Escrito por: Eficaz Comunicação
Estado de Minas
Valor é negociado com metalúrgicos da Grande BH, como participação nos lucros das empresas
Marta Vieira
Como gratificação pelos bons resultados da produção de automóveis e de aço este ano, metalúrgicos de grandes e médias empresas dos setores automotivo, siderúrgico e de máquinas e equipamentos industriais da Grande BH receberam a primeira parcela de um bolo de recursos superior a R$ 68 milhões. Entre junho e o começo deste mês, 31,9 mil trabalhadores de 24 das principais fábricas instaladas na regiãoreceberam cerca de R$ 37,3 milhões. Os valores por empregado variam de R$ 600, nas empresas com menos de 300 funcionários, a R$ 2.930, na Fiat e suas fornecedoras de peças e conjuntos Magnetti Marelli, Comau do Brasil e Powertrain.
O restante será depositado em janeiro e fevereiro de 2008, se confirmadas as metas de desempenho negociadas com os sindicatos da categoria de BH e Contagem, de Betim, Igarapé e São Joaquim de Bicas. A remuneração extraordinária, a título de Participação nos Lucros ou Resultados (PLR), representou os melhores acordos desde 2002, segundo Marcelino da Rocha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, que abriga a Fiat Automóveis e a maior parte do cinturão de fornecedores da montadora italiana.
“Seria um contra-senso, num momento tão bom para as empresas, não conceder esse estímulo aos trabalhadores, embora ainda aquém do que elas podem pagar”, afirma o sindicalista. Em boa parcela das negociações de PLR relativas a este ano, as gratificações somam o equivalente a um salário nominal e meio do trabalhador (o valor anotado na carteira de trabalho, sem os descontos). As 17 maiores empresas do setor automotivo da região de Betim acertaram o pagamento de R$ 59,8 milhões a seus trabalhadores, dos quais R$ 31,5 milhóes foram liberados em junho e julho.
Pelo menos 70% das indústrias de Minas já concederam os adicionais pela contribuição dos empregados na performance das fábricas, informa Osmani Teixeira de Abreu, presidente do Conselho de Relações do Trabalho da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). “Cada empresa paga a PLR conforme as suas possibilidades. Outra vantagem é que não incidem encargos sociais sobre as gratificações”, diz. A participação dos trabalhadores nos resultados das empresas começou a ser negociada em 1996. No pólo automotivo de Betim, o número de acordos evoluiu de 45, em 2002, para 60, este ano.
Em BH e Contagem, as gratificações negociadas no primeiro semestre alcançam até o dobro do que foi pago no ano passado, de acordo com Geraldo Valgas, diretor do sindicato local dos metalúrgicos. “É claro que foi uma conquista dos trabalhadores, mas, sem dúvida, o crescimento econômico e o aumento do nível do emprego industrial ajudaram nas negociações”, afirma. A PLR passou de R$ 8,5 milhões, em sete grandes empresas dos setores automotivo, siderurgia e de máquinas e equipamentos, incluindo o grupo Rhea, Arcelor Mittal Brasil (antiga Belgo-Mineira), V&M do Brasil (antiga Mannesmann), Gerdau e Isomonte.
Marcelino da Rocha diz que até mesmo em função de baixos salários pagos na Grande BH, as gratificações estão sendo usadas, em boa parte, como socorro no pagamento de dívidas. Só em Betim, quase 27 mil metalúrgicos foram beneficiados pelos acordos, o que significa 83,7% da base representada pelo sindicato. As metas que condicionam o pagamento da PLR são, em geral, ligadas à produção por empregado, assiduidade no trabalho e qualidade dos produtos.
Trabalhadores de 8 estados param
Os metalúrgicos de 81 empresas dos setores automotivo e siderúrgico de oito estados fizeram manifestações ontem, em defesa do contrato coletivo de trabalho para a categoria, pelo fim da contratação ilegal de mão-de-obra e o piso salarial único. Aderiram à mobilização 170 mil trabalhadores de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo, Amazonas e Pará, conforme balanço divulgado pelos organizadores do Dia Nacional de Lutas – a Confederação Nacional dos Metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos da Força Sindical.
Em Contagem e Betim, na Grande BH, houve paralisações pela manhã e à tarde, com atraso na entrada de turnos de trabalho. Cerca de 20 mil trabalhadores, segundo a CUT e a Força Sindical, participaram dos protestos na Fiat Automóveis, Aethra, Teksid e V&M do Brasil. Outros 15 mil metalúrgicos se manifestaram na porta da Usiminas, em Ipatinga, no Vale do Aço, e da Gerdau Açominas, de Ouro Branco, na Região Central de Minas.
As manifestações em São Paulo mobilizaram 80 mil metalúrgicos, nas fábricas da Volkswagen, Daimler, Ford, Scania, Toyota e Honda e na siderúrgica Gerdau. A equiparação dos salários , negociados em cada estado, é ponto central das reivindicações dos metalúrgicos de Minas, segundo Geraldo Valgas, diretor do sindicato da categoria de BH e Contagem. O salário médio de um metalúrgico é estimado em R$ 1.908 mensais em fábricas paulistas, 119% acima do valor médio pago a um metalúrgico de Minas, de R$ 871, conforme levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese). O salário mais baixo é pago no Maranhão (R$ 848).