Escrito por: Rogério Hilário

Plenária aponta demandas de movimentos sindical e sociais após eleição de Lula

Rogério Hilário

A Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG) sediou, na noite de terça-feira, 8 de novembro, uma Plenária de Movimentos Sindical e Sociais, em que foram discutidas as conjunturas estadual e nacional pós-eleições e definidos os próximos passos das lutas da classe trabalhadora. A atividade contou também com a participação de representantes de partidos políticos e da deputada estadual reeleita Beatriz Cerqueira (PT), a mulher com a maior votação na história de Minas Gerais (248.664 votos) e o cientista político e sociólogo Rudá Ricci. Os dois fizeram análise de conjuntura e apresentaram propostas para encaminhamento das pautas das forças do campo progressista e social no governo de Lula, presidente eleito pela terceira vez em 30 de outubro. A coordenação da Plenária foi feita pelo presidente da CUT/MG, Jairo Nogueira Filho; Valéria Morato, da CTB; e Fernanda de Oliveira Portas, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

Encaminhamentos

- Realização, no dia 29 de novembro, de nova Plenária dos Movimentos Sindical e Sociais na sede da CUT/MG. Para construir propostas a serem apresentadas, os coletivos e as regionais devem se reunir até o dia 18 de novembro;

- Edição especial do jornal Brasil de Fato sobre as eleições para ser levada às bases. Esta publicação teria páginas dedicadas às crianças;

- Lavagem ou purificação simbólica da Bandeira do Brasil no dia 19 de novembro, como forma de resgatar o símbolo nacional para todo o povo brasileiro e despregar sua imagem do bolsonarismo e do fascismo. O ato pode ser na Praça da Bandeira ou na Praça da Estação. O Dia da Bandeira é 19 de novembro;

- Empréstimo da CUT Minas para exibição da partida de estreia da Seleção Brasileira na Copa do Mundo do Catar, contra a Sérvia, no dia 24 de novembro;

- Entidades do movimento negro vão realizar, na sede da CUT/MG, nos dias 25 e 26 de novembro, o Fórum Mineiro Novembro Negro 2022. A atividade é organizada por CUT,  CTB, Unegro, Movimento Negro Unificado e pelo Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (Cenarab). Uma carta do movimento vai ser enviada ao presidente eleito Lula;

- Ato no dia 11 de dezembro pelo aniversário de Belo Horizonte, com um abraço em defesa da Serra do Curral;

- Diplomação popular da deputada estadual Beatriz Cerqueira, no dia 19 de dezembro, na sede da CUT/MG, após a diplomação oficial, no Palácio das Artes;

- Mobilização e pressão sobre os deputados federais para que seja bloqueado o leilão da CBTU de Minas Gerais, marcado para o dia 22 de dezembro;

- Organização de caravana para Brasília, para assistir à posse de Lula. O objetivo é que os ônibus sigam em comboio para a capital federal. Algumas entidades já estão a caravana. A proposta é ter um ponto de apoio para todas e todos próximo ao Estádio Mané Garrincha, com uma estrutura montada com banheiros químicos, barracas para receber as pessoas com café da manhã. A saída seria no dia 31 de dezembro, com retorno no dia 1º ou no dia 2 de janeiro;

- Em Belo Horizonte, a proposta é fazer um ato conjunto na Cidade Administrativa, no dia 1º de janeiro, durante a posse do governador Romeu Zema.

Disputa na transição

A vitória de Lula, segundo o cientista político Rudá Ricci, não garante a participação dos movimentos sindical e sociais no governo. “Não podemos apenas assistir ao processo de transição. É vital nos inserirmos na disputa de programa na transição política. E isso passa por pressão pela participação nos projetos de educação, saúde e outros setores. Na CUT Nacional, os petroleiros estão discutindo a crise energética, por exemplo. Pelas listas de nomes das comissões temáticas de transição, a mais contaminada pelo alto empresariado é a de educação: 12 nomes. Demonstra a cobiça empresarial pelos fundos públicos educacionais e como as organizações sindicais e do campo popular precisam afiar mais suas garras. Temos que nos programar, para indicar nomes: quadros, deputados federais, estaduais etc. Articular e participar das decisões sobre os ministérios.”

Rudá Ricci enumerou três grandes frentes. “Precisamos resgatar o orçamento participativo. Já acenou em ter, no seu governo, um OP nacional. Estarmos dentro dos programas de saúde e educação. Participar das comissões de economia. Ganhamos a eleição, sem dúvida, mas temos que lutar pela construção de um projeto coletivo. O governo não é do Lula, é nosso. Precisamos de organização de base, formação e informação centralizada”, disse.

Rudá Ricci alertou que a extrema direita já visa as eleições municipais de 2024 e que, por isso, o campo democrático, progressista e social precisa se preparar para esta disputa. “Temos que eleger muitos prefeitos em 2024. Isso servirá para fortalecermos o governo de Lula.” O cientista político, ao se referir à representatividade dos movimentos sindical e sociais presentes da Plenária, definiu: “A legitimidade política está aqui. Temos que sair na frente. Nos recompor, termos liderança e autocontrole. Vamos enfrentar a extrema direita e, por isso, é hora da unidade”.

Força social própria

A deputada estadual Beatriz Cerqueira considerou que parte dos apoiadores da chapa do PT “não digeriu ou não identificou a força do adversário”. “Acreditaram que o genocida não teria voto, que a extrema direita iria perder no segundo turno de 2018. Mas ela se organizou. Os fascistas se uniram em guerras híbridas, como a disputa pelo pré-sal, pela apropriação de nossas riquezas, para estabelecer o processo de desestatização. E, em 2018, colocaram no governo um representante. Temos que nos organizar para 2026. Tentar aprofundar a cultura democrática”, denunciou.

“Ninguém disputa a conjuntura sem força social própria. Temos um acúmulo de força com a disputa do segundo turno. Um saldo da organização, que venceu tudo. Com os coletivos, as regionais que se empenharam muito pela vitória de Lula. Mas cabe uma reflexão: qual o papel de Minas Gerais. Lutamos para convencer muita gente que Minas, nacionalmente, é muito importante. Que o Estado definiria a eleição. Temos que pensar Minas Gerais. O segundo governo de Romeu Zema será mais ideológico que o primeiro. Será o ‘não ao Estado’. Uma realidade duríssima de privatização generalizada.  Ele está articulado com a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e a ampliação da mineração será outra ação estratégica. O projeto de Zema é ganhar a disputa pela Presidência em 2026, pois é o bolsonarista que deu certo”, analisou Beatriz Cerqueira.

Assim como Rudá Ricci, a deputada estadual ressalta que as eleições municipais daqui a dois anos serão decisivas para a conjuntura política e reitera a importância dos movimentos sindical e sociais no processo de transição e de construção do governo Lula. “Precisamos nos preparar para a disputa em 2024, neste novo cenário, com unidade na tática. Em Belo Horizonte, temos que disputar o projeto de cidade. E temos que começar agora. Precisamos pensar territorialmente e nacionalmente toda Minas Gerais e transformar esta vitória em força social e pressionar o governo Lula por nossas pautas”, afirmou.