saúde. “Precisamos levar aos trabalhadores rurais a importância do SUS.”

Cristina Del Papa, do Sindifes e da  Direção Estadual da Central, lembrou que as universidades estão “intrinsicamente ligadas ao Sistema SUS”. “São mais de 40 hospitais universitários. Saúde e educação estão ligados. Quando há cortes nas verbas da educação, eles atingem a saúde e o SUS. As bases estão mobilizadas. Temos que ser proativos, agir o quanto antes, para que não tenhamos mais perdas, e construir uma greve por tempo indeterminado.”

“No dia 5 de fevereiro, faremos um movimento inédito em Minas Gerais. Uma paralisação na primeira semana de aula. O governo Zema está num processo de desmonte da escola pública. O processo de matrícula pela internet separa irmãos, leva alunos para escolas distantes de suas casas. Zema quer transformar a escola pública em uma empresa que dá lucro. Transforma o aluno em um candidato à vaga. Por causa disso, estamos radicalizando, com uma greve por tempo indeterminado contra este clone de Jair Bolsonaro, contra o regime de recuperação fiscal, pelo pagamento do piso nacional da educação, que Zema não paga. O governo bate cabeça o tempo todo, é fraco, frágil. O que está fazendo é surreal, num Estado em que milhões estão excluídos da internet”, denunciou Denise Romano,  coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores da Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG) e da Direção Estadual da CUT/MG.

Para Robson Gomes Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Empresas de  Correios de Minas Gerais (Sintect-MG) e da Direção Estadual da Central, a conjuntura nacional é influenciada pela internacional, com as mobilizações na Europa e os golpes na América Latina. E é necessário ampliar o debate sobre os ataques que a classe trabalhadora vem sofrendo. “Vejam absurdos como a carteira verde e amarela. Precisamos organizar a luta nacional. A Dataprev vai entrar em greve, contra a privatização. Todos temos que participar deste movimento. Temos que organizar a luta contra a privatização das estatais.”

Rogério Mamão, do Sindicato dos Trabalhadores Ativos, Aposentados e Pensionistas do Serviço Público no Estado de Minas Gerais (Sindsep-MG), ponderou que a luta contra o neoliberalismo e o ultraliberalismo tem de ser priorizada, “num processo que resulte em um acúmulo de forças”. “As reformas, sem dúvida, vão ser aprofundadas e não podemos nos limitar a perspectivas unicamente eleitorais. Temos a luta da educação, no Estado, no dia 5 de fevereiro, o enfrentamento pela aposentadoria digna. A reforma da Previdência ainda está em discussão, para os setores privado e público. Construir um grande movimento até o dia 18 de março, pode não ser o ideal.”

Na opinião de José Celestino, o momento é de reforçar o papel da cultura no movimento sindical. “A cumplicidade com a cultura pode contribuir, e muito, para a contrainformação. SBT, Globo, Record e a mídia em geral dizem que a economia vai bem. Nada de positivo do PT, da esquerda, é divulgado. A proposta de Zema é a destruição do Estado. E isso não se comenta. O Novo, partido de Zema, é um retrocesso. Vem aí a discussão da reforma sindical, da reforma administrativa. O que determinados governadores estão defendendo é a alíquota de 14% para contribuição previdenciária e retirada da melhoria do serviço público para a população. Com a cultura, podemos denunciar tudo isso e falar a língua da povo e de nossas bases.”

Lucimar de Lourdes G. Martins, secretária da Mulher Trabalhadora da CUT/MG e da Fetraf-MG/CUT, também defendeu dialogar mais com as bases e a população. “Precisamos discutir, em qualquer lugar,  a perda de direitos, numa linguagem bem acessível, para que todas e todos tenham uma ideia do que está acontecendo. O agricultor precisa saber como é afetado pela reforma da Previdência, pela reforma trabalhista, que estamos vivendo um retrocesso.”

Para Leopoldino Ferreira de Paula Martins, da Direção Colegiada do Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro-MG), quando o governo anuncia que vai fechar unidades da Petrobras, “a resistência é uma greve geral do serviço público”. “Com fechamento de uma base no Paraná, a a Petrobras vai demitir mil petroleiros. As pautas continuam acontecendo. Não vamos aceitar mil demissões, mesmo que, como sempre acontece quando deflagramos uma greve, a multa é alta por dia parado. Não podemos esperar 18 de maio. A greve está aprovada para 1° de fevereiro. Se não lutarmos, este paradigma de multas e criminalização pode se transformar em repressão”, diz Alexandre Finamori Freitas Baptista, também do Sindipetro-MG.

“Faz escuro, mas eu canto, porque a manhã vai chegar.” Patrícia Pereira, da Subsede de Contagem do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE/MG), citou o poeta Thiago de Mello para iniciar a sua fala. “Vencer é enfrentar as adversidades. Brumadinho é a síntese de como acontece a barbárie como modelo de Estado. A Previdência, acredito, não é uma luta perdida, por aquilo que ainda não foi aprovado em âmbito nacional ou para os estados. A direita se materializou, nas medidas pós-Bolsonaro, e precisamos sintetizar a resistência. Organizar os que são o alvo do fascismo, como as mulheres negras, os pobres. E com muita poesia, porque a manhã há de chegar.”

Considerações finais

Soniamara Maranho, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), alertou, em suas considerações finais, que “o capital internacional já fez um mapeamento das reservas naturais do país capaz de garantir a lucratividade. É por isso que o projeto ultraliberal dos governos federal e estadual propõe privatizar tudo, de acordo com a disputa financeira internacional protagonizada pelos Estados Unidos. E disso depende a retirada de direitos dos trabalhadores brasileiros, para padronizar as relações de trabalho em todo mundo. Para produzir,  tem que retirar direitos. As lutas pela água, a biodiversidade e o meio-ambiente está vinculada com a pauta da classe trabalhadora. Por isso, é essencial voltar às bases, nos reorganizar para dialogar as pautas populares, fortalecer a nossa categoria e criar uma estratégia nacional, pois o braço direito do capital está se organizando. Pátria livre, venceremos.”

Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a conjuntura internacional é muito importante, levando-se em conta que neste cenário tanto a Europa quanto a China estão em uma guerra comercial com os Estados Unidos, priorizados pelo governo de extrema direita de Jair Bolsonaro. “A China é importante. Com o planejamento de Estado, tem como meta erradicar a pobreza. E, em pouco tempo, vai superar os Estados Unidos como potência econômica, enquanto Donald Trump tem um governo impopular. Temos que olhar o cenário. O governo Bolsonaro se estabeleceu com apoio da CIA, da mídia, do poder econômico. Não vamos ganhar por nocaute a luta com a direita. Precisamos construir uma estratégia e não podemos errar. Não podemos fazer uma greve geral, ou qualquer movimento de massa, sem apoio popular, sem convencer a população, que precisa estar do nosso lado. Temos motivo de sobra para parar. A extrema direita e seus apoiadores convenceram uma parcela da população com o ilusionismo de que a corrupção começou nos governos Lula e Dilma. Teremos que desconstruir isso.”

Sérgio Nobre acredita que os ataques vão continuar, principalmente sobre o movimento sindical, porque o governo de Jair Bolsonaro tem em mente que se destruir o movimento sindical e os sindicatos vai acabar com a CUT. “Com a reforma sindical, que está na pauta do Congresso Nacional. Vendem que basta a mensalidade para os sindicatos e outras entidades sobrevivam. Mas o que querem é nos desorganizar, nos destruir. Estamos resistindo. No Congresso, uma minoria conhece o sindicalismo. É uma batalha que não podemos perder e podemos impedir essa reforma. Podemos formar uma maioria a nosso favor, pois o fascismo, quando se instala, primeiro destrói o movimento sindical, depois os partidos. Vamos montar um time para atuar no Congresso e temos entidades que são muito respeitadas pelos parlamentares.”

Ao se despedir de todas e todos na Plenária, o presidente da CUT Nacional lamentou não poder ficar por alguns dias em Belo Horizonte e disse que gostaria de ir a todas as CUTs estaduais. “Não conseguiremos em pouco tempo visitar todas. Mas faremos o possível para  debater, socializar as pautas. Volto em outro momento. O segredo da vitória é ter um bom time. A CUT vai continuar sendo a maior Central sindical da América Latina pela qualidade da militância que tem.”

Nas considerações finais, Vagner Freitas, vice-presidente da CUT Nacional, fez um alerta: “Hoje nós temos pela frente uma direita popular organizada no Brasil. Há dois anos, ninguém se assumia: eu sou direita. O nível de enfrentamento para os sindicatos de base ficou mais difícil. Há mais disputa. Mas, a solução não vem das cúpulas sindicais. Vem das bases que elas representam. A célula-base é o sindicato. O discurso de Bolsonaro tem eco na sociedade brasileira e nas nossas bases. Não faz debate sobre modelo econômico desde a primeira eleição de Lula. Eles querem discutir costumes e comportamento. Para a extrema direita, apoiada pelo poder econômico, as pautas civilizatórias são desnecessárias. E muitos acreditam nisso.”

“Quando debatemos a Lava Jato como processo de retrocesso, somos rechaçados na maioria das vezes. Para eles, a operação combateu a corrupção. Moro, Delagnol e Lava Jato fazem parte de uma quadrilha. Muitos não aceitam isso. Em pesquisa feita pela Contraf-CUT, 80% de trabalhadoras e trabalhadores consideram que os sindicatos têm credibilidade, quando vai discutir pauta sindical – emprego, condições de trabalho, reajuste salarial. Se o assunto é política, relacionam como corrupção e partido. Se dissermos quantos bilhões e os empregos que a Lava Jato ceifou, vamos sofrer. Por isso precisamos de um estudo com embasamento técnico sobre o assunto e assinado por uma entidade respeitada. Cinco, três, dois anos são pouco. Com este tempo, não vamos vencer nem sermos derrotados. Mas o desgaste do governo Bolsonaro é evidente. Em um ano parece que já vivemos 50. Mas a célula desta luta são os sindicatos, a CUT foi construída por eles”, acrescentou o vice-presidente da CUT Nacional.

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