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Combustíveis foram reajustados mais de 200 vezes em dois anos

Participantes de audiência pública disseram que política de Pedro Parente favorece acionistas e empresas estrangeiras e penaliza o povo brasileiro

Publicado: 30 Maio, 2018 - 20h03 | Última modificação: 08 Junho, 2018 - 00h37

Escrito por: Rogério Hilário, com informações da ALMG

O gás de cozinha também vem sofrendo sucessivos reajustes, prejudicando, principalmente, as famílias mais pobres. Em Minas Gerais, por exemplo, por conta desses reajustes, 20% das famílias, empobrecidas, já teriam trocado o gás por carvão a lenha. As denúncias foram feitas na tarde desta quarta-feira (30) em audiência pública da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Convocada para debater os reflexos da política de preços e da produção da Petrobras sobre a sociedade mineira, a audiência reuniu parlamentares e dirigentes sindicais, sobretudo da categoria dos petroleiros, que entrou em greve de 72 horas nesta quarta-feira, reforçando o movimento dos caminhoneiros, mas com pauta ampliada, que inclui a luta contra a política de reajuste de preços dos combustíveis; o aumento do gás de cozinha, da gasolina e do etanol, contra a privatização da Petrobras e pela demissão do presidente da empresa, Pedro Parete.

Os participantes criticaram a política adotada pelo governo Temer e pelo presidente da estatal, Pedro Parente, denunciando que a decisão de fechar refinarias e reduzir a produção nacional de derivados de petróleo, priorizando a importação de gasolina e óleo diesel, privilegia os grandes investidores em detrimento da população brasileira.

As escolhas do governo, segundo eles, não podem ser desvinculadas do cenário internacional e dos interesses das grandes petrolíferas estrangeiras. “Privatizam os lucros e socializam os prejuízos”, denunciou João Santiago, diretor do Sindicato dos Economistas de Minas Gerais.

A dirigente nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e da Plataforma Operária e Camponesa da Energia, Soniamara Maranho, observou que a Petrobras está entre as maiores empresas do mundo e que o Brasil, assim como a Venezuela, estão entre os grandes produtores de petróleo, ao lado dos países árabes.

A diferença, explicou, é que os países árabes vivem em uma região de permanente conflito. Além disso, para transportarem petróleo da Arábia Saudita, os Estados Unidos levam 45 dias, enquanto do Brasil e da Venezuela são apenas quatro dias.

O coordenador do Sindipetro-MG, o sindicato dos petroleiros do Estado, Anselmo Braga, lembrou que o atual presidente da Petrobras, Pedro Parente, também foi responsável pela política de energia do governo Fernando Henrique Cardoso, que gerou sucessivos apagões.  “O Brasil é o único País que taxa os próprios produtos como taxa os produtos importados”, denunciou. Devido a essa política, 40% do combustível consumido hoje, no Brasil, é importado, a maior parte dos EUA.

“O governo está sucateando as refinarias, para justificar a venda do nosso patrimônio, é mais um golpe contra a população”, protestou. “Estamos importando 600 mil barris/dia, quando poderíamos estar exportando 200 se todas as refinarias estivessem funcionando”, afirmou.

Carlos Wagner Costa Machado, técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), afirmou que a política de dolarização deixa o País extremamente vulnerável ao que acontece no mundo e às oscilações de preço no mercado internacional. No governo Temer, disse, 129 empresas, a maior parte estrangeiras, ligadas a petrolíferas internacionais, foram autorizadas a realizar importações de derivados de petróleo, favorecendo os acionistas privados.

A presidenta da Central  Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), Beatriz Cerqueira, parabenizou petroleiras e petroleiros pela greve e disse: “É uma dupla honra vestir estar com este jaleco (casaco do Sindipetro-MG e da Petrobras). E só vou retirá-lo no sábado, quando  a greve de 72 horas tiver acabado. Estarei com ele no Congresso do Sind-UTE/MG e no ato grande desta sexta-feira (1° de junho), que os movimentos sindical, sociais, populares e estudantis farão, a partir das 7h30, na portaria da Refinaria Gabriel Passos. Não andamos sozinhos. Estaremos sempre juntos. Aqui estão o Sindifes, o Sindibel, o Sindieletro, o Sind-UTE, o Sindimetro, o Sindicado dos Economistas, o Sinpro-MG. Somos todos petroleiros.”

“Esta é uma greve de toda da classe trabalhadora, é uma greve estratégica. Tem movimentos que são conjunturais. Esta é estrutural, de visão de futuro, pois é feita por uma categoria que acabará se este projeto de privatização prevalecer. Na privatização, um dos objetivos do golpe, não nos cabe, vai nos expulsão,  acabar com nosso direito de existir. A greve dos caminhoneiros foi uma greve de resistência, que conseguiu tocar o coração do povo. E o movimento dos petroleiros coloca em pauta  o que o povo está pagando e vai continuar pagando pelo gás e outros combustíveis”,  disse Beatriz Cerqueira.

A presidenta da CUT/MG denunciou, durante a audiência, que petroleiras e petroleiros estão sendo impedidos de sair da Regap e que  o Sindimetro-MG foi barrado na portaria da refinaria, ficando sem condições de dialogar com a categoria. “Trabalhadoras e trabalhadores  são mantidos em cárcere privado. Fizemos a denúncia e a PM registrou um boletim de ocorrência. Mais isso é muito pouco. As pessoas estão passando mal. A polícia cuida do patrimônio da empresa, mas não do direito à vida.”

Jairo Nogueira Filho, diretor do Sindieletro-MG e secretário-geral da CUT/MG, anunciou que, na próxima terça-feira, 5 de junho, eletricitárias e eletricitários da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) entraram em greve.

O autor do requerimento para realização da audiência, deputado Rogério Correia (PT), associou o aumento de preços da Petrobras ao que chamou de “golpe”, iniciado com o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. Ele defendeu a greve dos petroleiros, afirmando que é um movimento “pela defesa do Brasil e da Petrobras”.

Também fez críticas ao Tribunal Superior do Trabalho (TST), por considerar ilegal a paralisação, bem como à decisão da Petrobras de promover, em plena crise, mais um aumento no preço da gasolina, de 0,74%. Por fim, lembrou que no governo Dilma a gasolina custava R$ 2,60. “Hoje, o combustível está a mais de R$ 5,00 e com briga nos postos”, afirmou.

A deputada Marília Campos (PT) elogiou os petroleiros por enfrentarem uma greve que foi decretada ilegal mesmo antes de começar. A parlamentar destacou que, em 30 dias, o aumento da gasolina, na bomba, foi de 47%, e do diesel, de 38%. Segundo ela, essa política de paridade com o dólar tem por objetivo tornar a Petrobras mais atrativa para os investidores estrangeiros.

O deputado Léo Portela (PR) também elogiou os petroleiros, criticou o TST e afirmou que Michel Temer “é o pior presidente da história do Brasil” e que “o País está envergonhado”. “O golpe continua com essa política nefasta e criminosa de preço atrelado ao dólar, que satisfaz apenas o mercado internacional”, disse.

O deputado Doutor Jean Freire (PT), por sua vez, disse que esteve com caminhoneiros autônomos parados nas rodovias. "Quando eles viram que quem estava recebendo os bônus dos acordos com o governo eram os patrões, decidiram que não interromperiam a greve", disse.

O deputado federal Padre João (PT-MG) lembrou a denúncia do ex-analista de sistemas da CIA, Edward Snowden, sobre espionagem na Presidência da República e na Petrobras, afirmando que o fato já apontava para o desmonte da estatal em favor do capital internacional.