Escrito por: Rogério Hilário, com informações da ALMG
Grevistas são apoiados pela CUT/MG, pela base CUTista, por movimentos sociais, parlamentares e lideranças políticas em audiência pública na Assembleia Legistativa
No 11° dia de greve dos petroleiros em todo o país, na terça-feira (11), a Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) recebeu trabalhadoras e trabalhadores da Petrobras para debater a paralisação em audiência pública. A atividade contou com a participação de apoiadores do movimento, defensores das empresas públicas e contra as privatizações e representantes de outras categorias que paralisaram as atividades ou estavam em vias de entrar em greve.
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O Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais (Sindipetro/MG) está participando do movimento, que acontece em todo o Brasil em solidariedade ao fechamento da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen-PR), no Paraná, cuja desativação foi anunciada no final de janeiro deste ano. Cerca de mil funcionários diretos e terceirizados serão demitidos com o fechamento.
De acordo com o petroleiro e coordenador-geral do Sindipetro/MG, Anselmo Luciano da Silva Braga, a estratégia da Petrobras tem sido sucatear e “fatiar” as empresas que a compõem, tendo em vista que o Supremo Tribunal Federal estabeleceu que uma eventual privatização da empresa precisa passar por aprovação do Congresso Nacional.
“O que está acontecendo é a ponta do iceberg. O Supremo Tribunal Federal (STF) já que o processo de privatização tem que passar pelo Congresso. Mas, subsidiárias podem ser vendidas. Então se aparece interesse, a Petrobras sucateia e transforma em subsidiária. Fez isso com a Fafen e tem feito isso com várias empresas. Estão tirando da população a oportunidade de decidir”, disse Anselmo.
O coordenador criticou também a atitude da Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim (Região Metropolitana de Belo Horizonte), de não querer negociar com os trabalhadores. “O sindicato desde o início se dispôs a manter a refinaria em operação. Mas o gerente não veio aqui e desde o começo se recusou a negociar ou receber o sindicato. Trabalhadoras e trabalhadores estão na Regap em condições altamente inseguras, trabalhando desde o dia 31 de janeiro sem descanso. Sujeitos a acidentes por negligência e intransigência deste gerente. Tentamos colocar 90% dos trabalhadores na refinaria, mas o gerente se negou a permitir a entrada dos dirigentes do sindicato na Regap. Se as operações pararem, haverá falta de combustível, por negligência e intransigência do gerente. Não vamos ceder e continuaremos denunciando os abusos”, completou.
O diretor de Comunicação do Sindipetro e da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), Felipe Pinheiro Martins de Paiva, enfatizou que a grande mídia silenciou sobre a greve e por isso as pessoas não sabem o que está acontecendo. Ele saudou trabalhadoras e trabalhadores dos Correios, que entram em greve nesta quarta-feira (12) e educadoras e educadores, que paralisaram as atividades por tempo indeterminado na terça-feira (11).
“A Assembleia, com a audiência pública, pode nos ajudar a divulgar as nossas pautas. A população precisa saber que o petróleo é extraído a US$ 9 e vendido nos postos brasileiros a US$ 60, para que o mercado internacional se beneficie. Isso não faz sentido se o governo se diz nacionalista. O que aconteceu com a Fafen pode acontecer com todos nós. Por isso a greve não foi apenas em solidariedade, pensamos no futuro. A Fafen mostra a face mais cruel de um processo de privatização. É o que que pode acontecer na Regap e outras refinarias. Com sucateamento e o aumento dos custos para a população, vão preparando a empresa para a privatização. Temos que lutar para reveter isso. Se privatizar, acabou”, explicou.
Felipe lembrou também que 56% do ICMS de Betim vem da Regap. Além disso, 20% do ICMS do Estado vem da produção de combustíveis, maior parte disso vindo da Regap. “A privatização terá impacto perverso em empregos e impostos. A Vale deixou bem claro aqui no Estado quais são as prioridades de uma empresa privatizada, que busca o lucro máximo. Se Cemig e Copasa forem privatizados teremos preços triplicados e serviço péssimo. A privatização vai resultar no corte de empregos e na precarização das condições de trabalho. O que cinco trabalhadores fazem, apenas um vai fazer, para aumentar o lucro e agraciar os investidores, que vão querer resultados em curto prazo”, afirmou o secretário de Comunicação do Sindipetro/MG.
Vestido com o jaleco dos petroleiros, Jairo Nogueira Filho, presidente da CUT/MG, reiterou o apoio da Central e de toda a base CUTista ao movimento. “Vestimos o jaleco porque incorporamos totalmente a luta da categoria. O processo é o mesmo dos anos 1990, com Fernando Henrique Cardoso, e que foi derrotado pela greve e as mobilizações. E, da mesma forma, com no governo Jair Bolsonaro, trabalhadoras e trabalhadores vêm sendo culpados, a ponto do ministro da Economia nos chamar de ‘parasitas’. Os governos federal e de Minas Gerais são entreguistas. Defendemos a soberania e o patrimônio do povo brasileiro, por isso estamos com a bandeira do país aqui. Os que se dizem nacionalistas estão vendendo refinarias e mandando para a fora o nosso patrimônio, privilegiando outra nação.”
“Estão fechando os postos de trabalho para a juventude, com o sucateamento das empresas públicas e o processo de privatizações. Com Cemig, Petrobras, Correios e Dataprev demitindo, onde os jovens vão trabalhar? A defesa da Petrobras é um processo que já envolveu gerações no Brasil. No momento, acredito que faremos como nos anos 1990, quando derrotados o projeto de privatização. A questão do gás é muito importante. Com a venda do botijão por R$ 40, na Pedreira Prado Lopes, no sábado, as pessoas entenderam e vocês mostraram que o gás pode ser mais barato. Algumas pessoas estavam há meses sem comprar gás. A saúde registrou várias ocorrências de queimados, porque muitos estão usando fogão a lenha. Defender a Petrobras é defender o Brasil”, disse Jairo Nogueira Filho.
Robson Gomes da Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Correios de Minas Gerais (Sintect-MG), se solidarizou com petroleiras e petroleiros e com servidoras e servidores da Dataprev e falou sobre a importância dos Correios e a greve nacional que começou nesta quarta-feira (12). “Nos solidarizamos com uma greve em defesa de empregos, com a da Dataprev. Os movimentos contra as demissões na Fafen-PR e contra o fechamento de unidades da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev) são da maior importância. Assim como os serviços prestados pelos Correios, que entram em greve nacional. É um direito garantido na Constituição receber correspondência em casa. Os Correios são fator de integração nacional, pois atende aos mais de 5.700 municípios do país. E é integrado aos serviços da Petrobras, pois auxilia na logística e na distribuição de combustíveis. Vai onde as estradas não vão”, disse.
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios, “o projeto do governo federal é destruir os serviços públicos, que atendem a todo o povo brasileiro. Os Correios realizam o Programa de Distribuição de Livros Didáticos, que se não for feito vai impactar na educação. A destruição passa pela Petrobras, pelos Correios, pela Dataprev e outras empresas. É o desmonte do Estado brasileiro. Privatizar é tirar os direitos do povo, colocar pais e mães de família na rua.”
Paula Silva, da Frente Brasil Popular e do Levante Popular da Juventude, também manifestou seu apoio aos grevistas. “Parabéns a petroleiras e petroleiros pela coragem de deflagrar uma greve numa conjuntura tão difícil, para defender o emprego e o patrimônio do povo brasileiro. Nós, do Levante, vestimos a camisa, numa luta que os jovens sempre estiveram presentes, antes mesmo da criação da Petrobras, em 1956. A luta pela Petrobras sempre convergiu para a luta pelo Brasil. A Petrobras está dentro de nossas casas, das nossas vidas, com o gás de cozinha; do nosso direito de ir e vir, com interface no custo das passagens no deslocamento. Vocês deram uma aula de economia, ao mostrar que o gás pode ser mais barato e dialogaram com população.”
A coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), Denise Romano, elogiou a ação dos petroleiros na Pedreira Prado Lopes no último sábado, que venderam botijões de gás a R$ 40 em protesto contra preços considerados abusivos pela categoria.
Ela também falou da greve da educação, que se iniciou nesta terça-feira (11) por tempo indeterminado, e mencionou projeto que tramita na ALMG e que prevê um reajuste de mais de 40% para servidores da segurança.
“Não somos contra o reajuste da segurança pública. Essa ideia é falsa. Mas queremos o mesmo tratamento. Que o governo seja isonômico. Zema não pode escolher qual pauta atender. Isso é impossível. Como mensurar qual serviço público é o mais importante? O governo tem obrigação de atender e negociar com todos os trabalhadores”, explicou.
Autores do requerimento, os deputados Celinho Sinttrocel (PCdoB) e Beatriz Cerqueira (PT) manifestaram solidariedade aos trabalhadores. “Somos contra a privatização e o desmonte da Petrobras”, afirmou o deputado. Também manifestaram apoio aos petroleiros os deputados Betão (PT), Leninha (PT), Marília Campos (PT) e Andreia de Jesus (PSOL).