Escrito por: Rogério Hilário, com informações do Brasil de Fato Minas Gerais, Rádio Itatiaia e Estado de Minas
Ato pela Democracia, na Praça da Estação, marca a largada oficial para garantir a vitória, nas eleições de 2022, do projeto ancorado em pautas populares e progressistas
Mais de 100 mil apoiadores foram à Praça da Estação, na Região Central de Belo Horizonte, na noite de quinta-feira, 18 de agosto, para assistir ao primeiro comício de Lula (PT) e Alexandre Kalil na campanha eleitoral. O ato, que trouxe caravanas de todas as regiões do Estado, marcou a largada da campanha oficial às eleições à Presidência da República e ao governo do Estado no segundo maior colégio eleitoral do país. A vontade de contribuir com a vitória de um projeto ancorado nas pautas populares foi uma das principais motivações que levou uma multidão a ocupar a Praça da Estação.
Além de Lula e Kalil, subiram ao palanque o candidato a vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSD); o candidato a vice-governador, André Quintão (PT); o senador Alexandre Silveira (PSD); o deputado federal André Janones (Avante); a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann; Beatriz Cerqueira e Rogério Correia, candidatos à reeleição a deputada estadual e deputado federal; o presidente da Central Única dos Trabalhadoras de Minas Gerais (CUT/MG), Jairo Nogueira Filho. Silvio Netto, do MST, lideranças de movimentos populares e partidos políticos também estiveram ao lado de Lula no palanque. Parlamentares, chefes do executivo, candidatos ao Senado e a deputados estaduais e federais também estiveram presentes.
O comício, denominado Ato pela Democracia, teve como mestres de cerimônia o jornalista Chico Pinheiro e a cantora Aline Calixto. Antes dos discursos, a soprano Sylvia Klein cantou o Hino Nacional.
Entre os compromissos firmados pelo ex-presidente em seu encontro com o eleitor mineiro, ele enfatizou a retomada de políticas sociais que melhorem as condições de vida da população mais pobre.
"Essa não é uma eleição comum. É a disputa entre a democracia e o fascismo. O que estamos discutindo aqui é se nossos filhos e netos terão a oportunidade de trabalhar. Estamos discutindo se vamos ter universidades para todos ou pra meia dúzia de privilegiados. Se vamos garantir que cada homem e mulher tenham uma casa para morar. É se cada brasileiro vai poder tomar café, almoçar e jantar todo dia", destacou Lula, durante seu discurso.
O ex-presidente ainda elencou que, durante os governos do Partido dos Trabalhadores, a população mais pobre teve acesso a direitos que historicamente foram negados. Para Lula, sua eleição significará o marco da retomada de um projeto de país que tem o povo no centro.
"Esse país vai privilegiar o amor e a solidariedade. Nós já conseguimos colocar a filha da empregada doméstica para ser doutora. Nós já conseguimos colocar o filho de pedreiro pra ser engenheiro. Nós já conseguimos colocar o filho de coveiro para ser diplomata", enfatizou Lula, durante seu discurso. Quando nós governávamos esse país, ele era a sexta maior potência do mundo. É por isso que eu estou voltando", relembrou.
Lula não citou o nome de Bolsonaro, mas se referiu ao atual presidente como “fariseu”". "É heresia falar o nome de Deus em vão, como faz esse cidadão que não quero citar o nome", disse o candidato. "Estamos enfrentando uma pessoa desequilibrada, desestruturada. Estamos enfrentando pessoa que acha que tem que estimular ódio, é o contrário do que queremos", seguiu. "Ele está mais para fariseu do que para cristão, não respeita ninguém."
O candidato à Presidência da República também fez acenos às mulheres. "Não queremos que a mulher continue sendo tratada como se fosse objeto de cama e mesa nesse País. Queremos que a mulher seja sujeita da história, possa querer fazer o que ela quiser, do jeito que ela quiser, e para isso ela tem que ganhar o mesmo salário que o homem, fazendo a mesma função", afirmou.
Aos índios, prometeu novamente a criação do Ministério dos Povos Originários e o fim do garimpo ilegal. Lula atacou o racismo e se comprometeu a "reconstruir" os ministérios da Igualdade Racial, da Mulher, e da Micro e Pequena Empresa - este anunciado nesta quarta, 17. "Queremos que o povo negro tenha o direito de ocupar os melhores empregos, os melhores cargos, as melhores universidades, é por isso que brigamos pelas cotas", seguiu o ex-presidente.
Antes de encerrar o Ato, Lula pediu um favor aos seguranças. “Quero pedir um favor para o pessoal da segurança. Quero pedir um favor. Na minha frente, tem um menino cadeirante. Este menino está cantando desde a hora que cheguei aqui. Então, não posso ir embora sem descer ali e dar um beijo. Vocês cuidem de criar as condições, porque vou descer aí para dar um beijo nele”, pediu o ex-presidente.
Em seu rápido discurso, durante o comício, o candidato a vice-presidente, Geraldo Alckmin, fez questão de elogiar a presença de Alexandre Kalil. Segundo ele, a participação do ex-prefeito de Belo Horizonte, candidato a governador do Estado, no lançamento da candidatura petista é de extrema importância. “Kalil foi o melhor prefeito de Belo Horizonte, é o homem do hospital, que lutou contra a Covid-19. Diferentemente de Bolsonaro, que foi contra as vacinas”, afirmou.
Ao falar a respeito do presidente Jair Bolsonaro (PL), Alckmin citou os escândalos de corrupção no Ministério da Educação de Milton Ribeiro. “O homem transformou a educação em escândalo”, disse.
“Nós começamos essa campanha ao lado de Kalil que representa a saúde. E sabemos que a saúde retrocedeu”, continuou. Para Alckmin, o tempo de mudança chegou e, por isso, é necessário que a população mineira escolha Lula como presidente. “Muda Minas Gerais. Muda Brasil”, concluiu.
Candidato de Lula
As últimas pesquisas eleitorais demonstram liderança de Lula junto ao eleitorado mineiro e brasileiro. No Estado, o ex-presidente consolidou aliança com o Partido Social Democrático (PSD) e apoia a candidatura de Alexandre Kalil ao governo de Minas.
Apontado pelas pesquisas como o candidato de oposição mais competitivo em relação ao atual governador, Romeu Zema (Novo), o ex-prefeito de Belo Horizonte também se destacou durante o comício. No encontro, Lula reafirmou a importância da eleição de governadores e parlamentares alinhados com seu projeto de “reconstrução do país” e enfatizou a importância do voto em Alexandre Kalil.
“Kalil já provou que governo bom não é aquele que diz que tem dinheiro em caixa. Nós não queremos isso. Nós queremos dinheiro revertido em saúde, em segurança, em educação e em transporte. Nós vamos eleger Kalil e esse estado vai voltar a crescer. Não vai mais ser apenas exportador de minério. Nesse estado não vai ter mais rompimento de barragem como em Mariana e em Brumadinho”, argumentou Lula ao defender o voto em Alexandre Kalil.
Alinhado ideológica e economicamente ao governo Bolsonaro, durante seu primeiro mandato, Romeu Zema buscou implementar em Minas Gerais agendas parecidas com as defendidas pelo governo federal.
“Governar é um ato de amor. É um ato de proteção. Todo mundo veio aqui porque quando a senzala lê a casa grande treme. Eu ouvi hoje do senhor governador que eu grito muito e eu grito mesmo. Foi no grito que nós abrimos um hospital de 480 leitos em Belo Horizonte. Foi no grito que eu construí posto de saúde nessa cidade a cada dois meses. Foi no grito que eu reformei 245 escolas. E é no grito que nós vamos colocar eles pra fora", destacou Kalil, fazendo referência a ações desenvolvidas por sua gestão à frente da Prefeitura de BH.
Repercussão
Na avaliação de Sílvio Netto, da Direção Nacional do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a candidatura de Lula representa o resgate da esperança do povo brasileiro na possibilidade de construção de um projeto mais avançado que o do atual presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro.
"Hoje é a largada de uma campanha que muda toda a vida cotidiana do povo brasileiro e mineiro. Queremos superar o neoliberalismo e o neofascismo, que combinam a truculência, o ódio, a morte e o liberalismo que entrega nosso patrimônio. Esse projeto impõe ao povo a miséria e o desespero. Nós temos a oportunidade histórica de superar isso", destaca.
A redução de investimentos nas áreas sociais, determinada pela Emenda Constitucional 95, aprovada no governo Temer (MDB) e mantida pelo governo Bolsonaro, também foi criticada durante o comício.
Entre os impactos diretos da medida, estão a precarização das universidades públicas e do Sistema Único de Saúde (SUS). Para Lara Polisseni, estudante da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), os efeitos da política neoliberal e do estado mínimo são sentidos diariamente.
"A UFJF teve uma redução de 53% do orçamento, durante o governo Bolsonaro. Isso impacta diretamente na assistência e permanência estudantil. Nossas bolsas também foram reduzidas. Com Lula, vai ampliar o investimento na educação para que o estudante consiga se manter nas universidades. Acreditamos que ele vai revogar o teto de gastos para que a gente consiga fazer as universidades mais populares", comenta.
Além da volta de financiamento, os apoiadores de Lula têm a expectativa de que, com a sua eleição, inicie um processo de revogação também das reformas Trabalhista e da Previdência.
"Hoje, ou você está desempregado ou trabalha sem praticamente nenhum direito. Bolsonaro destruiu tudo o que conquistamos e agora temos que reconstruir", lamentou Carlos Fernandes de Oliveira, trabalhador informal e morador de Belo Horizonte.
A privatização de estatais estratégicas, a retirada de direitos dos servidores públicos, a Reforma Administrativa e a adesão de Minas ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) são alguns dos principais projetos do atual governador e candidato à reeleição Romeu Zema.
Para Lucileia Miranda, professora da rede básica de ensino de Minas Gerais, a consolidação no estado das pautas defendidas por Lula depende da derrota de Romeu Zema na corrida eleitoral.
"Aqui em Minas, o governo privatista e liberal de Zema já causou muitos danos aos trabalhadores. A gente precisa construir um processo em que nosso estado tenha um governo que se alinhe ao governo Lula nacionalmente. É fundamental eleger Lula e Kalil juntos para construirmos uma Minas Gerais que respeite os anseios do povo", argumenta.