Escrito por: Agência Brasil
Mobilização é coordenada pelo Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP)
Cerca de 50 alunos passaram a noite no pátio. Eles se dividirão em diversas comissões para cuidar de questões como segurança, alimentação e comunicação. A mobilização é coordenada pelo Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP), entidade representativa dos estudantes.
A presidenta do CAAP, Ana Carolina Oliveira, explica que não há objetivo de atrapalhar as aulas e que se trata de uma ocupação cultural. A finalidade é marcar uma posição contra o processo de impeachment em curso no país e a posse do presidente interino Michel Temer. "Entendemos que houve um golpe no país e não vamos reconhecer esse novo governo."
A ocupação foi aprovada em uma assembleia realizada pelo CAAP no dia 4 de maio e que pretendia discutir o processo de impeachment. A realização dessa assembleia chegou a ser proibida por uma liminar, concedida pela juíza Moema Miranda Gonçalves, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), decisão que gerou uma reação negativa de professores, estudantes e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O CAAP denunciou a medida como censura. Seus advogados entraram com recurso e o desembargador Marco Aurelio Ferenzini derrubou a liminar. "Essa decisão foi tida por muitos da comunidade jurídica como uma das mais autoritárias e antidemocráticas da nossa história", diz o advogado dos estudantes Henrique Napoleão. A ocupação também foi motivada pela intimação pela Polícia Federal para depor da professora da Faculdade de Direito, Maria do Rosário Barbato, que é italiana, por práticas políticas e sindicais.
A mobilização ganhou o nome de Ocupação Mata Machado, em referência ao ex-presidente do CAAP, José Carlos da Mata Machado, assassinado pela ditadura militar. De acordo com Ana Carolina, a diretoria da faculdade já está sabendo e não colocou nenhum empecilho. "Acho que todos estamos preocupados com o futuro da universidade pública. Com a volta das políticas neoliberais, podemos ver novamente um processo de sucateamento do ensino superior", avalia. Procurado nesta manhã, o diretor da instituição Fernando Gonzaga Jayme ainda não foi localizado.
A ocupação começou na noite de quinta-feira (12) com uma reunião, em que os estudantes puderam fazer uso livremente do microfone. Sabrina Carozzi, estudante de Ciências do Estado, disse não compreender alguns colegas que apoiaram o impeachment. "O curso de ciências do Estado nasceu com o Reuni, o programa de expansão de vagas desenvolvido pelos governos de Lula [Luiz Inácio Lula da Silva] e Dilma. Se hoje estamos na universidade, devemos às políticas educacionais dos últimos anos, que promoveram inclusão social", destacou.
Para a presidenta do CAAP, o futuro da ocupação vai depender da mobilização dos estudantes. "Acredito que nesta sexta-feira mais estudantes irão se somar à ocupação. Vamos realizando assembleias para deliberar se continuamos. No fim do dia, teremos uma assembleia."
Na reunião da noite de quinta-feira (12), no auditório da Faculdade de Direito da UFMG, aconteceu um debate sobre "mídia e poder" com professores, midialivristas e integrantes de movimentos sociais. Antes do debate foi exibido o filme "A Revolução não será televisionada" que é um link atual do golpe em curso no Brasil e do golpe de estado aplicado no governo de Hugo Chávez em 2002.
"Tem milhares de debates como esse e ações nas ruas em todo o país acontecendo hoje e nos próximos dias pra denunciar esse golpe. Essa informação está chegando para as pessoas, é por isso que é questão de tempo pra derrubarmos esses golpistas", comentou o professor Juarez Soares.
Anastasia
Em outra deliberação da Assembleia do dia 4 de maio, os estudantes decidiram convidar para um encontro o senador Antonio Anastasia, relator do processo favorável à admissibilidade do pedido de impeachment de Dilma Rousseff. Eles querem ouvir explicações sobre o relatório apresentado pelo parlamentar. Anastasia é professor licenciado da Faculdade de Direito da UFMG.
Uma carta foi encaminhada ao senador, mas ainda não houve resposta. No texto, também assinado por professores da instituição, os estudantes defendem que as denúncias apresentadas contra a presidenta afastada Dilma Rousseff não são consideradas crime de responsabilidade e não justificam o afastamento. "Esse rompimento institucional deixará marcas históricas e dolorosas para o povo brasileiro e encerrará o ciclo democrático da Nova República. Não compactuamos com esta transgressão constitucional e democrática", conclui a carta.
Escracho na sede do PMDB
Também na noite de quinta-feira (12), um grupo de jovens, organizados pelo movimento Levante Popular da Juventude, realizou uma manifestação (escracho) na porta da sede do PMDB, partido do presidente interino Michel Temer. Eles levaram instrumentos de percussão e gritaram contra o impeachment.