Escrito por: Wir Caetano - Sindmon-Metal
Como integrante de projeto idealizado por rede de ensino, sindicato propôs levar temática a trabalhadores e trabalhadoras da Usina de Monlevade
“Gostaríamos até que a ArcelorMittal admitisse muitas mulheres e as trouxesse para cá [para filiação sindical].” Com essa frase em aparente tom de brincadeira, o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de João Monlevade (Sindmon-Metal) e da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT) José Quirino se referiu à política CUTista que exige participação igualitária de gênero nas diretorias de sindicatos filiados à central. O comentário foi feito na abertura de evento que discutiu violência contra a mulher, realizado na última quinta-feira (15), na sede do Sindmon-Metal.
O evento, que contou com palestra da advogada Ariete Pontes de Oliveira, doutora em Direito e professora da Faculdade Doctum de João Monlevade, é fruto de parceria entre essa instituição de ensino, o Sindmon-Metal e a ArcelorMittal. O objetivo é mudar a cultura machista que está na base das práticas violentas motivadas por diferença de gênero.
Ariete Pontes disse que discutir gêneros é discutir diversidade e que, segundo a Constituição Federal, todos os “sujeitos diversos merecem igualdade”. Ela destacou, porém, que legislação não muda conduta e, por isso, é preciso é mudar padrões culturais. Com uma breve análise histórica, a advogada disse que somos regidos pelo patriarcado que toma a desigualdade como algo natural e, dessa forma, reserva espaços desiguais para homens, mulheres e segmento LGBT na vida doméstica, no trabalho e nos outros espaços sociais.
Diferenças
A professora Ariete Pontes destacou que a violência contra a mulher acontece em todas as classes e lugares sociais, mas que o problema é ainda mais grave quando se considera o componente racial. Citando o Mapa da Violência 2015, ela lembrou que, de acordo com esse documento, o assassinato de mulheres negras aumentou (54%) enquanto o de brancas diminuiu (9,8%).
Em junho deste ano, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicou o Atlas da Violência 2019, com dados atualizados. Por esse levantamento, entre 2007 e 2017, o aumento de homicídios que tiverem vítimas do sexo feminino ficou em torno de 20,7%, sendo que o crescimento chegou a 60% entre negras frente 1,7% entre as demais.
A presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (Sintramon), Isaura Bicalho, que participou da mesa do evento, disse que o machismo está presente também no meio sindical. A abordagem foi reforçada pela professora Cida Ribeiro, coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), subsede de João Monlevade, que disse ainda que governantes “não gostam de negociar com mulher”.
Parceria
“Quando o Sindmon-Metal nos procurou propondo uma parceria, concordamos prontamente”, disse o gerente de Recursos Humanos da ArcelorMittal Monlevade, Vander Neves. Em sua opinião, instituições que têm historicamente um papel de influenciadoras precisam se mobilizar para implementar mudanças na sociedade.
O Sindmon-Metal participa de um grupo de trabalho da Faculdade Doctum encabeçado pela professora Ariete Pontes, idealizadora do projeto “Ciranda Cirandinha, Vamos Todxs Cirandar”, dedicado ao combate à violência contra a mulher. Em julho, o sindicato propôs à ArcelorMittal levar essa temática aos trabalhadores e trabalhadoras da siderúrgica. Teve início então a parceria, envolvendo ação integrada com um programa que a empresa começa a implementar.
O presidente do Sindmon-Metal, Otacílio das Neves Coelho, defende que “sindicatos e centrais sindicais têm papel que vai muito além das demandas restritas de suas categorias, e parcerias ajudam a ampliar ações em benefício da sociedade”. Na opinião do sindicalista, trabalhar em pautas comuns de interesse da comunidade não implica fazer concessões em bandeiras específicas da base que que o sindicato representa. “Temos consciência de nossos compromissos históricos”, destaca.
Wir Caetano