Escrito por: ALMG
Marcha Internacional das Mulheres terá como um dos eixos a "economia feminista" e, em Minas Gerais, a defesa das estatais é prioridade.
A necessidade de se discutir as condições de trabalho das mulheres, para além da remuneração e do tamanho da jornada, bem como a valorização do seu conhecimento, deve ser central nos debates de construção da 6ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres. Em Minas Gerais, a mobilização deve focar, ainda, na luta contra as privatizações na pauta do governo Zema (Novo).
Em reunião realizada pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na manhã desta quinta-feira (14/8/25), mulheres envolvidas com a Marcha discutiram os rumos da mobilização. O movimento completa 25 anos e terá como lema “Mulheres em marcha contra as guerras e o capitalismo, em defesa da soberania popular e do bem-viver”.
As convidadas exaltaram a importância da Marcha Internacional para troca de experiências de mulheres de diferentes territórios, de forma que elas possam se organizar para enfrentar os desafios, que são semelhantes.
Míriam Nobre, da Executiva Nacional da Marcha das Mulheres, explicou que são vários os eixos de debates em 2025 e ela destacou o eixo da “economia feminista”.
Ela explicou que é preciso reconhecer que as mulheres têm salários menores e trabalham mais, especialmente se forem consideradas as atividades de cuidado. Além de vencer tais desigualdades, Míriam Nobre ressaltou que é preciso discutir as condições de trabalho.
“Queremos redução da jornada, mas também queremos que o tempo de trabalho seja digno”, Míriam Nobre, membro da Executiva Nacional da Marcha das Mulheres
Para a convidada, deve-se reconhecer a contribuição econômica e o conhecimento construído nas atividades desenvolvidas pelas mulheres. Ela exemplificou que o melhoramento do feijão pode ser feito não pelo ponto de vista das empresas de fertilizantes, mas das mulheres que plantam e cozinham o feijão.
A secretária da Mulher Trabalhadora da CUT Minas, Maria Dorvalina Ferreira, reforçou que as mulheres, sobretudo as mulheres negras, são as que mais sofrem com a jornada de trabalho 6x1.
"Nossa luta é contra essa escala de trabalhar seis dias e folgar um, queremos trabalhar cinco e folgar dois, ou até mais. Quem são pessoas mais prejudicadas com essa escala 6x1? Somos nós, mulheres trabalhadoras e negras, que temos mais dificuldade nos nossos afazeres do dia a dia. Somos nós que saímos de casa de madrugada, deixando nossos filhos sozinhos em casa, muitas vezes sem nem ter uma vizinha que possa olhar nossos filhos, dar água, dar comida para eles. Precisamos muito estar nessa luta", Maria Dorvalina Ferreira, secretária da Mulher Trabalhadora da CUT Minas.
Bernadete Monteiro, também da Executiva Nacional, completou que a Marcha, ao lado de outros movimentos sociais, vai realizar um plebiscito popular pelo fim da jornada de trabalho 6X1 e pela taxação das grandes fortunas. A deputada Bella Gonçalves (Psol), uma das autoras do requerimento que deu origem à reunião, apoiou as lutas.
Movimentos contrários às privatizações fazem parte da Marcha em Minas
Guilherme Bergamini
Em Minas Gerais, a mobilização deve se pautar em especial na luta contra as privatizações propostas pelo atual governo estadual, de acordo com Bernadete Esperança Monteiro, da Executiva Nacional da Marcha. Para a convidada, privatizar significa restringir ou até impedir o acesso a serviços essenciais para as camadas mais vulneráveis da população, como as mulheres, em especial as negras.
Assim, ela destacou que energia e saneamento básico não podem ser transformados em mercadoria. Ela também destacou as tentativas de entregar a administração dos hospitais públicos para organizações sem fins lucrativos. Ela destacou que a maior parte dos servidores dos hospitais é de mulheres e serão prejudicadas.
Na mesma linha, Dehonara Silveira, do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde (Sind-Saúde-MG), afirmou que as ações do governo Zema têm aumentado o tempo de fila para alguns atendimentos, o que muitas vezes resulta em pessoas com sequelas graves. “Quem cuida das pessoas adoecidas? As mulheres. Por isso, essa é uma luta das mulheres”, disse.
Dehonara Silveira destacou, em especial, o fechamento do Hospital Maria Amélia Lins. Segundo ela, um bloco cirúrgico novo, capaz de atender 200 cirurgias mensais, está sem uso por causa da decisão. Para ela, a mudança na administração das instituições de saúde vai piorar a situação e deve ser barrada.
Representantes de outros movimentos sociais que têm atuado contra as privatizações também estiveram na reunião. Do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro MG), Denise Borges Ferreira disse que a privatização significa a deteriorização do patrimônio dos mineiros.
“É um ataque aos direitos humanos, porque vai negar serviços essenciais à população”, disse Denise Ferreira. Ela e a representante do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e Serviços de Esgoto (Sindágua), Sílvia Maria Ferreira, apontaram que o governador não quer fazer o plebiscito para venda das estatais, como é constitucionalmente definido.
“Não é só um governo privatista, é um governo destruidor”, disse Denise de Paula Romano, do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind Ute/ MG), sobre o governo Zema. Ela lembrou que até a educação ele “tentou entregar” por meio do projeto Somar, suspenso por decisões judiciais.
Conforme a representante do Movimento Atingidos por Barragens (MAB), Stephanne Luiza Arcanjo Biondo, também é preciso se organizar contra as mineradoras que causam impactos negativos nos territórios. "A nossa tarefa é enfrentar os inimigos da classe trabalhadora", complementou a integrante do Levante Popular da Juventude, Camila Miranda.
*Com informações da ALMG