Escrito por: Sintraf JF
Vítima de fake news, Lívia Terra foi relacionada por seguidores de Bolsonaro a atentado, o que trouxe inúmeros prejuízos à sua vida pessoal e profissional
Na última semana a vice-presidenta do Sindicato dos Trabalhadores do Ramo Financeiro da Zona da Mata e Sul de Minas (Sintraf-JF), Lívia Terra, recebeu a informação que aguardava ansiosamente nos últimos quatros anos. O responsável pela divulgação de fake news que a relacionava ao atentado ocorrido com o então candidato à presidência Jair Bolsonaro, em Juiz de Fora no dia 6 de setembro de 2018, foi condenado. A Justiça decretou pena de 10 meses e 20 dias de prisão, que irão se converter em trabalho comunitário.
À época, dois dias após o atentado a dirigente sindical foi surpreendida com diversos ataques em suas redes sociais com acusações e várias inverdades. Lívia teve sua vida pessoal e profissional interrompida, inclusive sua mobilidade, por conta das ameaças que não paravam de chegar. Inclusive as redes da própria entidade sindical em que atuava e atua, o Sindicato dos Trabalhadores do Ramo Financeiro da Zona da Mata e Sul de Minas (Sintraf JF), também foram atacadas e o sindicato vítima também do compartilhamento de inverdades.
Seguindo orientação da assessoria jurídica do Sindicato, Lívia ajuizou o ocorrido. Agora a bancária comemora a decisão da justiça. “Estamos à beira de viver eleições ainda mais violentas do que a última e essa sentença vem como um alerta e um aprendizado: a Internet não é terra sem lei e as pessoas precisam pensar milhares de vezes no que fazem em suas redes sociais. Ninguém pode se sentir protegido atrás da tela de um computador para cometer crimes, porque uma postagem mentirosa pode destruir a vida de alguém. Fake news é crime! Calúnia e difamação são crimes! E atentem que a legislação agora é até mais rígida do que era quando essa desgraça aconteceu comigo.”, comenta a sindicalista.
Em suas redes sociais Lívia fez uma declaração pública onde também agradece àqueles e àquelas pessoas e organizações que contribuíram e a apoiaram nesse momento difícil. O SINTRAF JF se orgulha pela coragem da diretora e mantém seu compromisso com a informação e com a verdade.
Leia a declaração de Lívia Terra:
"CONCLUÍDO O PROCESSO SOBRE FAKE NEWS DIVULGADAS SOBRE MIM EM SET/2018
Em 8 setembro de 2018 fui surpreendida com uma postagem no Facebook que me vinculava ao odiendo atentado ao então candidato Jair Bolsonaro ocorrido aqui em Juiz de Fora dois dias antes.
Tal postagem acabou por gerar uma enorme repercussão, milhares de compartilhamentos e dezenas de outras similares. Muitos, ao invés de pesquisarem e constatarem que aquela postagem era uma mentira, gastaram seu tempo pesquisando sobre minha vida e produzindo textos com todas as minhas informações.
Foi um verdadeiro show de horrores! Muitas mensagens agressivas e ameaçadoras, dois meses sem poder andar pelas ruas desacompanhada pois os olhares eram muitos e causavam pavor.
Esse terrível episódio acabou por me causar episódios de pânico, depressão e ansiedade. São muitos anos lutando contra esse adoecimento. São muitos anos na dependência de medicamentos e terapia... Por anos fiquei com dificuldade em sair da minha casa, único lugar que me sentia totalmente segura. Eu só conseguia sair para trabalhar, mesmo assim depois de passar por crises horrorosas de pânico: tremores, taquicardia, ânsia de vômito, aperto no peito, falta de ar, choro descontrolado... Inúmeras vezes tive que parar no meio do caminho descer do veículo que me encontrava e só conseguia prosseguir depois de vomitar ou passar muitos minutos andando de um lado pro outro. São quase quatro anos da minha vida vivendo um verdadeiro terror! Alterno fases críticas com fases mais leves, mas o adoecimento ainda está aqui e, vez em sempre, me assombra.
Consegui, com a ajuda de amigos queridos, descobrir quem era o principal responsável por aquelas acusações, aquele que tinha iniciado tão criminosa mentira.
Não pensei duas vezes: o processei!
No último sábado recebi a notícia que venho esperando há anos: o responsável pela postagem foi condenado a 10 meses e 20 dias de prisão, que irão se converter em trabalho comunitário.
Estou em êxtase, meus amigos! Esperei muito tempo por esse momento. Me sinto justiçada.
Sem contar que, mesmo que para mim essa sentença tenha demorado tempo demais, para o país, ela chega no momento mais oportuno. Estamos à beira de viver eleições ainda mais violentas do que a última e essa sentença vem como um alerta e um aprendizado: a Internet não é terra sem lei e as pessoas precisam pensar milhares de vezes no que fazem em suas redes sociais. Ninguém pode se sentir protegido atrás da tela de um computador para cometer crimes, porque uma postagem mentirosa pode destruir a vida de alguém. Fake News é crime! Calúnia e difamação são crimes! E atentem que a legislação agora é até mais rígida do que era quando essa desgraça aconteceu comigo.
Preciso ser justa e reconhecer que fui e sou privilegiada. Tive muito apoio. Tenho que agradecer a muitos amigos: aos meus colegas da Caixa que, além de me dedicarem muito carinho, foram também muito compreensíveis e entenderam todos os momentos que não tive condições de me dedicar a eles como eles merecem; aos atuais e ex-diretores do sindicato dos Bancários de Juiz de Fora, que me acolheram e cuidaram durante todo esse tempo; aos companheiros de militância que se movimentaram e mobilizaram pra me defender naquele momento; aos companheiros dirigentes sindicais Bancários de todo o país; à Fetrafi/MG; à Contraf/CUT; à Fenae; ao Espedito e ao meu primo Marquinho, que num primeiro momento se colocaram como meus advogados, me acompanharam à PF e me deram as primeiras orientações; ao deputado federal Padre João, que naquele momento era presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal e intimou o Estado de Minas a abrir um inquérito sobre o que aconteceu comigo; ao amigo Conrado, que saiu enviando e-mails para todos os lados, no intuito de me ajudar e proteger; ao meu querido amigo Oleg, que esteve comigo o tempo todo, me apoiando e me cuidando; à amiga Taiomara que me pegou pelas mãos e cuidou da minha saúde. Agradecer ao amor incondicional que sempre tive das minhas famílias, tanto materna quanto paterna. Principalmente as minhas primas Naína e Bolota, que sempre conseguem me alegrar e durante muito tempo eram as únicas pessoas que eu queria por perto. Agradecer principalmente aos meus pais, porque aguentaram a barra mais pesada, pois na hora que a crise vem, é a mãe que vem correndo me socorrer e acolher.
E por último e mais importante, agradecer ao doutor Thiago Almeida e à Doutora Letícia Delgado, meus advogados incansáveis e comprometidos, como se meu caso fosse uma causa.
Quero finalizar dedicando essa minha vitória às outras mulheres que foram vítimas da mesma mentira que eu. Foram mais duas ou três, se não me engano. Infelizmente, a justiça no nosso país não está acessível a todos e, até onde sei, elas não tiveram meios de conseguir processar seus algozes. Não sei seus nomes, não tenho seus contatos, mas essa sentença, a sentença que prova que somos inocentes e vítimas, quero compartilhar com elas, dedicar a elas.
Obrigada pelo carinho de todos vocês!
Esse é o início do fim de tanto sofrimento. É o ponto final de um processo muito, muito dolorido.
Daqui a pouco, tenho certeza, que a Lívia que existia antes daquele fatídico 2018 irá reaparecer totalmente!
Nos encontramos na militância! Porque não me destruíram e nunca irão me parar!
Abraços fraternos e apertados em cada um de vocês!!!"