Escrito por: Rogério Hilário
Como uma celebração e ato de luta e resistência contra o racismo no Mês da Consciência Negra, com depoimentos, falas e homenagens a trabalhadoras e trabalhadores negros e militantes das lutas pela igualdade racial e contra o racismo de toda a espécie no Brasil, o Fórum Mineiro Novembro Negro teve uma abertura política e cultural na noite de sexta-feira, 25 de novembro, na sede do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro/MG), em Belo Horizonte.
A atividade, cuja importância se acentuou diante da conjuntura política de um país em que está arraigada uma das formas mais nocivas de discriminação, o racismo estrutural, foi organizada por José Carlos de Souza e Simone Esterlina de Almeida, do Movimento Negro Unificado (MNU) estadual, e conta com o apoio da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), Sindieletro/MG, Cenarab, CTB, Sind-UTE/MG, Sinpro Minas, Sindicato dos Bancários de BH e Região, Sindicato dos Vigilantes e Sindicato dos Metalúrgicos de Betim.
Iêda Leal, coordenadora nacional do MNU e integrante da equipe de transição do governo do presidente eleito, Luís Inácio Lula da Silva, não pôde comparecer ao Fórum, mas envio um vídeo com saudação aos participantes.
A mesa de abertura foi composta pelo presidente da CUT/MG, Jairo Nogueira Filho; Elaine Cristina Ribeiro, secretária de Combate ao Racismo da CUT/MG; Emerson Andrade, coordenador-geral do Sindieletro/MG; José Carlos de Souza (MNU); deputada Andréia de Jesus (PT); Guima Jardim, presidente do PT-BH; e Pai Ricardo, do Cenarab.
“Este lugar tem um simbolismo histórico na luta contra o racismo. Foi Sindieletro que contribuiu para o resgate de 150 trabalhadoras e trabalhadores do trabalho análogo à escravidão praticado pela Sete Engenharia. Eram oriundos de quilombos. A empresa foi multada em R$ 54 milhões por 46 infrações. Eles eram submetidos a uma verdadeira senzala. Mas na Cemig resiste uma das formas mais cruéis de discriminação, o racismo estrutural. É uma raridade um diretor negro. Mesmo assim, incluir a igualdade na pauta do movimento sindical foi uma luta árdua. Grande parte dos militantes que ajudaram a construir esta casa sabe disso”, disse José Carlos de Souza.
“A luta pela igualdade na empresa é primordial. Entre os 200 gestores da Cemig há apenas uma mulher preta em uma empresa do governo do Estado que deveria ser um exemplo de inclusão. Passamos quatro anos sob um governo machista e declaramente racista, que adotou a necropolítica, onde a população preta, as mulheres e a população LGBTQI+ teriam que ser exterminadas. E não se envergonha disso. Vencemos, mas é preciso uma retomada de um projeto que começou em 2003, com o campo progressista, e foi interrompido com o impeachment da presidenta Dilma Rousseff em 2016. Precisamos nos unir na reconstrução. Um governo em que a população preta, as mulheres e a população LGBTQI+ tenham representatividade”, afirmou Emerson Andrade, coordenador-geral do Sindieletro/MG.
Elaine Cristina Ribeiro, secretária de Combate ao Racismo da CUT/MG, ponderou a respeito da necessidade de reconstrução. “O que vimos nos últimos seis anos foi a desconstrução ou a tentativa de destruição de tudo que conquistamos nos governos Lula e Dilma. O racismo passou a ser injúria racial. Passam pano para atos criminosos. No desgoverno muitos ratos saíram dos porões e avançaram em todos os setores. Não temos como passar pano para fascistas. Eles têm que morar em outro planeta. Agradeço ao Sindieletro por acolher esta atividade e por estar sempre engajado nas lutas pela igualdade racial. Vivenciamos casos absurdos de racismo nos últimos tempos e, principalmente, estivemos em um governo em que discriminar não era o suficiente. Diziam: vamos metralhar a petralhada. Interrompemos um processo de destruição, mas ainda teremos que trabalhar muito”, afirmou.
“Parabenizo o MNU, a CUT, o Cenarab a CTB, fundamentais na construção deste Fórum. Somos responsáveis pela inclusão, pelo crescimento de uma bancada de mulheres negras, com Macaé Evaristo, Dandara Tonantzin, Ana Paula Siqueira e Leninha. Sabemos que o governo Lula será de disputa, e estaremos sempre na luta por um país mais justo para todas e todos.”
“Sou eletricitário, trabalho na Cemig há mais de 30 anos e me orgulho de ter sido coordenador-geral do Sindieletro. E, por isso, faço uma homenagem a um dirigente sindical histórico, Lúcio Guterres, que, como eu, passou por aqui e esteve na presidência da CUT/MG. E estive este tempo todo na luta pela classe trabalhadora, que, em sua maioria, é composta por negras e negros na empresa. Estamos no momento em uma conjuntura de transição, para substituir uma gestão racista, de fala e ações declaradamente racistas. E, em Minas Gerais, nosso desafio é enfrentamento com Zema, um fascista e racista de fala mansa, que falou em pagar R$ 300 a uma empregada doméstica. Vamos construir um ‘desbalanço’ deste governo Zema, assim desconstruímos os governos Aécio e Anastasia, a partir de 2012, denunciando as farsas do choque de gestão e do déficit zero”, lembrou Jairo Nogueira Filho.
“Muita gente que está aqui se lembra que conseguimos derrotar Aécio em 2014. Ele perdeu em Minas e nos dois turnos das eleições para a Presidência da República. Podemos descontruir o governo Zema. Ainda mais questionando: o que é ele fez de positivo para negras e negros. O projeto de Zema é para 2026. Vai tentar fazer de Minas Gerais um laboratório”, analisou o presidente da CUT/MG.
“Nossa tarefa, a partir disso, é árdua. Precisamos dialogar com toda sociedade e, essencialmente, com a periferia, com a juventude negra. Para que a pauta de hoje vá além do dia 20 de novembro e que, em 2023, possamos construir outro Novembro Negro ainda maior e representativo. Este Fórum foi construído e saiu de dentro da CUT e vamos continuar juntos nesta luta para acabar de vez com o racismo neste país.”
“Querem apagar nossa história, a nossa luta. Isso ficou claro neste desgoverno derrotado em outubro. Até 2018, não havia negros na Assembleia Legislativa. Hoje temos representatividade no Parlamento em Minas, principalmente com mulheres. Mas os negros, historicamente, sempre se organizaram neste país. Não se fala dos quilombos, quando os negros se organizaram, após fugir do cativeiro. Palmares chegou a ter 30 mil habitantes, que não esperaram a Princesa Isabel para ter a liberdade. Estamos numa curva salutar. O racista não estará mais no governo. Alguém que nos desrespeitou o tempo todo. Não vão apagar nossa história, apesar das ameaças, apesar de o poder político em Minas Gerais ter ainda a influência das capitanias hereditárias. Os negros precisam estar nos projetos gestão, de políticas públicas, de políticas de inclusão. Eu sou fruto de política pública”, disse a deputada estadual Andréia de Jesus.
Durante a abertura do Fórum Mineiro Novembro Negro foram homenageados e receberam medalhas parlamentares, dirigentes de entidades, militantes, trabalhadoras e trabalhadores:
Andreia de Jesus - deputada Estadual PT
Emerson Andrade Leite – coordenador-geral do Sindieletro/MG
Rogério Djalma de Oliveira - diretor Sindicato dos Metalúrgicos de Betim
Rogério Raimundo Hilário - assessor de Comunicação da CUT/MG
Alexsandro Gonzaga Rodrigues - músico, professor de capoeira e bacharel em Educação Física
Gian Carlo Matias da Silva - funcionário público (Guarda Municipal de Belo Horizonte)
Andréia da Consolação Silva Diniz - primeira mulher a compor a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos
Sebastião Maria – bancário, diretor do Sindicato dos Bancários, secretário de Administração e Finanças da CUT/MG e militante do MNU. Tem licenciatura em Música
José Carlos de Souza - coordenador Estadual do MNU. Assessor Parlamentar da deputada Beatriz Cerqueira e bacharel em Direito
Marisa Aparecida Rufino Santos - liderança da Cufa Araxá, educadora social e idealizadora do projeto Recicrarte de Araxá