Escrito por: Rogério Hilário

Metroviárias e metroviários suspendem greve, mas luta contra privatização continua

Sindimetro/MG realizará atividades internas para dialogar com a categoria e reorganizar a luta. Decisão levou em consideração consulta prévia feita com trabalhadoras e trabalhadores

Rogério Hilário

Metroviárias e metroviários de Belo Horizonte decidiram, em assembleia realizada na Estação Central na noite de terça-feira, 25 de outubro, suspender o indicativo de uma paralisação total das atividades a partir de zero hora desta quarta-feira (26). No entanto, a categoria segue mobilizada contra a desestatização da Superintendência de Três Urbanos (STU-BH) da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), cujo leilão, segundo edital divulgado, está programado para o dia 22 de dezembro. A diretoria do Sindicato dos Empregados em Transportes Metroviários de Conexos de Minas Gerais (Sindimetro/MG) apresentou, na assembleia, proposta de que é preciso manter a mobilização contra a privatização e dialogar mais com a categoria, com atividade internas na empresa. Uma das ações é um café, às 13h30 desta quarta-feira (26), na Estação Eldorado.

“Nós, da diretoria, decidimos trazer esta proposta para a categoria, pois estamos preocupados com o cenário político, com as eleições. Após uma consulta que fizermos às bases e vimos que houve muita divergência. E também é preciso ter transporte público no próximo domingo (30), que será gratuito e a categoria metroviária não poderia ir na contramão dos interesses dos eleitores. Mas seguimos mobilizados contra a privatização, lutando por nossas pautas e em estado de greve”, disse o presidente do Sindimetro/MG, Daniel Glória Carvalho.

“Vamos dialogar com a categoria e estabelecer novos passos para o nosso movimento contra o descaso do governo com relação aos empregados. Um diálogo a respeito da situação será realizado com funcionárias e funcionários. E exigimos que seja aberto um diálogo sobre o destino de todas e todos sobre estas pautas: transferência para outras superintendências ou outros órgãos do governo federal; aumento do período de estabilidade – o que está proposto é de apenas um ano; PDV para empregadas e empregados aposentados que tenham  interesse de deixar a empresa; convênio do poder público com a empresa privada para que o empregado ou empregado que faça a passagem de conhecimento possa retornar à CBTU ou ser transferido para outro órgão do governo federal.”

Dirigentes e filiados do Sindimetro/PE acompanharam a assembleia. A categoria faz, em Pernambuco, o enfrentamento contra a privatização, que está em processo em todo o país pelo governo federal. Segundo o vice-presidente da entidade, Assis Filho, metroviárias e metroviários de Recife conseguiram, por enquanto, barrar a desestatização. “Nosso processo está em outro estágio, mas segue a mesma lógica daqui, que está mais avançada. Conseguimos o compromisso de que os estudos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não sejam avaliados pelo governo do Estado. Temos esse compromisso até o final deste ano de que não haverá parecer do BNDES. Barramos isso quando entramos em estado de greve em maio, dez dias depois que esta gestão do Sindicato tomou posse. Continuamos na luta contra a privatização e o sucateamento do Metrô de Recife, que tem 38 anos, 71 km de percurso e 37 estações. E queremos, também, a tarifa social”, disse Assis Filho.

O dirigente sindical revelou, também, que será realizado nesta quinta-feira, 27 de outubro, em Recife, ato em apoio à luta de metroviárias e metroviários. “Queremos contribuir com ideias que possam ser usadas aqui em Belo Horizonte. E, na próxima assembleia, podemos vir com mais gente”, afirmou o vice-presidente do Sindimetro/PE. Para ele, mesmo com uma vitória de Lula nas eleições, a luta não acaba. “Não basta acabar com a privatização. É preciso ter um investimento maciço nas CBTUs.”

Leilão marcado

O lance mínimo de venda da empresa em leilão, em Minas Gerais, é de R$ 19.324.304,67. O valor é considerado baixo por especialistas e pelo Sindimetro/MG, considerando que o Estado continuará subsidiando o metrô para manter seu funcionamento e que o patrimônio atual da empresa está avaliado em mais de R$ 750 milhões. À empresa que vencer o pregão, vai ter um aporte de R$ 2,8 bilhões dos governos federal e estadual

Metroviárias e metroviários têm realizado uma série de manifestações e assembleias denunciando não só o valor de venda, mas também que a privatização terá como consequência prejuízos para os trabalhadores e aumento das passagens para os usuários. O sindicato lembra que o metrô cumpre uma função social que está na Constituição Federal, para possibilitar a mobilidade urbana e que nas mãos da iniciativa privada essa não será uma preocupação. 

“O metrô nas mãos de uma empresa privada dará lucros porque deixará de cumprir sua função social, colocando os preços das passagens nas alturas e recebendo ordinariamente subsídios do governo. O povo pagará duas vezes, uma diretamente na bilheteria e outra através do uso dos impostos pagos. E ainda, não há nenhuma limitação no edital para o preço das passagens.”, alerta o Sindimetro/MG, em nota divulgada. 

O governo não negocia com os trabalhadores a estabilidade nos seus empregos, desconsiderando que eles entraram via concurso. Os metroviários fizeram uma paralisação de 48 horas nos dias 5 e 6 de outubro. Numa das assembleias, eles distribuíram bananas “bananaço”, numa alusão ao valor pelo qual o governo Bolsonaro e Zema querem entregar o metrô de Belo Horizonte para a iniciativa privada.