Escrito por: Amélia Gomes – Brasil de Fato Minas Gerais

Única escola pública e profissionalizante de artes em MG está sob ameaça

Desde 2019, a comunidade escolar do Cicalt já denunciava uma série de desmontes praticados pelo governo de Romeu Zema (Novo)

Clarissa Barçante

Uma escola sem energia elétrica, com mofo nas paredes, invasão de animais peçonhentos e falta de infraestrutura adequada para os cursos. Essa é a situação do Centro Interescolar de Cultura, Arte, Linguagens e Tecnologias (Cicalt), em Belo Horizonte. A instituição é a única entidade pública do Estado que oferta cursos gratuitos e profissionalizantes em artes, como teatro, dança e moda. A entidade está localizada na sede do Plug Minas, o Centro de Formação e Experimentação Digital, e enfrenta graves problemas.

No início do ano, com o fim da vigilância no campus, os cabos de energia elétrica da instituição foram furtados, o que acarretou numa série de problemas, desde a perda de alimentos e equipamentos escolares, até um acidente envolvendo um aluno. O processo de matrícula dos estudantes, por exemplo, teve que ser feito remotamente pelos servidores em seus equipamentos particulares por falta de internet. Mas, mesmo antes desse episódio, a situação já era preocupante.

Sucateamento e abandono

Desde 2019, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) acompanha as queixas da instituição. Na época, a comunidade escolar do Cicalt já denunciava uma série de desmontes praticados pelo governo de Romeu Zema (Novo), como o corte no fornecimento do vale-transporte aos alunos.

Recentemente, o tema voltou à pauta da Casa. Em audiência pública, realizada no último dia 12, a estudante Júlia Soares, representante do grêmio estudantil, denunciou a evasão escolar. “Estudante de periferia não consegue ir para a escola sem vale-transporte. Estou vendo meus colegas saírem um por um e são os estudantes negros que saem primeiro”, relata. “É vergonhoso o que o Estado está fazendo com a gente”, completa.

A representante também denunciou o corte do almoço fornecido aos estudantes. “Como você deixa um estudante com fome? Nós precisamos ensaiar, fazer trabalhos, às vezes ficamos os três turnos na escola e não temos mais direito ao almoço”, aponta.

Fusão com escola regular piorou a situação

A situação na instituição se agravou após a fusão do Cicalt com a Escola Estadual Amélia Castro Monteiro. Em 2021, sob protesto de ambas comunidades escolares, o governo de Minas Gerais fundiu a escola regular com o centro cultural profissionalizante. Na época, a alegação era de que o prédio da escola Amélia Castro, que funcionava há 66 anos, era inadequado.

O ônus da fusão foi um dos pontos principais do debate na Assembleia. De um lado, estudantes de dança e de teatro perderam seu espaço de ensaios. De outro, estudantes do ensino regular foram colocados em salas de aula improvisadas.

Falta de diálogo na gestão do espaço

Para estudantes, docentes e servidores, a falta de diálogo entre a comunidade e a direção geral do Plug Minas tem sido um entrave. A comunidade escolar afirma que há pouca abertura para a participação nas decisões da gestão, que desconhece as atividades desenvolvidas no próprio campus. “A gente fez uma instalação artística que foi retirada, jogada fora e ninguém deu satisfação nenhuma”, denunciou, durante a audiência pública, a professora de dança Juliana Cancio.

Outro questionamento é a destinação dada ao recurso conquistado pelos alunos do Cicalt, via emenda parlamentar, para suprir o gasto dos estudantes com transporte. A representante do grêmio estudantil Julia Soares, denunciou que a verba foi realocada para uma reforma na instituição, no entanto, não houve uma consulta aos alunos sobre a mudança no uso.

Em resposta, a diretora geral do Plug Minas, Denise Roberta Calonge, afirmou que mantém uma gestão acessível à comunidade e que os recursos do Cicalt não estão sendo desviados. “Não está sendo retirado dinheiro da escola para resolver a situação do campus”, pontuou. Sobre a situação do vale-transporte, a diretora explicou que, desde que a entidade transitou da Secretaria de Cultura para a de Educação, houve corte no investimento.

Sem previsão de abertura de novas turmas, comunidade teme futuro

Ainda durante a audiência, a comunidade escolar denunciou que a Secretaria de Educação não pretende abrir novas turmas na instituição. Ao contrário da escola regular, o Cicalt funciona por módulos, por isso a cada semestre os professores são desligados e novamente contratados. No entanto, para o restante do ano de 2022 não há previsão de novas turmas. De acordo com a pasta, a legislação eleitoral não permite a contratação de novos trabalhadores. Essa alegação foi duramente questionada pela deputada Beatriz Cerqueira (PT), presidenta da Comissão de Educação Ciência e Tecnologia da ALMG.

“A equipe do governo que está na Educação veio de outro estado e desconhece as regras. A contratação para os estudantes não ficarem sem aula sempre aconteceu e a legislação prevê que ela continue acontecendo”, apontou. A parlamentar requereu também uma nova audiência, prevista para setembro, para questionar o governo sobre o assunto e também sobre a política de assistência estudantil sobre as condições de trabalho dos servidores, entre outras pautas.

O que diz o governo

Questionada sobre as denúncias da comunidade escolar do Cicalt, a Secretaria de Estado de Educação informou que não há intenção da pasta em fechar a instituição. No entanto, não se posicionou sobre a situação do segundo semestre letivo e sobre a abertura de novas turmas. Confira na íntegra a nota da Secretaria.

A Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG) informa que o atendimento aos estudantes do Centro Interescolar de Cultura, Arte, Linguagens e Tecnologias (Cicalt), que fica dentro do PlugMinas, em Belo Horizonte, segue normalmente e que não há qualquer intenção de fechamento da unidade de ensino. Recentemente, o local foi alvo de arrombamentos e furtos de cabeamento elétrico, o que provocou a falta de energia no campus, contudo, os reparos necessários serão realizados nos próximos dias.

Cabe ressaltar que a absorção dos alunos, da antiga Escola Estadual Professora Amélia de Castro Monteiro pelo Cicalt, possibilitou o atendimento aos estudantes da região, com turmas de ensino regular, Ensino Médio em Tempo Integral e Profissional e de Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Reforçamos que o vale transporte ofertado aos integrantes do programa Valores de Minas, como mencionado, foi encerrado em 2019. Conforme legislação vigente, o Cicalt segue as normativas das demais escolas da rede pública estadual, onde o encaminhamento dos estudantes pelo Sistema Único de Cadastro e Encaminhamento para Matrícula (SUCEM) é feito para as escolas mais próximas de suas residências, de acordo com a disponibilidade de vagas por turno, o espaço físico de cada escola, o tipo de atendimento prestado e o nível de ensino ofertado, sempre respeitando os critérios de alocação e desempate, previstos em resolução.