Avanços e desafios são debatidos no lançamento da 7ª Marcha das Mulheres
Audiência pública enfatiza a força coletiva e a necessidade da união na luta por mais direitos e conquistas e, também, de potencializar enfrentamentos contra Zema em Minas
Publicado: 12 Julho, 2023 - 11h34 | Última modificação: 12 Julho, 2023 - 11h42
Escrito por: Rogério Hilário, com informações da ALMG e do Sintect/MG | Editado por: Rogério Hilário
Uma audiência pública da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher debateu, na tarde desta terça-feira, 11 de julho, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o lançamento da 7ª edição da Marcha das Margaridas, que acontecerá nos dias 15 e 16 de agosto, em Brasília. O evento na ALMG contou com a presença de várias representações sindicais e políticas. A Marcha das Margaridas de 2023 tem como tema central “Pela Reconstrução do Brasil e pelo Bem Viver”.
E, durante a atividade, foram incluídas as pautas “Pela Vida das Mulheres” e também a realização no Estado de uma marcha contra as mazelas que as mulheres sofrem em Minas Gerais o governo de Romeu Zema (Novo) um herdeiro das políticas misóginas de Jair Bolsonaro. A Secretária da Mulher Trabalhadora da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), Lucimar de Lourdes Gonçalves Martins, compôs a mesa da audiência e enfatizou a importância da pauta “Fora Zema”, ainda mais com a denúncia de que o Estado é o único na Região Sudeste que não tem uma Secretaria de Políticas para as Mulheres. Depois de muita luta, criou-se uma Subsecretaria em um Estado em que é campeão nacional de feminicídios.
A Marcha das Margaridas, iniciada em 2000, sobretudo por mulheres do campo, recebe esse nome em homenagem a Margarida Maria Alves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba. Ela foi assassinada em 12 de agosto de 1983, a mando de latifundiários locais.
“Nós temos condições de colocar mais de 100 mil margaridas em Brasília. E construir um fermento para que um dia todas as mulheres estejam lá, para que as mulheres não morram mais. Lutar e garantir vidas em um Estado onde as mulheres mais morrem. Que mais mulheres sejam valorizadas nas associações, sindicatos, parlamento, nos locais de trabalho e nas igrejas. Sim, nas igrejas, que se tornaram um espaço de decisão política. Quantas foram assassinadas aqui. Com certeza, a Marcha será uma grande aprendizagem. De que temos que pensar um mundo para os que virão, pensar nos jovens que estão vindo nas comunidades, nos quilombolas, nos nossos filhos, nos nossos netos. Se não fosse para construir um mundo diferente, não teria sentido estarmos aqui. Temos que avançar, nenhum passo atrás”, disse Lucimar Martins.
Já o pioneirismo das mulheres foi assinalado por Bernadete Esperança Monteiro, da coordenação nacional da Marcha Mundial das Mulheres. A Marcha das Margaridas de 2015, segundo ela, foi o primeiro movimento massivo a denunciar o “golpe contra Dilma Roussef”. “Fomos protagonistas do ‘Fora Bolsonaro’ e as primeiras a organizar ações de solidariedade na pandemia”, acrescentou.
“Em 2015, já denunciamos o golpe. E nossa luta possibilitou que tivéssemos pelo menos o segundo turno em 2018. Fomos massivamente para as ruas. Fomos nós as primeiras a gritar “ele não”. Nós que dissemos “Fora Bolsonaro”, quando não havia pandemia. Deixamos claro: este projeto não nos serve. É um projeto de morte, por isso nos organizamos e combatemos. E morremos por negligência de um governo que acabou. Mas não podemos esquecer: eles estão aí. A vitória de Lula nos fortalece, sim. Mas no nosso Estado temos o Zema, a representação deste projeto de morte, que ameaça e afeta, principalmente, as mulheres. As privatizações e o licenciamento de mineradoras fazem parte deste projeto. Os crimes da Vale, em Mariana e Brumadinho, demonstraram o quanto ele é letal. Mataram pessoas, mataram rios. E o governo continua licenciando mineradoras. Nossa tarefa é dizer ‘Fora Zema’. Seguiremos marchando, até que sejamos livres.”
Luciana Paula (Paulinha), dirigente Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Correios e Telegrafos e Similares (Sintect/MG) e militante da Luta Pelo Socialismo (LPS), enfatizou: "Primeiro e acima de tudo, a Marcha das Margaridas é um movimento extremamente importante para que não nos esqueçamos de Margarida Alves, uma líder dos trabalhadores rurais que foi brutalmente assassinada. Além disso, é também uma oportunidade para as mulheres trabalhadoras rurais darem visibilidade a uma pauta tão importante, que é a mulher do campo, da floresta, a mulher que carrega consigo toda uma história." Paulinha acrescentou que no ano passado a pauta das Margaridas foi entregue ao presidente Lula, e esta edição da Marcha é uma oportunidade para cobrar e destacar a importância de atender às necessidades dessas mulheres.
Bem viver no mundo
Um cortejo de mulheres de várias organizações e sindicatos abriu e também sintetizou a audiência da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher que discutiu a Marcha das Margaridas 2023. Diversidade, união, força coletiva, luta e esperança foram palavras repetidas na reunião. A sétima edição da marcha pretende levar a Brasília nos dias 15 e 16 de agosto cerca de 100 mil pessoas.
A audiência foi realizada nesta terça-feira, 11 de julho, na ALMG, a requerimento da deputada Leninha (PT). Neste ano, as margaridas marcham “Pela Reconstrução do Brasil e pelo Bem Viver”. “É um tema importante para nós que somos guardiãs desse projeto de bem viver no mundo, que buscamos paz, trabalho e segurança”, destacou Leninha, lembrando toda a diversidade de mulheres que estarão em marcha. Ela ainda enfatizou o sentido de esperança do movimento neste ano.
“Estamos celebrando a retomada do Brasil. É uma vitória da nossa luta e resistência depois de quatro anos de ataques às nossas vidas e aos nossos territórios”, afirmou, também, a deputada federal Ana Pimentel (PT/MG). Para ela, é preciso radicalizar a ética feminista e manter as mulheres mobilizadas e organizadas.
A deputada Ana Paula Siqueira (Rede), presidenta da Comissão das Mulheres, citou conquistas importantes do governo Lula, como a maior presença de mulheres nos ministérios e a retomada de conselhos, entre os quais o de segurança alimentar. “Estamos reconstruindo a democracia participativa, a soberania popular. Mas não faremos a reconstrução do país sem a democracia de gênero”, avaliou.
Também na visão da deputada federal Dandara (PT/MG), foi a luta coletiva das mulheres que garantiu conquistas como linhas de crédito e uma pasta dentro do Ministério das Mulheres voltada para o campo e para a água. “A marcha será o maior ato de rua, popular, de ocupação de Brasília neste primeiro ano de retomada da democracia”, previu.
Apesar dos avanços, desafios persistem
Mesmo destacando conquistas recentes, várias participantes enfatizaram os desafios ainda impostos às mulheres, que exigem luta constante. A 7ª edição da Marcha das Margaridas tem uma pauta de reivindicações, já entregues ao presidente Lula, com 13 eixos que incluem desde a vida livre de violências até a autonomia econômica e a inclusão digital.
A pauta mineira segue a mesma estrutura, mas tem especificidades, como a demanda pela recomposição e reestruturação do Conselho Estadual da Mulheres e pela garantia de recursos para a realização das conferências de mulheres em todo o Estado. Participantes criticaram o governo mineiro pelo que consideram a falta de uma política estadual consistente na área.
“Desde 2021 o conselho não se reúne. Foi destituído. Precisamos trazer a marcha para o Estado e os municípios porque é aqui que a política acontece”, justificou Alaíde Moraes, coordenadora estadual de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Minas Gerais (Fetaemg). Ela citou, ainda, a dificuldade que as mulheres do campo encontram para denunciar as violências que sofrem.
“O Estado lidera o ranking de violência e vai na contramão de todo o arcabouço pensado para a política das mulheres, que é transversal”, detalhou Ana Paula Siqueira. Já o deputado Doutor Jean Freire (PT) conclamou os homens a participarem da luta das mulheres.
Preconceito e discriminação também foram pontos levantados pelas participantes. “O direito das crianças à educação do campo ficou esquecido nos últimos anos. Sem isso é difícil a mulher garantir sua independência e inserção no mercado de trabalho”, acrescentou a deputada Macaé Evaristo (PT).
Violência política
As deputadas Andréia de Jesus e Beatriz Cerqueira, ambas do PT, citaram a violência política, que impede o pleno exercício das mulheres nos cargos públicos. Trabalho escravo no campo e assassinato de jovens negros também foram pontuados.
A secretária de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), Maria José Morais da Costa, destacou a diversidade de mulheres na marcha. São camponesas, quilombolas, indígenas, cirandeiras, quebradeiras de coco, pescadoras, marisqueiras, ribeirinhas e extrativistas de todo o Brasil. “Precisamos nos mostrar e estar nos espaços de representação”, pontuou Maria José.