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Beatriz Cerqueira, a mulher mais bem votada para a Assembleia Legislativa

Para coordenadora geral do Sind-UTE/MG e presidenta da CUT/MG, "o momento é de dedicar toda a nossa energia para a eleição de Fernando Haddad"

Publicado: 11 Outubro, 2018 - 17h35 | Última modificação: 11 Outubro, 2018 - 17h46

Escrito por: Rogério Hilário

Lidyane Ponciano
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Beatriz Cerqueira, a candidata mais votada para a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), afirmou que agora os mineiros e brasileiros têm uma tarefa importante de impedir o avanço do fascismo no segundo turno. Ela agradeceu os mais de 96 mil votos – foram exatos 96.824 - que teve e expressou a responsabilidade de ter sido a mulher com a maior votação para o cargo estadual, reafirmando todos os compromissos que fez na campanha. “Foi uma caminhada muito coletiva, construída por muita gente que acreditou em um projeto popular, que acreditou na representatividade das mulheres, da educação, da classe trabalhadora”, afirmou. Ela que sempre lutou pelos direitos e conquistas de educadoras e educadores, na coordenação geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE/MG), e de toda classe trabalhadora, como a primeira mulher presidenta da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG). Além disso, contribuiu para a derrota do neoliberalismo em Minas Gerais, em 2014, com os enfrentamentos contra os governos tucanos, como a greve de 112 dias da educação em 2011 e a construção da articulação Quem Luta, Educa. O Partido dos Trabalhadores (PT) também foi o que mais elegeu mulheres em Minas nesta eleição. Foram quatro: Beatriz, Leninha e Marília Campos para a ALMG, e Margarida Salomão para a Câmara dos Deputados, em Brasília.

Como foi sua campanha? Afinal, em sua primeira candidatura, você é mulher mais votada?

Foi uma campanha militante sendo construída em todas as regiões do estado. Fizemos mais de 100 plenárias na construção da candidatura! Foi uma votação muito expressiva. Tive votos em 836 dos 853 municípios mineiros! Depois do que nós vivemos a partir de 2016 com as votações no Congresso Nacional,  sentimos na pele como o Parlamento é importante para garantia ou para retirada de direitos como foi a maioria das votações lá. Era preciso que a classe trabalhadora voltasse a fazer essa disputa de representatividade! Foi uma candidatura que se posicionou claramente como classista e feminista originada da luta de classes que fizemos no último período!

Qual foi a maior dificuldade que você enfrentou?

Primeira questão foi o poder econômico fortíssimo e que faz com que a política esteja a serviço de interesses privados!  A nossa campanha foi na militância, inclusive para o seu financiamento. A  segunda questão é que o sistema não quer mulher na política e quer menos ainda mulher que venha da classe trabalhadora. A forma como a minha votaçã foi tratada de ter sido pouco falada, embora tenha obtido a maior votação como mulher para a Assembleia Legislativa  também expressa essa tentativa permanente de invisibilidade! Mas nós saímos empoderadas politicamente! Não tenho dúvidas disso!

O que, para você, foi fundamental para que conseguisse um resultado tão expressivo nas urnas?

A trajetória de luta em defesa de direitos, trajetória de enfrentamento ao golpe que nós vivemos desde 2016,  a nossa capacidade de construção coletiva de disputar representatividade, termos construído uma plataforma que dialogasse com vários setores da sociedade que querem se ver representados na Assembleia Legislativa.

Estando numa casa majoritariamente ocupada por homens, você acredita que vai encontrar resistência e enfrentar o machismo na Assembleia?

Sim. Mais do que o machismo a política lamentavelmente se tornou um lugar da misoginia.  Lamentavelmente o Brasil enfrenta  uma situação  de que se tornou aceitável fazer da violência uma prática política! Basta lembrarmos as violências que várias mulheres sofreram  como assassinato da vereadora Marielle Franco, a reposição da presidenta Dilma Rousseff, os ataques sofridos pela deputada federal Maria do Rosário, o que a Manuela D'avila sofre de ataques, que são infinitamente maiores do que o Fernando Haddad, por ser mulher.

As mulheres ainda são poucas no Parlamento. O que você acredita que precisa ser feito para esta representatividade crescer?

Ainda será um longo caminho considerando todas essas violências que nós estamos enfrentando. Ter  um candidato que defenda menos direitos para as mulheres, que as agrida no espaço público torna ainda mais central o debate sobre as mulheres na sociedade que vivemos! Nós temos um longo período de resistência e de denúncia para fazer.

Como você vai atuar com as suas propostas dentro da Assembleia?

Primeiro é preciso compreender que o Parlamento se movimenta com força social externa, ou seja, é preciso ter mobilização sempre do lado de fora pelas nossas pautas! É assim que nós pretendemos atuar dentro da Assembleia Legislativa, sempre com força social para pressionar pelas nossas pautas.  A segunda questão é aproximar o parlamento do povo! As pessoas têm uma ideia de que a ali é lugar da vossa excelência!  Não pode ser!  Como classe trabalhadora precisamos nos apropriar das ferramentas que o Parlamento dispõe: a discussão de orçamento, a fiscalização da sua execução elaboração mais coletiva de projetos de lei, a disputa das narrativas e das pautas naquele espaço não pode ter um protagonismo de deputado sem a participação dos movimentos sociais e sindicais.  É dessa forma que eu pretendo atuar na assembleia!  Nós assumimos pautas muito importantes como a defesa dos serviços públicos que ganhar uma centralidade na atual conjuntura; a pauta da educação que é a categoria que é a minha origem e portanto tenho um compromisso de representatividade; o enfrentamento ao modelo predatório das mineradoras que é uma pauta que poucos assumem pelo poder econômico que está lá dentro; luta pelo direito à terra e contra a criminalização e de quem faz a luta no campo de quem faz a luta urbana.  "Não basta dizer não", é preciso disputar também de forma propositiva,  além da resistência que faremos de modo que as pessoas compreendam cada vez mais que elas precisam se apropriar do espaço político para transformar coletivamente a sua vida.

Como você vê a conjuntura mineira e nacional após as eleições de 2018?

Estamos enfrentando uma eleição dentro de um estado de exceção, num golpe parlamentar.  Então não é simplesmente mais uma eleição, é completamente diferente das anteriores com o Judiciário atuando fortemente no cenário político e com um inimigo que não se apresentava antes.  Em outros momentos a nossa luta era contra o neoliberalismo notadamente liderado pelo PSDB e o golpe liderado pelo Temer. Agora nós estamos diante de um inimigo completamente diferente, o fascismo chegou  para disputar as eleições. Por  isso nós precisaremos de muita organização popular após as  eleições porque a disputa permanecerá,  daí a importância de fortalecimento da Frente Brasil Popular nossas organizações sindicais e o fortalecimento de pessoas que foram eleitas e estão comprometidas com as pautas da luta do povo.  O resultado eleitoral em Minas Gerais é consequência desta onda fascista que veio na reta final do primeiro turno. O cenário em Minas é de resistência porque estão em disputa dois projetos privatistas, precisaremos aqui no estado de muita organização popular e de muita força social! É neste momento dedicar toda a nossa energia para a eleição do Fernando Haddad!