Escrito por: MST

Polícia age com truculência durante despejo no Acampamento Quilombo Campo Grande

Polícia de Minas Gerais realiza despejo de trabalhadores Sem Terra durante pandemia. Na área, estava em construção um polo de conhecimento e tecnologia em agroecologia

Gean Gomes - MST

Na madrugada desta quarta-feira (12), centenas de viaturas e policiais cercaram a cidade de Campo do Meio, na Região Sul de Minas Gerais, para despejar famílias trabalhadoras que viviam no Acampamento Quilombo Campo Grande, em uma área no entorno da sede da antiga Usina Ariadnópolis e na Escola Popular Eduardo Galeano. Várias viaturas e drones atormentam as famílias acampadas desde o dia 30 de julho, quando a polícia invadiu casas e levou um Sem Terra preso. A ação foi realizada sem mandado judicial. Na área, estava em construção um polo de conhecimento e tecnologia em agroecologia.

Sem amparo do governo Romeu Zema (Novo), aliado dos estelionatários, as famílias foram abrigadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em um assentamento próximo ao local. A dirigente estadual do MST, Tuira Tule, alertou que essa é a realidade dos trabalhadores que vivem no campo e lutam pela terra em um período de pandemia, quando se elege um governo fascista no país, como o atual.

“Mesmo sendo de conhecimento de todos a manobra corrupta feita com o juizeco local, nenhum órgão público conseguiu interceder para que as famílias ficassem em suas casas, mesmo no meio da pandemia. Mas nós aprendemos sempre a voltar mais fortes. Essa terra é nossa por direito e não abrimos mão de nenhuma centímetro dela”, alerta a dirigente.

O MST denunciou o objetivo de coagir e incriminar os trabalhadores, o que foi confirmado com a soltura de Celso Augusto no mesmo dia, e a nota publicada pela polícia civil. “Um facão e fogos de artifícios foram apreendidos no local, e um indivíduo preso por resistência”, dizia.

Os dias seguiram tumultuados, com a intensificação da denúncia do despejo iminente, a busca de saídas jurídicas junto ao Ministério Público e a organização do acampamento para a resistência. Em meio à corrida contra o tempo, circularam dezenas de áudios das famílias denunciando as ações autoritárias, as rondas de viaturas aceleradas, as blitz nas estradas de acesso à pequena cidade.

Em contraponto, também foram recebidos dezenas de vídeos em apoio. Manifestações em cartas enviadas ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais e na moção on-line envolveram representantes de 24 países (Brasil, Grécia, Estados Unidos, Reino Unido, Colômbia, Austrália, Alemanha, Espanha, Nova Zelândia, Irlanda, Nigéria, Noruega, Itália, Hungria, França, Venezuela, Suíça, Uruguai, Emirados Árabes Unidos, Nicarágua, México, Africa do Sul, Israel, Bélgica) e de 32 entidades internacionais e nacionais, 98 coletivos e representações acadêmicas.

O Conselho Estadual de Direitos Humanos (CONEDH), a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM), a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil/Seção Minas Gerais, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e a Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDESE) alertaram, sem obter respostas, o Tribunal de Justiça para os riscos diante da pandemia. O documento afirma que “diante da iminência de uma lesão irreparável e grave aos Direitos Humanos e ao direito à saúde, solicita-se a suspensão da ordem de cumprimento da liminar possessória para desocupação do imóvel”.

São 22 anos de conflito e resistência no território, lidando com pistoleiros, a mando de Jovane de Souza Moreira. Após enfrentar cinco despejos, em diferentes áreas, as famílias do MST conhecem o caminho para retornar com mais força e conquistar a terra.