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Belgo, hoje Arcelor Mittal, atuou como cúmplice do golpe militar de 1964

João Paulo Pires de Vasconcelos, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de João Monlevade, da CUT/MG e ex-deputado constituinte é ouvido pelo Ministério Público Federal

Publicado: 07 Agosto, 2023 - 12h13 | Última modificação: 09 Agosto, 2023 - 15h04

Escrito por: CAAF/Unifesp | Editado por: Rogério Hilário

CAAF/Unifesp
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Com riqueza de detalhes, João Paulo Pires de Vasconcelos contou, em audiência no Ministério Público Federal, em Minas Gerais, na última quarta-feira, 2 de agosto, como a Belo Mineira, atualmente Arcelor Mittal, participou do golpe de 1964, que implantou por 21 anos a ditadura militar no Brasil. João Paulo, com lucidez explícita aos 91 anos, disse como a siderúrgica era contribuinte do Instituto de Pesquisas e Estados Sociais (IPES, fundado em 1962 por empresários e militares) e do Instituto de Ação Democrática (IBAD), que organizaram o golpe. A Belgo foi uma das empresas participantes na reunião de conspiração no Edifício Acaiaca, no Centro de Belo Horizonte, os dias que antecederam o golpe. João Paulo foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de João Monlevade, presidente da CUT/MG e deputado constituinte.

A Belgo, segundo ele, enriqueceu com a ditadura num regime fabril de "arbeitlager", de campo de trabalho impondo ritmos escorchantes de produtividade em condições de trabalho absurdas e perigosas. Demitiu trabalhadores estáveis e deu 15 dias para eles retirassem seus pertences das casas e se mudassem de Monlevade. O interventor nomeado pela ditadura no sindicato, o tenente Corgozinho, se recusou a homologar as demissões. A empresa junto com a ditarura em dois dias trocou o interventor para legalizar as demissões em cumplicidade com o juiz da comarca de Rio Piracicaba. Tudo irregular.

João Paulo Pires de Vasconcelos citou nome por nome cada diretor ou presidente da empresa., o papel dos interventores da ditadura no Sindicato de Monlevade, como funcionavam os  "bate-paus",  uma milícia da Belgo,  espalhados pela cidade que espionaram e controlavam a vida social  de cada família, as reuniões de qualquer tipo e provocaram as demissões sumárias de trabalhadores, os diversos atentados. Com invasão da casa de João Paulo e ameaças a sua família, ele teve de se mudar por períodos da cidade.

João Paulo relatou a   denúncia que fez sobre a ditadura no Congresso da Federação Internacional dos Metalúrgicos (FITIM), realizado em Copenhaque, Dinamarca, em 1974 arrolando os crimes da ditadura na empresa e na cidade.

O testemunho essencial de João Paulo complementa a pesquisa que está   sendo feita coordenada por Marina Camisasca & equipe dentro do projeto Centro de Antropologia e e Arqueologia Forense (CAAF) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) sobre empresas e ditadura.

O Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas (IIEP) acompanha a ajuda a articular o Fórum por Verdade, Justiça & Reparação. Em Minas Gerais, as iniciativas para a adesão e organização do Fórum são coordenadas pela Comissão da Verdade dos Trabalhadores (Covet).