Escrito por: Rogério Hilário, com informações do Sindágua/MG
Atividade, realizada na CUT/MG, aponta as ameaças que Belo Horizonte, sitiada por barragens, sofre com as possibilidades de rompimento e aponta a importância da água como bem público
O alerta sobre o grave risco de colapso no abastecimento de água em Belo Horizonte e na Região Metropolitana (RMBH), caso aconteça o rompimento de uma das barragens existentes no entorno da capital, foi um dos pontos discutidos na plenária “Água não é mercadoria”, realizada na última sexta-feira, 22 de março. O evento, promovido pela Secretaria de Meio Ambiente da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG) em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos (Sindágua/MG), celebrou o Dia Mundial da Água.
Cristina Maria, do SOS Vargem das Flores, relembrou a luta travada em Contagem pela preservação da represa, importante reservatório para o abastecimento de água na RMBH. “A luta pela água tem que ser radicalizada, pois a privatização dos serviços de saneamento leva junto as fontes de água. Em Contagem, tivemos um grande enfrentamento, uma guerra pela água, durante sete anos, contra a implantação de um Plano Diretor com forte impacto para Vargem das Flores. Conseguimos derrubá-lo e incluir instrumentos para preservar a represa.”
O presidente da CUT/MG, Jairo Nogueira, salientou que a falta de água em Belo Horizonte e Região Metropolitana já é uma realidade, atingindo as periferias. “Fico preocupado com a informação de que fomos uma caixa d’água e ela está secando. O que se usa de água na mineração e no agronegócio é espantoso. São eles, que têm endereço e CNPJ, que levam nossa água embora, com apoio do governo estadual.”
O dirigente sindical salientou que é preciso intensificar a luta contra a privatização de estatais como a Copasa, projeto do governo Romeu Zema (Novo). “Quando se fala em privatização da água e da energia, Copasa e Cemig, deve-se, primeiro analisar o resultado da venda do Metrô de Belo Horizonte, cuja a administração da concessionária, que pagou apenas R$ 28 milhões por um patrimônio de mais de R$ 700 milhões e ainda terá aportes de mais de R$ 2 bilhões dos governos federal e estadual. A população está insatisfeita. Isso foi comprovado nas matérias veiculadas pela imprensa. Em São Paulo, a concessionária da distribuição de energia elétrica deixou a população, recentemente, três dias no escuro. Depois que assumiu, já demitiu metade de trabalhadoras e trabalhadores. E tem uma rede subterrânea. Não dá para culpar o furto de cabos e fios. Ou seja, a privatização vai ser prejudicial para a população. A tarifa vai aumentar constantemente e a prestação de serviços tende a piorar”, disse.
O presidente do Instituto Fórum Permanente do São Francisco (FPSF), Euler de Carvalho Cruz, um dos convidados da plenária advertiu. “Belo Horizonte é sitiada por barragens. Hoje temos 63 barragens de rejeitos no Rio das Velhas. Em caso de chuvas intensas, pode haver rompimento, e vamos perder 70% do abastecimento de BH e 50% na Região Metropolitana. A situação é gravíssima e temos lutado contra essas barragens”, afirmou.
Outro aspecto a ser levado em consideração, segundo ele, são as mudanças climáticas, um motivo a mais para combater a privatização da água. “Estamos sob vários fatores que nos levam a preocupar com a matriz energética. As mudanças climáticas é um deles. E elas vêm acontecendo em um ritmo acelerado, numa proporção em que muitas pessoas, quando ficam sabendo, não acreditam. As empresas querem manter o sistema capitalismo. De um capitalismo, que alguns definem, como selvagem. Para mim, o selvagem é muito bom, pois significa estar em sintonia com a natureza. Nosso capitalismo é urbano. Traz a seca e, depois, a chuva intensa, que causa destruição. Este ano aconteceu, em Belo Horizonte, uma seca do fenômeno ‘La Niña’. No Brasil, temos seca e chuvas intensas. Os satélites já detectaram isso, um deles, o Grace, fez um levantamento de toda a superfície terrestre. E verificaram que há regiões do mundo que estão secando. Como a Califórnia (EUA), (Argentina), Norte do Peru, Sul da Bahia e Norte de Minas Gerais. Estão perdendo muita água nas nascentes. Os aquíferos estão secando. E quem garante que uma empresa privatizada vai manter ou garantir o abastecimento, o saneamento para a população. Nós estamos caminhando para um clima desértico.”
“E verificamos outra questão dramática em Minas Gerais. De Nova Lima até o Rio das Velhas têm 63 barragens de mineradoras. Propomos a desmineralização. Infelizmente, a mineração está na cabeça de mineiras e mineiros como um benefício para o Estado. Para boa parte da população, pode-se explorar tudo. E propomos também a mudança da bandeira de Minas Gerais. Em vez do triângulo vermelho, a gota d’água. Sem água não tem jeito. E o nome do Estado não pode ser mais Minas Gerais. Tem que ser ‘Águas Gerais’. Já fomos a caixa d’água do Brasil. Temos que recuperar as águas de Minas Gerais”, afirmou Euler Carvalho Cruz.
O presidente do Sindágua/MG e secretário do Meio Ambiente da CUT/MG, Eduardo Pereira, ressaltou a importância da plenária, que aprofundou o debate sobre a importância da água e os riscos da privatização dos serviços essenciais. “Temos que entender o valor da água e conscientizar a população sobre isso, mostrando que a privatização do saneamento não deu certo em lugar nenhum.”
“Não mostraram como foi a privatização das águas no Amazonas. Ou as consequências da atuação da concessionária de saneamento em Ouro Preto. Gostaria de estar ao lado do Lula e mostrar que este é o momento de levar o saneamento para todas e todos. Com a federalização (um projeto em estudo para evitar a privatização de Copasa e Cemig, previstas no Regime de Recuperação Fiscal do governador Romeu Zema), a Copasa, que é a melhor empresa de saneamento do país e que distribui a melhor água, poderia levar o saneamento para toda a população de Minas Gerais, um Estado em que a desigualdade está entre as mais altas”, disse Eduardo Pereira.
Cristina Maria, do SOS Vargem das Flores, relembrou a luta travada em Contagem pela preservação da represa, importante reservatório para o abastecimento de água na Região Metropolitana. “A luta pela água tem que ser radicalizada, pois a privatização dos serviços de saneamento leva junto as fontes de água. Em Contagem, tivemos um grande enfrentamento, uma guerra pela água, durante sete anos, contra a implantação de um Plano Diretor com forte impacto para Vargem das Flores. Conseguimos derrubá-lo e incluir instrumentos para preservar a represa.”
“Brigamos bastante até com o povo para mostrar que temos que manter a água, esta fonte insubstituível e vida. A água, além de tudo, é a base da economia. Sem água não tem emprego. As mudanças climáticas são a resposta do planeta. Há 200 anos, antes da revolução industrial, não tínhamos tanta destruição. A ideia que os recursos naturais eram infinitos. Agora sentimos que tudo colapsou, que vai acabar. A população precisa entender que precisa cuidar da água”, destacou Cristina Maria.
“Fizemos um enfrentamento com o prefeito Alex de Freitas. Ele ciclo de destruição nós não permitimos que aconteça em Contagem. Ele propõe urbanização de áreas rurais. Participamos da luta em audiências públicas e o governo municipal manda os comissionados para nos atacar. Ajudamos a fazer o Plano Diretor, com muito debate acumulado. Conseguimos a aprovação de 80% de nossas propostas. Especialmente as de proteção de Vargem das Flores, como o pagamento de serviços ambientais, para manter as áreas verdes, manter a mata em pé”, acrescentou.
A representante da ONG SOS Vargem das Flores advertiu que Belo Horizonte está sitiada por barragens de minérios e que nossas vidas dependem do Plano de Segurança Hídrica. “São quase 300. E 50 estão no nível 3. Vinte delas nos níveis 4 e 5. E se romperem, o abastecimento pode ser interrompido. A mineração não tem como ser sustentável, não há segurança ambiental. Nossa vida depende deste Plano e de uma pactuação em defesa da água. Belo Horizonte produz apenas 6% da água que consome. O Plano, previsto para durar até 2053, prevê investimento de quase R$ 7 bilhões. Isso nos próximos 30 anos. O povo precisa fazer parte desta decisão.”