Escrito por: Rogério Hilário
Saindo de concentrações em três locais, manifestantes se unem na Praça Sete e seguem até a Praça da Estação com música, arte, denúncias, intervenções culturais, homenagens e leitura de manifesto
A resistência, a multiplicidade, a força e a unidade nas lutas contra a desigualdade, o machismo, o assédio, o racismo, a violência, os ataques aos direitos trabalhistas e previdenciários, à educação, à saúde, a precarização do trabalho, a informalidade, potencializados ou causados pelos governos de Jair Bolsonaro e Romeu Zema marcaram um histórico Dia Internacional de Luta das Mulheres em Belo Horizonte. Com o tema “Só da luta brota a liberdade", milhares de militantes, simpatizantes, dirigentes do movimentos sindical, como a Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais e sindicatos CUTistas, de movimentos sociais, populares e estudantis e parlamentares se uniram à população, que aderiu ao protesto, em manifestação que tomou as ruas da capital mineira durante todo o domingo (8).
As concentrações começaram às 9 horas. Uma delas na Ocupação (Espaço Cultural) Pátria Livre, na Pedreira Prado Lopes, convocada pela Frente Brasil Popular Minas, Marcha Mundial de Mulheres e outras entidades; outra na Praça Raul Soares, articulada pelo Movimento 8M Unificado e Popular; e uma terceira na Praça Sete, do Coletivo Alvorada. Manifestantes saíram em blocos, a exemplo do Carnaval que, não por acaso, foi salvo este ano em Belo Horizonte pela CUT/MG e o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE/MG) que emprestaram carros de som para as agremiações impedidas de desfilar por intolerância do governador. Outro detalhe, ainda mais relevante: a maioria dos blocos é comandada por mulheres. Em um dos mais emocionantes momentos do ato, todas e todos se encontraram na Praça Sete e depois seguiram para a Praça da Estação, passando pela Rua Guaicurus.
Todos os percursos foram acompanhados por bateria e orquestra de sopro femininas e performances de cantoras e artistas circenses. Além disso, houve homenagens a Marielle Franco - cujo assassinato completa dois anos no dia 14, próximo sábado -, intervenções culturais e de caráter social, como as obras das bordadeiras das “Linhas do Horizonte” e "Pontos de Luta" e da professora e atriz Adilene Muradas Nunes, que se vestiu com uma malha simulando a nudez, onde o público poderia escrever em seu corpo. As mulheres reafirmaram que as lutas delas são atemporais. Duram há séculos, não podem ser lembradas apenas um dia por ano.
“Estamos aqui para um 8 de Março de Luta, que toma conta de Belo Horizonte e de todo o país. E para denunciar que está em curso um golpe contra a democracia, que começou com o golpe contra Dilma, mas que resultou em Jair Bolsonaro. Um presidente que desrespeita os outros poderes. Os fascistas não passarão. Neste 8 de Março, convocamos para o dia 18, Dia Nacional de Luta, em defesa da educação, que é composta em sua maioria por mulheres, da democracia e classe trabalhadora, contra um presidente ilegítimo, que só foi eleito porque tiraram da disputa o principal candidato. E contra o governador Romeu Zema, em defesa dos servidores públicos, da educação, da saúde e de nossas vidas. Viva a classe trabalhadora. Viva as mulheres”, disse a deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT).
“As mulheres estão em luta pela igualdade, que não combina com machismo. E neste ano, protagonizam a primeira grande manifestação e ainda há muito por que lutar. Lutar por direitos iguais, contra o assédio, a violência, por um Brasil melhor”, afirmou a deputada estadual Marília Campos (PT).
“Falo em nome do Sind-UTE e da CUT. E por uma categoria, que é quase que predominantemente feminina, que está há quase um mês em greve pelo piso salarial, e luta por melhores condições de trabalho e uma educação pública de qualidade. E lembro que o que foi feito no Carnaval também serve como exemplo. Foi emocionante ver o pontinho vermelho, o caminhão da CUT, nos blocos que estavam impedidos de desfilar pelo governo Zema. E os pontinhos branco e azul do caminhão do Sind-UTE. E muitos dos blocos são comandados por mulheres. E o 8 de Março é significa resistência e luta. A revolução é feminista, a educação é feminista, a democracia é feminista. Estamos aqui para lutar contra Bolsonaro e tudo que ele significa e contra seu irmão gêmeo, Romeu Zema, que representa em Minas Gerais o liberalismo e o fascismo. Zema, cumpra a Constituição e pague o piso da educação”, protestou Denise de Paula Romano, coordenadora-geral do Sind-UTE/MG e integrante da Direção Estadual da CUT/MG.
“Realizamos um Carnaval de luta contra um presidente retrógrado. Foi uma folia politizada, que atingiu também o governador Romeu Zema, que nos deu uma pauta muito boa quando tentou impedir os desfiles dos blocos. As mulheres são as principais prejudicadas pelo retrocesso, porque precisamos lutar pela nossa liberdade. E se destacaram nos movimentos deste ano, que apenas se inicia. As petroleiras foram fundamentais na greve da categoria. As educadoras são exemplo. Na luta dos atingidos por barragens também têm um papel importante. Sem as mulheres, a luta sai pela metade. É mais que necessário o reconhecimento do nosso trabalho. Seguiremos firmes e fortes na luta, para salvarmos a democracia e nossa liberdade. Pátria livre, venceremos”, afirmou Soniamara Maranho, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
“Bolsonaro e Zema. É por isso que estamos nas ruas. Por um projeto de vida, esperança feminista, popular e antirracista. A Marcha Mundial das Mulheres completa 20 anos e estamos organizando a 5ª Ação Internacional, com o tema ‘Resistimos para viver, marchamos para transformar’. E denunciar um golpe que começou com Dilma e do qual Bolsonaro faz parte. Lutamos por moradia, pelo sindicalismo. Somos mulheres em luta pela emancipação, a construção do feminismo. As mulheres estão nas ruas por cada vez mais espaço, por igualdade, melhores condições de trabalho e por respeito à diversidade”, disse Bernadete Monteiro, da Marcha Mundial de Mulheres. Ela ainda cantou: “Companheira me ajude que eu não posso andar só, eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor”.
Ao final da manifestação, já na Praça da Estação, foi lido o Manifesto das Mulheres da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), que enfatizou a união, a resistência e a disposição para luta contra o capitalismo neoliberal, machismo, o racismo, o assédio, a violência, a defesa da igualdade, da diversidade, dos direitos e conquistas, “até que todas sejamos livres”.
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