MENU

Artigo

Exterminador de futuro: a ameaça contínua

Publicado: 05 Agosto, 2014 - 10h08

Estive na cidade de Matozinhos, no final de semana, para ministrar o curso de ORSB no Sindmeta, Sindicato dos Metalúrgicos daquela cidade e de outras da região. Ao chegar à sede do sindicato, encontramos as pessoas cabisbaixas e preocupadas. Haviam recebido uma triste notícia no dia anterior. Um trabalhador de uma das indústrias da cidade havia sofrido um acidente de trabalho 15 dias antes e falecido naquele dia.

Começamos o curso com singela homenagem ao trabalhador e decidimos, coletivamente, que iríamos ao velório do Carlos. Não é necessário falar da dor da família, mas a imagem que fica é da viúva de Carlos com seu filhinho no colo, chorando a morte trágica.

Carlos morreu numa baia com água para resfriar a escória de ferro-gusa. Pelos relatos dos outros trabalhadores, ele se desequilibrou e caiu dentro da baia, vindo a queimar o corpo até a altura do peito. Após o relato me ocorreu a imagem o filme o “Exterminador do Futuro”, quando o robô Terminator é descido em um caldeirão de aço fervente. No filme era uma máquina, na vida real um trabalhador morreu queimado em mais um acidente de trabalho. Qual futuro espera a viúva e os três filhos de Carlos?

Além dessa pergunta, várias outras ficam no ar. Até quando morrerão trabalhadores e trabalhadoras no cumprimento de seu ofício? Por que o lucro é mais importante do que a vida e a saúde das pessoas? Embora haja previsão na legislação para as empresas não exporem ao risco os trabalhadores e trabalhadoras, elas não cumprem essa legislação e o resultado nós conhecemos, ocorrências com mutilações são incontáveis, sem falar nas vidas abreviadas, como a do Carlos.

A classe trabalhadora sofre na carne e nas mentes as consequências da luta de classes. O capital quer o lucro a todo custo, e o custo é saúde das pessoas ou a vida. A cada 45 dias morre um trabalhador eletrocutado a serviço da Cemig, que tem adoecido mentalmente seus trabalhadores também;  a construção civil convive de forma estarrecedora com altíssimos índices de acidentes; no ramo metalúrgico os números também assustam; a violência organizacional tem adoecido mentalmente bancários e bancárias,  categoria com um índice de suicídio mais alto que população em geral. No ramo da alimentação é crescente o número de acidentes que mutilam ou deixam sequelas terríveis. Os agrotóxicos matam quem trabalha no campo e também a população que consome alimentos contaminados por estes produtos tóxicos.

Fica uma constatação: o capitalismo é responsável pela loucura da produção em altíssima velocidade e em volumes gigantescos. Essa produção não é para melhorar a vida da população, mas para enriquecer ainda mais o 1% mais rico do país e do mundo. O custo disso é a saúde e a vida humana, e isso é inaceitável. A luta por segurança no local de trabalho, pela saúde dos trabalhadores deve ser de todos e todas e não apenas de quem corre mais risco ou debate mais o tema. Garantir a prevenção de acidentes nos locais de trabalho é uma exigência que nós precisamos fazer o tempo todo aos patrões e aos governos, que têm a obrigação de garantir a segurança, a integridade e as vidas e de fiscalizar.