Escrito por: Rogério Hilário
Plenária na sede CUT/MG constrói ações coletivas para o enfrentamento às agressões de fascistas sofridas por mulheres no Parlamento em Minas Gerais
Para o enfrentamento às agressões que as mulheres vêm sofrendo ao ocupar espaço no Parlamento brasileiro, especialmente em Minas Gerais, como vereadoras e deputadas estaduais, centrais sindicais, partidos políticos, sindicatos e movimentos sociais se reuniram, na noite desta terça-feira, 31 de outubro, para construir ações unificadas contra a violência política e de solidariedade às parlamentares vítimas de ataques fascistas. A Plenária foi realizada na sede da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), no bairro Colégio Batista, em Belo Horizonte.
Diversas parlamentares do país vêm sofrendo ataques fascistas, sejam virtuais ou nas sessões plenárias. As mensagens de ódio chegaram ao cúmulo de conter ameaças de estupro, coletivo e corretivo. As mensagens, covardes e anônimas, incluem descrições detalhadas da violência.
A violência política de gênero é direcionada, preferencialmente, a parlamentares ativistas e defensoras dos direitos humanos e os criminosos não deixam dúvidas de que as vidas são ameaçadas porque elas defendem um projeto político coletivo de esquerda, progressista e democrático.
Nos últimos anos, o número de ataques direcionados à parlamentares mulheres cresceu exponencialmente. De acordo com a ONU Mulheres, 45% das parlamentares eleitas em todo o Brasil já sofreram ameaças. Estamos, também, no país em que Marielle Franco, militante do PSol que ocupava o cargo de vereadora no Rio de Janeiro, foi vítima de um feminicídio político, ainda em investigação. Não se sabe ainda quem mandou matar Marielle.
Em Minas Gerais, foram vítimas da violência política de gênero Beatriz Cerqueira (PT), Andréia de Jesus (PT), Lohanna França (PV) e Bella Gonçalves (Psol); as vereadoras Iza Lourença (Psol-BH), Cida Falabella (Psol-BH), Claudia Guerra (PDT-Uberlândia) e Amanda Gondim (PDT-Uberlândia). As agressões constantes incluem ameaças de morte e estupro coletivo. Uma tentativa da extrema direita de intimidar a atuação política e silenciar as parlamentares.
“Conseguimos retirar do âmbito nacional o inelegível. Mas não conseguimos fazer com que os ratos voltassem para os esgotos. Eles ainda acham que podem ameaçar as vidas das pessoas. Não basta termos eleito o presidente, temos que seguir em luta para ocupar todos os espaços. Não podemos aceitar que mulheres sejam agredidas. Beatriz Cerqueira, primeira mulher presidenta da CUT Minas, simboliza a nossa luta contra a violência política de gênero”, afirmou Lourdes Aparecida de Jesus, secretária-geral da CUT/MG.
As vereadoras Iza Lourença e Cida Falabella foram ameaçadas em seus e-mails institucionais. Covardemente, os agressores até afirmaram estar preparados para atingir a filha de Iza Lourenço, de 3 anos. O Ministério Público e os Ministérios da Justiça e Segurança Pública, e de Direitos Humanos e Cidadania, e da Igualdade Racial já foram acionados pelas parlamentares.
“As mulheres sofrem violência cotidianamente, principalmente quando colocam os seus corpos nas lutas, no Parlamento para construir um projeto de Estado. Na Assembleia e a Câmara Municipal, elas vêm sofrendo. E estão nos chamando para protege-las. E vamos fazer isso de forma coletiva e proteger estes corpos. Estas ameaças simbolizam a política de Zema. A extrema direita não vai nos silenciar. Nós vamos vencer”, disse Fernanda de Oliveira Portes, coordenadora nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
“É importantíssimo estarmos em permanente campanha, pois a onda de violência e ódio continua. Não podemos recuar. Precisamos nos unir, impor ações e reações, não ficaremos calados”, ressaltou Silvana Rosa, da Intersindical.
“Os fascistas estão se sentindo à vontade para atacar. A deputada estadual Beatriz Cerqueira fez um desabafo no final de semana sobre os absurdos que vêm se sucedendo na Assembleia Legislativa, com ataques constantes às parlamentares. Bella Gonçalves também foi ameaçada por um deputado. Um assessor dele filmou a deputada e editou as imagens em um vídeo, em que acusa Bella de usar a escolta, que custa dinheiro público, a que ela tem direito por ter a vida ameaçada para ir para a farra. No Plenário, Bella e Beatriz foram filmadas pelas costas pelo mesmo assessor. Caporezzo ainda interpelou as duas, de forma violenta, e interrompeu uma sessão na Assembleia”, denunciou Denise de Paula Romano, coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE/MG).
“Como Beatriz falou, a Assembleia deixou de ser um lugar seguro para as mulheres. A Lohanna (França) também recebe e-mails ameaçadores. Assim como a Andréia de Jesus e as vereadoras Iza Lourença e Cida Falabella. Elas estão sendo impedidas de fazer suas ações por grupos organizados. Xingam, chamam de galinhas, vagabundas. Beatriz foi chamada de gatinha de pelúcia por um destes cafajestes. Beatriz vocalizou em seu desabafo o sentimento do que as mulheres estão sofrendo na Assembleia. Querem a eliminação das mulheres que nos representam. Por isso, precisamos construir ações para protegê-las do extermínio.”
Desabafo
Beatriz Cerqueira, em seu segundo mandato, fez um desabafo e denunciou que a Assembleia Legislativa deixou ser um espaço político seguro para as mulheres. “Pela primeira vez em cinco anos eu quis desistir, afastar. Olhei para a semana que nem tinha terminado e me vi numa espiral de violência ao perceber que a Assembleia deixou de ser um lugar seguro para meu corpo e para o meu trabalho. Dentro da Assembleia existe o gabinete do ódio e a milícia digital. Recebem do dinheiro público para praticarem misoginia, intimidação, incentivarem violência política contra mulheres e sequer passam pelo detector de metais. Nada acontece para parar isso. Será a legislatura que mais teve violência política contra deputadas, escolhidas por suas pautas e trabalho.”