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Cemig: a lógica é sucatear para privatizar

Publicado: 27 Setembro, 2019 - 00h00 | Última modificação: 27 Setembro, 2019 - 11h46

O presidente da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), Cledorvino Belini, tentou justificar na Assembleia Legislativa, em audiência pública para a qual foi convocado pela Comissão de Trabalho, da Previdência e da Assistência Social, o fechamento da base operacional do bairro São Gabriel e a transferência de eletricitárias e eletricitários para o Anel Rodoviário, alegando a economia de R$ 1,2 milhão por ano. E que a venda do prédio geraria entre 12 e 13 milhões para investimento na melhoria dos serviços prestados a mais de 1 milhão de consumidores.

A medida se baseia, na verdade num processo de privatização da empresa, inverso à criação da Cemig, uma empresa que surgiu para contribuir para o desenvolvimento de Minas Gerais e que, de Juscelino Kubitscheck a Itamar Franco, teve um desempenho e uma eficiência que foram de excelência na geração, na distribuição de energia elétrica e na prestação de serviços, reconhecidos em todo o Brasil. E, posteriormente, o que vimos foi o crescimento da terceirização, com a contração de empreiteiras, em detrimento de pessoal próprio e concursos, que provocou acidentes e mortes, e políticas seguidas de sucateamento, como o fechamento de localidades, venda de usinas e perdas de outorgas.

Depois do que o presidente da Cemig, Cledorvino Belini, disse na audiência pública, acredito que ele deveria conversar mais com o governador do Estado. Um diz que a empresa caminha para a eficiência em todos os níveis e o outro fala que a companhia é um estorvo para a economia mineira.

A Cemig já foi reconhecida como a melhor energia do país, com média anual de um dígito (9 horas) na perda da continuidade do serviço – tempo em que há problemas na distribuição de energia. Na Eletropaulo, após a privatização, a média anual subiu de 13 para 23 horas anuais.

Com o fechamento da base do bairro São Gabriel, bem como de mais de 50 localidades, este tempo sem energia elétrica e para que sejam deslocadas as equipes para prestação de serviços tende a aumentar, ainda mais no período chuvoso. A transferência das equipes para o Anel Rodoviário significa o distanciamento do atendimento para mais de mais de  1 milhão de pessoas no Vetor Norte, que compreende bairros e municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte. A vida do Anel é um caos do deslocamento urbano e a transferência pode gerar um custo ainda maior para a empresa. Além do mais, a economia com o fechamento da base, de R$ 1,2 milhão anual, é insuficiente para pagar apenas a remuneração anual do próprio presidente da Cemig, uma empresa que, só este ano, já lucrou R$ 2 bilhões.

Trabalhadoras, trabalhadores e consumidores serão prejudicados e, percebemos, que os critérios para o fechamento de bases, como a de São Gabriel, atendem a uma perspectiva econômica e a uma política de mercado. É um equívoco que não traz qualquer benefício para empresa ou para a população.

O que governo de Romeu Zema quer fazer já foi tentado em 1997. Não tem nada de novo. O objetivo é piorar o atendimento, principalmente no período chuvoso, quando a demanda aumenta, para que a população vote em referendo pela venda da Cemig. Piorar o atendimento do Vetor Norte, que está sendo abandonado pela gestão da companhia. Uma região com 1,5 milhão de pessoas.

Falar que a base do São Gabriel é um elefante branco é irreal. Alegar que no Anel tem mais metragem por eletricitárias e eletricitários é não entender que o trabalho da categoria é diferente. Não é estático.  E não serve como parâmetro, por exemplo, o dia a dia de um trabalhador da Fiat, como quer o diretor-presidente da Cemig, que desconhece a realidade de uma empresa pública do setor de energia. Nós sempre estamos em trânsito, nos deslocando para os locais de atendimento.

O objetivo da direção da empresa, que fica claro com o fechamento da base do bairro São Gabriel e das localidades, é sucatear a Cemig para vendê-la o mais rápido possível. Estou na empresa há 32 anos. Fomos treinados para atender bem e com presteza à população, com todo o cuidado para não faltar energia por muito tempo nas residências, em hospitais, em escolas. E sabemos que o nosso produto é perigoso. Isso ficou comprovado em tragédias como em Bandeira do Sul, quando 16 pessoas morreram e 50 ficaram feridas. Um cabo caiu no chão e continuou energizado.  E com o fechamento de bases, a prestação de serviços tende a piorar. A Cemig vai expor trabalhadores ao risco e a população à demora na restauração do fornecimento de energia elétrica.

Exigimos que a base de São Gabriel volte, que a Cemig continue pública, eficiente, prestando serviços de qualidade à toda a população mineira e que, ao mesmo tempo, contribua para a geração de empregos dignos, cumprindo o que motivou a sua criação: o desenvolvimento de Minas Gerais.

Secretário-geral da CUT/MG e secretário de Políticas Institucionais do Sindieletro-MG