Escrito por: Rogério Hilário, com informações da CNTTL e Agência Sindical
A mobilização, chamada de “Breque dos apps”, tem por objetivo denunciar o aumento da jornada, redução na remuneração e falta de direitos trabalhistas
Nesta quarta-feira, dia 1º de julho, motociclistas, motoboys e motofretistas que trabalham para os aplicativos (Uber, Rappy, Ifood, Loggi, James, entre outros) entram em greve em 18 estados por melhores condições de trabalho e contra a precarização. A mobilização, chamada de “Breque dos apps”, tem por objetivo denunciar o aumento da jornada, redução na remuneração e falta de direitos trabalhistas.
O movimento está sendo organizado pelas redes sociais e cresce a cada dia: trabalhadores de aplicativo da Argentina e de mais cinco países também irão parar.
Nessa luta, também está a Federação Nacional dos Trabalhadores Motociclistas Profissionais e Autônomos (Fenamoto), filiada à Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), que anunciou a mobilização de mais de 7,5 milhões de trabalhadores no Brasil.
Visando construir políticas para ajudar a categoria, lideranças da CNTTL, da Fenamoto e do SINDMAAP/DF (Sindicato dos Motoristas Autônomos de Transporte Privado Individual por Aplicativos no Distrito Federal) debateram os impactos da pandemia de COVID-19 em LIVE da Confederação - Modal-LIVE #7 - no dia 22 de junho.
O debate contou com a presença de Rafael Grohmann, professor da UNISINOS e Doutor em Ciências da Comunicação da USP, que coordena uma pesquisa internacional que visa pressionar as plataformas digitais por melhores condições de trabalho.
O presidente estadual da Fenamoto, Benedito Carlos dos Santos, mais conhecido como Natu, disse que nesta quarta-feira (1º) todos os motociclistas profissionais e autônomos irão desligar seus aplicativos como forma de protesto à falta de atenção das empresas de plataformas às reivindicações da categoria.
“Nós queremos ter condições de sentar na mesa com os representantes dos aplicativos e discutir todos os aspectos, desde a precificação, o valor de taxas e as condições de saúde, que são precárias. Exceto aqueles que trabalham com E-commerce, quem trabalha com delivery não pode tomar água, muitas vezes não têm no local ou não pode beber e ainda é proibido de usar o banheiro do estabelecimento que fez a entrega”, conta Natu.
Outras reivindicações são o aumento do valor por quilômetro rodado, bem como valor mínimo e o fim dos bloqueios indevidos. “No passado tinha quilometragem completa, hoje o APP só paga até o ponto de entrega. Isso sem contar o pedágio que o profissional tem que pagar do bolso. Para os aplicativos está tranquilo, porque enquanto não unificamos a pauta, teremos esses obstáculos”, relata Natu.
O sindicalista ressalta que os motociclistas lutam pelo direito a ter recursos, hoje se são bloqueados não podem trabalhar, e de fazer uma acareação com o aplicativo, para se apurar a verdade.
“Nós pretendemos também levar nossa pauta de reivindicações até a entidade representativa dos aplicativos para debater um acordo coletivo, ou individualmente se for o caso”, conta.
A Fenamoto negocia com a ABO2O (Associação Brasileira Online to Offline) que representa 93 plataformas digitais, entre elas, Uber, Rappy , Ifood, 99 e outras.
Organização internacional
Na Modal-LIVE da CNTTL, o professor Rafael Grohmann falou de experiências internacionais de entregadores de aplicativos que criaram uma plataforma de propriedade dos trabalhadores.
“Uma delas é Mensakas de Barcelona, que surgiu de uma greve que engajou milhares de entregadores do aplicativo Deliveroo em várias cidades da Europa em 2017. Dessa luta coletiva foi fundado o sindicato RidersXDerechos”, explica.
A iniciativa foi de 30 dos entregadores grevistas demitidos pela Deliveroo que iniciaram um processo de auto-organização e lutas coletivas por seus direitos trabalhistas. Da organização no sindicato nasceu a cooperativa Mensakas.
A experiência dos espanhóis animou a Fenamoto que está conversando com o professor Rafael para construir uma proposta semelhante de organização no Brasil.
Pesquisa da Unicamp
Pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) confirma a piora significativa nas condições de trabalho, no aumento da jornada e queda na remuneração. O levantamento on-line mostra que 68,9% dos entregadores tiveram queda de ganhos durante a pandemia.
Os que ganhavam em torno de um salário mínimo (R$ 1.045,00) antes eram 17%. Agora, essa proporção dobrou (34%). Ou seja, 1/3 desses trabalhadores ganham até um salário mínimo por mês.
Segundo o presidente do Sindimoto-SP, Gerson Silva Cunha, os entregadores enfrentam uma precarização muito grande, agravada pela pandemia. “Já denunciamos ao Ministério Público. Esses trabalhadores lutam por direitos básicos como alimentação”, ele conta.
Pauta
Os entregadores reivindicam transparência sobre as formas de pagamento, aumento dos valores mínimos para cada entrega, fim dos sistemas de pontuação, bloqueios e exclusões indevidas. A categoria também exige seguro de vida, de acidentes e um vale para a compra de máscaras, luvas, álcool em gel e outros equipamentos de proteção.
Fome
“A gente vai atrás dos direitos um por um. Vale-alimentação, plano de saúde, férias, 13º”, afirma o líder do movimento, Paulo Roberto da Silva Lima, o Galo. Ele completa: “A alimentação é a coisa que mais dói. Ter que trabalhar com fome, carregando comida nas costas”.
Nesta terça (30), às 16 horas, a live da Agência Sindical recebe o presidente do Sindimoto-SP, Gerson Silva. Ele vai falar sobre a mobilização, chamada de “Breque nos apps”, e as condições de trabalho dos entregadores. A transmissão é feita pela nossa página no Facebook. Não perca.