Escrito por: Fernando Dutra
“O povo quer trabalho digno e com direitos”, afirma Jairo Nogueira, presidente da CUT Minas
A recente fala dos empresários Ricardo Faria, o “rei do ovo”, que afirmou que as pessoas “estão viciadas no Bolsa Família”, e do presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG), Flavio Roscoe, que chamou de “idiota” quem trabalha de carteira assinada, escancaram um discurso “atrasado” e “arcaico”, segundo o presidente da CUT Minas, Jairo Nogueira.
De acordo com Jairo, os trabalhadores, principalmente os jovens, acordaram e não aceitam vagas de emprego extenuantes com baixa remuneração, com as empresas insistindo em jornadas de trabalho exaustivas e bases salariais abaixo da média.
Em sua fala, Flávio Roscoe criticou as pessoas que recebem Bolsa Família que, segundo ele, preferem manter o benefício social do que trabalhar. “O idiota é quem trabalha com carteira assinada, porque ganha R$ 2 mil, paga imposto, e ainda vai se aposentar com a regra até os 65 anos. O cara que está há 20 anos no programa social se aposenta aos 45 anos”, disse.
“Esse é o discurso do empresariado brasileiro, atrasado, arcaico, que pensa que trabalhador é escravo. Minas Gerais paga um dos menores salários do país, em média salarial. Eles querem explorar ao máximo o trabalhador, mas o povo não é bobo, acordou para isso”, reforçou Jairo.
O presidente da CUT Minas também defendeu o Bolsa Família que, em Minas Gerais, garante uma renda mínima para quase 1,5 milhões de famílias. “O Bolsa Família é um auxílio para as pessoas que não têm renda, que passam por dificuldades. O povo quer trabalhar só não quer em jornadas cansativas com salários baixos”.
Outro ponto lembrado por Jairo Nogueira é que Minas Gerais é recordista na lista suja do trabalho escravo no Brasil. “Enquanto não melhorar a questão da jornada e do salário, vai continuar esse processo, principalmente da juventude, de não querer esse tipo de emprego, que é praticamente escravo em Minas. O povo quer trabalho digno e com direitos”.
Bolsa Família
Em julho de 2025 o Bolsa Família beneficiou 19,6 milhões de famílias em todo o Brasil. Um investimento de R$13,16 bilhões do Governo Federal, um valor médio de R$671,52 por família.
Minas Gerais é o 5º estado com mais famílias beneficiadas pelo programa, atrás apenas da Bahia, São Paulo, Pernambuco e Rio de Janeiro. Ao todo são 1.484.883 famílias mineiras que recebem o benefício.
Ainda em julho de 2025 cerca de 1 milhão de famílias superaram a pobreza e deixaram o programa por terem aumentado a renda familiar. Segundo informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), em 2024, foram criadas 1,7 milhão de vagas com carteira assinada no Brasil. 98,8% dessas vagas foram ocupadas por pessoas cadastradas no CadÚnico e 1,27 milhão eram beneficiários do Bolsa Família.
Geração de emprego
No primeiro trimestre de 2025 foram gerados 654 mil novos empregos de carteira assinada no Brasil, segundo dados do Novo Caged. Desde janeiro de 2023 o número alcança 3,8 milhões de vagas formais. Nos últimos 12 meses o acumulado é de 1,6 milhão de vagas geradas.
Em Minas Gerais o acumulado do primeiro trimestre foi de 75,89 mil postos formais. Só em março foram 18,1 mil novas vagas com carteira assinada. Nos últimos 12 meses o estado registrou 126,59 mil vagas.
Trabalho escravo em Minas Gerais
O Estado de Minas Gerais é destaque negativo no Brasil com relação à lista suja do trabalho escravo, segundo informações do Ministério do Trabalho e Emprego, com 21% do total de empregadores divulgados. Dos 745 nomes divulgados pelo ministério 159 são de Minas Gerais.
Para ser incluído na lista suja de trabalho escravo o empregador teve seu processo administrativo qye julgou o auto específico de trabalho análogo à escravidão concluído.
Denúncias contra o trabalho escravo no Brasil podem ser feitas de forma sigilosa por diversos canais, sejam o Disque 100, o Sistema Ipê, o Ministério Público do Trabalho (MPT) e as Superintendências Regionais do Trabalho.