Escrito por: Rogério Hilário, com informações da ALMG

Defesa da liberdade de imprensa marca inauguração de Sala Dídimo Paiva na ALMG

Entidades repudiam ataques a jornalistas, condenam a perseguição a Glenn Greenwald e o autoritarismo

Rogério Hilário

A defesa dos valores democráticos, entre eles a liberdade de imprensa e de expressão, o repúdio aos ataques contra jornalistas e a garantia constitucional do sigilo da fonte, quando foi citada a perseguição a Glenn Greenwald, marcaram os discursos da solenidade de inauguração da Sala de Imprensa Jornalista Dídimo Paiva, localizada ao lado do Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta quarta-feira (31).

A cerimônia contou com as presenças de inúmeros jornalista, da viúva do homenageado, Maria Aparecida Paiva, e de deputados estaduais e federais. Ela lembrou que Dídimo sempre lutou pela moralidade e dignidade da categoria, e que foi um dos autores do Código de Ética da Federação Nacional dos Jornalistas, aprovado pela categoria em 1985.

A inauguração do novo espaço, segundo o presidente da Assembleia, Agostinho Patrus (PV), é uma demonstração da importância que a imprensa tem para o Legislativo mineiro. Não por acaso a sala recebeu o nome do jornalista Dídimo Paiva, um símbolo da luta dos jornalistas mineiros pela redemocratização do país. Dídimo, falecido no começo de 2019, foi presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) de 1975 a 1978.

“Se queremos uma sociedade livre e democrática, temos que dar importância e relevância à imprensa. Os ecos de autoritarismo não têm nesta Casa nenhuma ressonância. A Assembleia de Minas preza a liberdade e a democracia, valores que são de todos os mineiros”, afirmou Patrus.

O parlamentar exaltou a dedicação de Dídimo Paiva à profissão, destacando a sua atuação em defesa das liberdades democráticas, da liberdade de imprensa e dos trabalhadores.

Lembrou passagens da trajetória de Dídimo Paiva na imprensa mineira, como a sua participação no jornal Binômio e a coluna Notas do Dia, “referência diária na política”. E a sua importância como representante do chamado “Novo Sindicalismo” (surgido no País no final dos anos 1970 e início dos 1980). Exaltou também a sua atuação no movimento sindical e ressaltou “o espírito humanista, a coragem, a liberdade, a independência, a busca da verdade e o compromisso com os trabalhadores”.

Os mesmos valores foram destacados pela viúva do homenageado. Agradecendo a homenagem ao marido, Maria Aparecida enfatizou que Dídimo “sempre lutou pela ética, moralidade e dignidade da categoria” e lembrou que ele foi um dos coautores do Código de Ética da Federação Nacional dos Jornalistas, aprovado pela categoria em 1985. “Emocionadíssima, agradeço, em meu nome, dos meus filhos, netos e bisnetos a homenagem prestada ao imortal Dídimo”, concluiu.

A exemplo do presidente da Assembleia, representantes das entidades de imprensa convidados para a cerimônia também repudiaram as críticas e ataques contra jornalistas. A imprensa tem noticiado, nos últimos dias, declarações do presidente Jair Bolsonaro contra Glen Greenwald, do site Intercept Brasil, responsável pela divulgação de supostas conversas entre o atual ministro da Justiça, Sérgio Moro, enquanto juiz, e procuradores da Operação Lava Jato.

A presidenta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG), Alessandra Cezar Mello, destacou que “a imprensa é porta-voz do cidadão” e condenou “esse momento de ataque aos jornalistas e à liberdade de expressão”. Ela também elogiou a trajetória de Dídimo Paiva como jornalista e sindicalista, e agradeceu pela inauguração do novo espaço para a imprensa “na casa do cidadão”.

O presidente do Centro de Cronistas Políticos e Parlamentares de Minas Gerais (Ceppo), jornalista Acir Antão, destacou que Dídimo Paiva foi “um dos mais combativos jornalistas” de seu tempo, dedicando sua vida à profissão. Acir Antão também enfatizou a importância do novo espaço para o trabalho jornalístico, lembrando que, em outras épocas, grandes entrevistas foram realizadas na antiga sala de imprensa do Parlamento mineiro, com figuras políticas tão relevantes para a História do País como o ex-deputado Ulysses Guimarães, do histórico MDB.

O ex-presidente do Ceppo, jornalista Carlos Lindenberg, foi um dos que mais condenaram os ataques à imprensa. Citando explicitamente Glenn Greenwald, defendeu o direito do jornalista ao sigilo da fonte.

“Atravessamos um momento inquietante e até perigoso, de certa maneira. A perseguição contra Glenn Greenwald é marcante e não podemos baixar a guarda. Temos que estar vigilantes e atentos. Esse caso é emblemático e precisamos lutar pela manutenção do sigilo da fonte garantido pelo artigo 5º da Constituição”, disse Lindenberg.

Ainda segundo Lindenberg, ao mesmo tempo em que a Casa parlamentar de Minas abre suas portas para os jornalistas, “a liberdade de imprensa corre risco”. “Conclamamos que todos estejam atentos e vigilantes”, afirmou, agradecendo ao presidente da Assembleia pela abertura do espaço e enaltecendo a trajetória profissional de Dídimo Paiva.

Também participou da cerimônia, entre outros convidados, o representante da Associação Mineira de Rádio e Televisão (Amirt), Luciano Pimenta.

Outro espaço reservado ao trabalho dos jornalistas na ALMG, a Sala de Imprensa Jornalista Wander Moreira, localizada no térreo do Palácio da Inconfidência, teve sua estrutura renovada recentemente.

Dídimo Paiva

O novo espaço de trabalho e convívio da imprensa dentro da ALMG homenageia o jornalista Dídimo Paiva, falecido em março deste ano, aos 90 anos. Ele atuou por mais de cinco décadas na imprensa de Minas Gerais, exercendo diversas funções dentro do jornalismo, de repórter a editor.

Natural de Jacuí, no Sul de Minas, apenas nos Diários Associados, onde encerrou a carreira como editorialista, Dídimo foi editor dos cadernos Nacional, Internacional e Opinião. Entre 1975 a 1978, foi presidente do SJPMG e também um grande defensor da liberdade de expressão.