Escrito por: Rogério Hilário, com informações do Coletivo Nacional de Comunicação do MAB e do Estado de Minas

Ato em BH com ministro das Minas e Energia por Justiça em Brumadinho

Além do ministro Alexandre Silveira, promotores e parlamentares participaram do evento que integra a Jornada de Lutas, promovida pelo Movimento dos Atingidos por Barragens para cobrar reparação

Francisco Kelvim/MAB

Na manhã desta quarta, 25 de janeiro, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) promoveu uma plenária na Faculdade de Direito da UFMG, reunindo cerca de 500 atingidos da Bacia do Paraopeba e do Rio Doce para marcar os quatro anos do crime de Brumadinho. Durante o ato "Indenização Justa Já", atingidos denunciaram a falta de reparação integral para diferentes comunidades da Bacia e cobraram apoio das autoridades presentes para a promoção de justiça e segurança para a população do Estado.

“As famílias que estão aqui vieram para denunciar como suas comunidades seguem sem reparação, convivendo com novas violações de direitos, com águas contaminadas com superbactérias, poluição do solo e do ar e com a saúde física e mental cada vez mais ameaçada. Além disto, os atingidos homenageiam e fazem a memória das 272 vidas perdidas e prestam solidariedade às famílias das vítimas, em especial das três ainda não encontradas”, afirmou Letícia Oliveira, coordenadora do MAB na abertura do evento.

Em sua fala, Jarbas Soares Júnior, procurador Geral de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) se comprometeu a atuar por um acordo justo.

O ministro de Minas Energia, Alexandre Silveira, reafirmou o compromisso assumido em sua posse no governo federal. “Não esqueceremos Brumadinho e Mariana. Vamos investir recursos e esforços na fiscalização ferrenha de segurança de barragens para impedir que eventos lamentáveis voltem a acontecer”, afirmou.

Silveira também falou sobre a necessidade de se criar novas práticas na mineração do país que priorizem o respeito à vida. “Iniciamos nosso trabalho pautando nossas ações pelo viés da justiça socioambiental, com redução das desigualdades, diminuição dos impactados para as pessoas afetadas e inclusão das comunidades nos resultados positivos dos empreendimentos. Não haverá possibilidade no nosso país de qualquer política mineral tolerante com a insegurança. Nosso compromisso é com a segurança e o respeito à vida.  Nossos recursos minerários devem ser explorados de forma oportuna, sustentável e racional”, disse.

Por último, o ministro ressaltou a importância dos movimentos sociais como o MAB na defesa dos interesses dos atingidos. “Recebi na última semana, representantes do MAB para ouvir sobre as demandas das famílias impactadas pelos rompimentos de Brumadinho e Mariana, além de dialogar sobre políticas públicas capazes de garantir a segurança da atividade mineral no país. Tenho clareza da importância de ouvir os movimentos sociais”.

Diversificar o modelo econômico de Minas Gerais

A deputada eleita Duda Salabert (PDT) também manifestou seu apoio aos atingidos por barragens e se comprometeu a lutar não só pela responsabilização dos culpados pelos crimes de Mariana e Brumadinho, mas também por um modelo econômico mais racional no Estado de Minas Gerais “quatro anos do crime da Vale em Brumadinho. Dia de Luto, mas dia de Luta, pois as mineradoras estão destruindo não só a vida do povo, mas também a legislação ambiental. As mineradoras continuam destruindo nossas serras, como a Serra do Curral e a Serra do Gandarela. Estão destruindo nossos aquíferos e estão destruindo também nossas instituições, porque as mineradoras têm comprado uma parcela do legislativo, tem comprado uma parcela do judiciário e tem financiado o executivo”, anlisou a parlamentar.  

Duda também afirmou que muitas comunidades são reféns das mineradoras que pregam uma ideologia segundo a qual Minas Gerais depende intrinsecamente da mineração.

Para Joelísia Feitosa, atingida de Joatuba, na Bacia do Paraopeba, há quatro anos, os moradores estão sendo negligenciados. “Nós tivemos um acordo feito pela mineradora sem o governo que não tem a centralidade dos atingidos. Queremos agora ter protagonismo. Em primeiro lugar, a gente quer que a justiça seja feita, que a Vale seja punida e que essa punição sirva de exemplo para que o crime não se repita de novo, porque 272 vidas foram ceifadas. E até hoje estamos sofrendo com insegurança hídrica e problemas de saúde”, destacou a moradora que é uma das coordenadoras do MAB na região.

“Queremos o rio Paraopeba de volta. Vamos continuar na luta até termos a reparação integral, até termos o nosso rio de volta e até temos criminosos responsabilizados”, complementou Feitosa.

Também participaram do evento Carlos Bruno Ferreira, procurador do Ministério Público Federal – MPF, Luiza Dulci, representante da Secretaria Geral da Presidência da República, Luísa Barreto, secretária de Planejamento e Gestão do Estado de Minas Gerais, Sandra Regina Goulart Almeida, reitora da UFMG, Raquel da Costa Dias, defensora pública-geral de Minas Gerais - DPE e Sérgio Pessoa de Paula, advogado geral de Minas Gerais, e Ricardo Iannotti, subsecretário da Casa Civil do governo do Espírito Santo, entre outras autoridades. Também prestigiaram o ato organizações parceiras do MAB como a Caritas, a CUT, a CTB, a CMP, o Sindipetro/MG, o Sind-UTE/MG e as assessorias técnicas (Aedas e Guaicuí).

Francisco Alvim/MABO ministro da Minas e Energia, Alexandre Silveira, participa de ato na Faculdade de Direito da UFMG

Programação se encerra no Tribunal de Justiça

À tarde, o ato “Indenização Justa Já” no Tribunal de Justiça, na Avenida Raja Gabaglia, encerrou a programação de homenagens e manifestações. O presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum), Alexandra Costa, expressou o sentimento de dor e indignação que a falta de justiça têm causado nos atingidos pela tragédia.

“Já tem quatro anos que a tragédia-crime aconteceu e até hoje ninguem foi punido, nenhuma empresa responsabilizada. São 270 pessoas mortas, entre elas duas gestantes, crianças que não tiveram nem sequer o direito de nascer”, completou Alexandra Costa.

Romaria em Brumadinho

No início da manhã, a 4ª Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho levou milhares de pessoas em procissão pelas ruas da cidade até a Igreja Matriz de São Sebastião. Em entrevista coletiva, convidados falaram sobre as diversas formas de violações das vidas causadas pelo desastre da Vale e o modelo predatório de mineração.

A romaria teve como mote central a água, elemento que carrega a simbologia da vida. Na paróquia, uma missa foi celebrada reforçando o momento de reflexão e homenagem às vítimas, o que para o MAB é uma forma de unificar os símbolos que movimentam e dão sentido à luta.