Escrito por: Sindicato dos Metalúrgicos de BH, Contagem e Região

Estudo tenta provar violações de direitos humanos na Belgo e na Mannesmann

UNIFESP busca encontrar elementos que comprovem que empresas (hoje ArcelorMittal e Vallourec) colaboraram com a ditadura militar 

Sindicato dos Metalúrgicos de BH, Contagem e Região
O presidente do Sindimet, Geraldo Valgas, com Ignácio Hernandez e sua esposa Adélia Hernandez

 

A Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), por meio do Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF), órgão a ela pertencente, em parceria com o Ministério Público Federal de Minas Gerais, está fazendo um estudo sobre as violações dos direitos dos trabalhadores da Mannesmann e da Belgo-Mineira, no período da ditadura militar (1964-1985).

O objetivo é subsidiar dois Inquéritos Civis, abertos pelo Ministério Público Federal (MPF/MG). Esses Inquéritos têm a finalidade de encontrar elementos que possam comprovar que essas empresas colaboraram com a ditadura e violaram direitos humanos, especialmente de seus trabalhadores, tais como direitos trabalhistas, direito de greve, à integridade física, às mais diversas formas de liberdade.

A expectativa é que, como resultado desse Inquérito, Mannesmann (hoje Vallourec) e Belgo (ArcelorMittal), a exemplo da Volkswagen no ano 2020, sejam responsabilizadas do ponto de vista financeiro pelas violações de direitos ocorridas durante o regime militar. Se provas contundentes forem encontradas as empresas podem ser condenadas a reparações cíveis, tal como indenizações.

O Sindicato dos Metalúrgicos de BH/Contagem e região foi procurado pela historiadora da UNIFESP, Marina Mesquita Camisasca, e pela professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), campus Governador Valadares, Tayara Lemos, para auxiliar no trabalho.

O Sindicato, através do presidente Geraldo Valgas, tem fornecido informações e indicado alguns personagens que vivenciaram o período de ‘chumbo’.

No dia 27 de abril, Geraldo Valgas e as duas pesquisadoras foram até a casa de Ignácio Hernandez e sua esposa Adélia Hernandez.

Com 90 anos, Ignácio Hernandez, autor do livro “Memória Operária”, contou detalhes do que viveu naqueles anos sombrios. “Estive na organização e na linha de frente da histórica greve de 1979 na Mannesmann. A perseguição e a repressão eram terríveis”, disse.

Além de ativista pelos direitos dos trabalhadores, Ignácio Hernandez foi suplente de deputado estadual na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em 1982, presidiu o Partido dos Trabalhadores no estado de Minas Gerais em 1984 e foi secretário de cultura no primeiro mandato do governo Marília Campos, em Contagem.

Ignácio Hernandes nos revelou que já foi padre, mas ao se apaixonar por Adélia largou a batina para se casar.

Este é um dos vários personagens que serão entrevistados para embasar os inquéritos civis.

Se você tiver trabalhado em uma dessas duas empresas nesse período ou souber de fatos que possam corroborar o estudo, entre em contato com as pesquisadoras através dos e-mails: marinacamisasca@yahoo.com.br e tayara.lemos@ufjf.br .