Escrito por: Rogério Hilário / CUT-MG

Trabalhadores e sindicalistas denunciam desrespeito da Gerdau com demissão em massa

Empresa anuncia fechamento de usina siderúrgica de Barão de Cocais em decisão unilateral que pode afetar mil empregados direitos, terceirizados e fornecedores. Reunião na ALMG debate os impactos das demissões

Alexandre Netto/ALMG

A demissão de quase 500 trabalhadores com o fechamento de usina da Gerdau em Barão de Cocais (MG), gerou controvérsias em audiência pública nesta quinta-feira, 4 de julho. Representante da empresa alega que tudo foi feito em diálogo com os empregados, os sindicatos e a prefeitura. Mas esses negaram, porém, e disseram terem sido surpreendidos pela decisão unilateral da Gerdau.

A reunião foi realizada pela Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Foram apresentados dados indicando que as demissões vão significar redução de 7,5% dos empregos do município. Em termos financeiros, 12,7% da massa salarial da cidade será perdida.

Representantes da Gerdau alegam baixa produtividade da planta de Barão de Cocais, instalada em 1988. De acordo com Guilherme Rangel Mattos, consultor jurídico da empresa, a usina é antiga e tem baixo nível tecnológico. Ele informou que, depois da decisão de fechamento, foram iniciados diálogos com todos os envolvidos e que se busca e minimizar os impactos negativos da decisão.

Ele disse que a empresa tem buscado realocar alguns dos trabalhadores em outras plantas da Gerdau. Segundo Guilherme Rangel Mattos, estão abertas cerca de 200 vagas para esse arranjo e pelo menos cem empregados já aceitaram as propostas. Além disso, a empresa oferece cursos de capacitação para facilitar a reinserção no mercado de trabalho.

Como chamou atenção a deputada Beatriz Cerqueira (PT), a narrativa destoa do que contaram trabalhadores, sindicatos e representantes da gestão municipal. Todos eles negaram o diálogo e se queixaram de desrespeito da empresa. Um dos empregados, Lúcio Bonifácio Pastor, disse que eles foram “praticamente expulsos” da usina e que vigilantes “supostamente armados” os escoltaram até a sala na qual foram avisados da demissão.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Barão de Cocais, Elizeu Santa Cruz, acrescentou que a decisão surpreendeu em especial pelo histórico da empresa no município. Segundo ele, pelo menos desde 2012 a Gerdau tem retirado direitos e reduzido salários dos trabalhadores em negociações coletivas. Nessa, os empregados foram, segundo ele, coagidos a aceitar as perdas para que a empresa pudesse manter a planta no município.

Também o vice-prefeito, Lourival Ramos de Sousa, esteve presente e chamou de “injusta” a decisão da Gerdau. Ele disse que a empresa não ofertou nenhuma alternativa ao fechamento e afirmou que há outras empresas interessadas na planta da usina. Ele sugeriu que seja feita a transferência para que os empregos sejam mantidos. O vereador Rafael Augusto Gomes acrescentou que outra alternativa seria estatizar a usina.

Os deputados Betão e Leleco Pimentel, ambos do PT, repudiaram a postura da empresa por apresentar informações inconsistentes na reunião. Também a deputada Nayara Rocha (PP) ressaltou que as informações de que houve negociações com trabalhadores e com a gestão municipal não são verdadeiras. 

Negociações

De acordo com os alguns convidados, as negociações só começaram depois que as demissões se iniciaram. O representante do Ministério do Trabalho e Emprego em Minas Gerais, Carlos Alberto Calazans, disse que foi informado da decisão no dia 26 de maio, um dia antes do início das demissões. “A decisão foi unilateral, não houve negociação”, afirmou.

Depois do início das demissões, ele afirmou que foram feitas reuniões com representantes da empresa para minimizar os impactos. Conseguiu-se, então, melhorar o acordo com os trabalhadores demitidos. Em primeiro lugar, eles receberão dois meses de salário, não apenas um mês como a proposta original. Além disso, receberão três meses de plano de saúde, quando inicialmente a empresa ofereceu apenas um.

Outra demanda que a empresa disse que vai atender, segundo Calazans, é manter os trabalhadores que estão próximos da aposentadoria. Seriam cerca de 80 empregados nessa situação de acordo com levantamento da Gerdau.

Por outro lado, Calazans informou que a realocação de trabalhadores de Barão de Cocais tem se dado em Ouro Branco e em Divinópolis. Nessa última, já foram registradas 25 demissões, como informou o convidado, sugerindo que há substituição de profissionais.

Baixa produtividade é questionada

Dados apresentados pela pesquisadora do Instituto Latino Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese), Ana Letícia Godoi Silva, contestam alegação de falta de produtividade da empresa. Ela mostrou que, considerados os dados desde 2011, o faturamento da empresa deu um salto nos últimos três anos. Em 2020, esse faturamento foi quase quatro vezes maior do que no ano anterior.

Segundo ela, esse aumento não foi consequência de maior produção, o que poderia resultar em mais postos de trabalho. O faturamento teria aumentado em razão do aumento dos preços do ferro, por causa do represamento da demanda durante a pandemia, e pela desvalorização da moeda nacional diante do dólar.

Nesse sentido, o aumento do faturamento sem aumento dos custos resultou em grande ampliação dos lucros e dos dividendos dos acionistas. Paralelamente, o número de trabalhadores ficou estável de forma que, de acordo com Ana Letícia Godoi Silva, em 2020 cada empregado foi responsável pela produção de quase R$ 1 milhão para a empresa. Ela questionou, portanto, a narrativa de que havia baixa produtividade. 

Entenda o caso

No dia 27 de maio, a Gerdau comunicou de forma unilateral a paralisação das atividades de sua Usina Siderúrgica em Barão de Cocais. Durante a troca de turno, os trabalhadores foram surpreendidos com a decisão, sem qualquer comunicação prévia aos funcionários, Poder Público ou comunidade. Essa ação foi vista como desrespeitosa e vexaminosa, especialmente considerando que são esses trabalhadores que, ao longo de décadas, contribuíram significativamente para a construção da empresa.

Estima-se que aproximadamente 487 operários diretos sejam impactados, além de milhares de terceirizados e fornecedores ligados à referida usina. Em resposta à decisão da Gerdau, o Sindicato dos Metalúrgicos de Barão de Cocais tem mobilizado esforços para reverter o fechamento da usina. Eles argumentam que a siderúrgica possui boa saúde financeira e que recentemente recebeu investimentos vultosos, contradizendo a justificativa de que a estrutura estaria ultrapassada.

Além disso, o sindicato menciona que o governo federal já atendeu às demandas do setor siderúrgico, como a taxação do aço chinês em 25%, o que, na visão deles, invalida as razões apresentadas pela Gerdau para a paralisação.

Durante um ato público realizado em 27 de junho no centro de Barão de Cocais, apoiado por diversas organizações que manifestaram solidariedade aos trabalhadores, foram relatados casos de trabalhadores que foram escoltados por seguranças e até mesmo induzidos a assinar suas demissões. A situação também gerou indignação devido ao fato de a usina ser considerada um modelo de operação ecologicamente correta na região. Além disso, a usina possui mais de 100 anos e está representada na bandeira do município, sendo de grande relevância para a identidade do povo cocaiense.

Sob o lema: Contra o fechamento da Gerdau em Barão de Cocais e não à desindustrialização do Brasil, os sindicatos e movimentos sociais presentes no referido ato ressaltaram que os impactos sociais e econômicos da decisão são consideráveis.

Primeiramente, há o impacto direto no emprego, com aproximadamente mil trabalhadores diretos e indiretos com suas fontes de trabalho e renda ameaçadas. Em segundo lugar, prevê-se uma queda significativa na arrecadação municipal, estimada inicialmente pela prefeitura em R$ 4 milhões anuais, somente em impostos diretos, sem contar os efeitos sobre o comércio local e serviços.

Para além disso, a presente situação aponta um processo mais grave de retrocessos no desenvolvimento da tímida cadeia produtiva do nosso estado, ameaça à soberania popular e à diversificação da matriz econômica de Minas Gerais, o aumento da minerodependência, dos danos ambientais, os potenciais conflitos socioambientais e as crises hídricas, bem como o ciclo persistente de desemprego e empregos precarizados na região.

*Com informações da ALMG e Sindicato dos Metalúrgicos de Barão de Cocais