1ª Parada Negra LGBT+ de BH vai demarcar identidade de gênero e de cor
Tema da celebração, apoiada pela Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), é “Do erê ao ancestral: pela vida das juventudes negras”. Evento é debatido na ALMG
Publicado: 23 Maio, 2024 - 11h17 | Última modificação: 24 Maio, 2024 - 10h19
Escrito por: Rogério Hilário, com informações da ALMG | Editado por: Rogério Hilário
Assembleia Legislativa de Minas Gerais realizou audiência pública, requerida pela deputada Beatriz Cerqueira (PT), na tarde desta quarta-feira, 22 de maio, para debater um evento inédito que vai acontecer em Belo Horizonte: a 1ª Parada Negra LGBT+. A festa será no sábado (25), com concentração a partir das 14 horas na Praça Sete. A celebração terá caminhada por Avenida Amazonas e Rua da Bahia, até a esquina com a Rua Guaicurus. Em frente ao 104, na Praça da Estação, terá um palco onde acontecerá, a partir das 16 horas, programação cultural com DJs, samba, apresentações de drag queens, grupos de dança e de vogue. Um detalhe, o evento na capital mineira acontece no Dia Mundial da África, comemoração anual da fundação da Organização da Unidade Africana, hoje conhecida como União Africana, a 25 de Maio de 1963.
O tema da primeira edição da Parada Negra LGBT+ é “Do erê ao ancestral: pela vida das juventudes negras”. A programação do evento terá performances de jovens artistas e outras personalidades que abraçam a temática, bem como homenagens a líderes históricos do movimento negro. A Parada é organizada pela Rede Afro LGBT+ e apoiadores, entre eles a Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG).
Sebastião da Silva Maria, secretário de Administração e Finanças, representou a Central e o Sindicato dos Bancários de BH e Região na reunião, organizada pela Comissão de Direitos Humanos e realizada no Plenarinho II. A audiência pública também foi uma oportunidade para homenagear pessoas importantes na luta em favor da população LGBTQIAPN+ de Minas Gerais.
“É preciso dizer que nós existimos, que há pessoas negras LGBT em nossa sociedade.” Com essas palavras, a coordenadora da Rede Afro LGBT Nacional, Eliane Dias Evangelista, explicou a importância da 1ª Parada Negra LGBT+ de Belo Horizonte.
Ao saudar os participantes, Beatriz Cerqueira salientou que a reunião foi resultado sobretudo de um esforço do próprio movimento popular e que as deputadas procuraram apenas contribuir com uma luta que tem seus protagonistas e suas protagonistas. “Receber vocês foi um aprendizado, porque eu vivo várias violências, como a violência política de gênero, a violência que o estado brasileiro pratica contra os professores, mas eu não vivo as violências que vocês vivem. Que mais paradas sejam realizadas em Belo Horizonte, na periferia, por exemplo; e em outras cidades do Estado.”
Organizadora da frente parlamentar que defende a população LGBTQIAPN+ em Minas Gerais, a deputada Bella Gonçalves (Psol) disse ocupar uma cadeira orgulhosamente LGBT na Assembleia Legislativa. Ela elogiou a parada deste sábado como uma forma de demonstrar que o movimento LGBT não é homogêneo mas, nem por isso, deixa de ser unido. “Essas diferenças precisam ser percebidas, mas não serão elas que vão nos dividir.”
Já a deputada Ana Paula Siqueira (Rede) fez um convite a todos os participantes da audiência pública para se engajarem na elaboração do Estatuto da Igualdade Racial, que está sendo desenvolvido pela Assembleia mineira por uma iniciativa da bancada de deputadas negras. “Vamos fazer várias plenárias em Minas Gerais e no dia 28 de maio será a primeira plenária em Belo Horizonte”, convidou.
Visibilidade sem abandonar a luta mais ampla
Um dos organizadores da Parada Negra LGBT+ e coordenador estadual da Rede Afro LGBT, Thiago Santos Lima ressaltou que a iniciativa tem o objetivo de ”demarcar a nossa identidade de gênero e a nossa cor, que não andam separadas”, mas não pretende promover qualquer divisão. “Isso não é um processo de crítica e nem de racha, mas queremos dizer para o Estado que não aceitaremos um só espaço”, pontuou.
Aruanã Oliveira, outro organizador da festa, lembrou que as paradas gays se originaram, a partir de 25 de maio de 1991, em Nova York, a partir do movimento Black Priding, Orgulho Negro, que busca visibilidade para a pauta LGBTQIAPN+ de maneira racializada. No Brasil as Black Pride acontecem em São Paulo desde de 2017, tomando as ruas a partir do dia 28 de Junho de 2023. Em João Pessoa (PB), o evento está nas ruas desde de 17 de Novembro de 2019.
A coordenadora estadual da Rede Afro LGBT, Vanessa de Souza Pereira, que é também presidente do Coletivo LGBT de Santa Luzia (Região Metropolitana de Belo Horizonte), disse que a parada será articulada com outras ações e será seguida de uma avaliação coletiva do movimento.
Um dos depoimentos mais emocionados da audiência pública veio da psicóloga Dalcira Ferrão, militante do Coletivo de Mulheres Bissexuais e Lésbicas, Trans e Cis - Coletivo Bil. “Hoje eu vejo casaizinhos jovens (LGBTQIAPN+) andando de mãos dadas nas ruas e ainda fico emocionada, pois há 15, 20 anos atrás isso não era comum. O dia 25 vai ser de muita festa, mas também de entender que ainda há muita luta para ser feita”, declarou a psicóloga, com voz embargada.
A iniciativa da Parada Negra LGBT+ foi muito elogiada por outros participantes da audiência pública, tais como o secretário de Formação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), Carlos Magno Silva Fonseca. “Vocês da Rede Afro estão construindo história”, declarou ele.
"A marcha vai dar dois recados: primeiro dizer para o movimento LGBT que nós precisamos discutir cada vez mais o racismo dentro do movimento. E também dizer para o movimento negro que é preciso debater a LGBTfobia dentro dele próprio”, concluiu o representante da ABGLT.
Carlos Magno, Dalcira Ferrão e Eliane Evangelista foram alguns dos homenageados com o voto de congratulações da Assembleia. As deputadas Beatriz Cerqueira e Bella Gonçalves também entregaram os diplomas de homenagem à ex-diretora da Associação Lésbica de Minas (Alem), Soraya Menezes; à Makota Kisandembu Ifafémi Agboola; à rainha do Carnaval de Belo Horizonte, Cristal Siuves; à integrante aposentada da Associação Lésbica de Minas, Raquel Almeida; e ao consultor pedagógico da Coordenação Estadual da Rede Afro LGBT de Minas Gerais, Evandro Nunes.