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Fórum Novembro Negro propõe resgate da memória, resistência e luta permanente

Publicado: 27 Novembro, 2022 - 20h08 | Última modificação: 05 Janeiro, 2023 - 11h03

Escrito por: Rogério Hilário | Editado por: Rogério Hilário

Rogério Hilário
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O Fórum Mineiro Novembro Negro se encerrou no dia 26 de novembro com um debate que vai contribuir para a elaboração de cartas e diretrizes para contrapor o governo de Romeu Zema. Os temas abordados foram educação pública e privada, violência, religião, cultura, juventude, emprego e renda. A atividade aconteceu na sede da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG). Antes do debate, coordenado por José Carlos de Souza e Simone Esterlina de Almeida, do Movimento Negro Unificado (MNU) estadual, fizeram análise de conjuntura, pela manhã e à tarde, Maria da Consolação Rocha, da Direção Nacional do Psol e educadora; José Luiz Rocha, diretor do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE/MG); a cientista política Diva Moreira; e Pai Ricardo, do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-brasileira (Cenarab). A atividade teve também a participação do Bloco Sou Vermelho.

O secretário de Administração e Finanças, representante da CUT/MG, destacou, no encerramento da atividade, a importância do Fórum acontecer na sede da entidade. “O espaço da CUT é nosso e pode ser usado sempre. Jairo (presidente) não pôde vir porque tem uma agenda em Juiz de Fora. Tudo que foi falado aqui é para reafirmar a nossa luta diária, enriquecer nossos conhecimentos. Como foi dito, precisamos pegar a caneta e termos a chave. Não podemos mais chutar a porta. Construir um coletivo cada vez mais forte entre nós. Há muito tempo que já basta. Precisamos acordar. Isso já foi. Temos que fazer valer os quase 60% de brasileiras e brasileiros que somos neste país. Se for preciso, daremos porrada também. Os partidos de esquerda têm que investir mais nas candidaturas de negras e negros. Os recursos não vêm para nós. Vejam bem: a representatividade de mulheres negras na Assembleia Legislativa cresceu. Queremos derrubar portas, barreiras. Mas, se precisar, vamos meter o pé.”

“Nossa participação no mercado de trabalho não vai mudar sem muita luta. A intensificação da luta pela igualdade é urgente. Comecei como contínuo em um banco. Dos 60 funcionários, era o único negro. Me disseram que, apesar de preto, era um cara bonito. Fui quebrando barreiras, mas houve um momento em que minha ascensão profissional estancou. Nós queremos paz e queremos, sim, o lugar que outros ocupam. Foi uma satisfação e um sacrifício fazer este Fórum. A gente não pode deixar de trabalhar nenhum dia contra o racismo, a discriminação, a segregação, a desigualdade”, afirmou o secretário de Administração e Finanças da CUT/MG.

Sebastião Maria repudiou os ataques que os terreiros vêm sofrendo com o recrudescimento do fascismo e do fundamentalismo religiosos no Brasil, pós governo Bolsonaro. “Não podemos permitir invasões de terreiros. Não podem entrar na nossa casa. Temos que ir para o ataque.”

Maria da Consolação Rocha evidenciou que, em outros momentos, o combate ao racismo, à discriminação estiveram na pauta da classe trabalhadora. “Estamos vivenciando hoje pautas em que o Sind-UTE atuou entre 1990 e 1995 até 99/2000. Houve núcleo de negras e negros no sindicato e núcleo de mulheres. Naquela época aconteceu o primeiro Encontro de Trabalhadores Negros. E se instalaram comissões nacional, estadual e municipal. E também para os LGBTs foram organizadas pautas. A união e a organização favoreceram o debate dentro do mundo do trabalho e da sociedade neste processo. Hoje estamos em um impasse sobre as questões identitárias. A classe trabalhadora, claramente, tem dois sexos. O deputado federal Nikolas Ferreira é representante da branquitude, do machismo, do racismo, do retrocesso. Enquanto estávamos lutando pela democratização, não nos ouviram, pois buscavam ações afirmativas na época. Nós mulheres queríamos cota de 30% nos partidos, ampliação de dinheiro para candidaturas negras, de índios. Depois aconteceu a crise de 2008, que quiseram equiparar à de 1928.”

“Hoje enfrentamos a Escola Sem Partido, precarização das escolas, das relações de trabalho, privatização e terceirização. Quem lutou contra tudo isso está se aposentando. Hoje temos uma classe muito diluída. Como organizar os terceirizados e os quarteirizados? E como enfrentar uma conjuntura em que o dinheiro do Fundeb é administrado por vereadores, como é o caso de Belo Horizonte?”, indagou Maria da Consolação Rocha.

“Saímos de um governo infame, mas estamos próximos de um governo de coalizão de classes. Atualmente, em Belo Horizonte, são 1.247.010 pessoas que não foram alfabetizadas. No Brasil, 83 milhões não completaram o ensino básico. E a maioria está na periferia. Grande contingente da juventude negra está no sistema prisional. Isso num momento em que há uma hegemonia das redes sociais e com o fascismo à solta. Deram um golpe em 2016 para que ficassem no poder por mais de 20 anos. Agora, no Espírito Santo, há pessoas armadas dentro das escolas. Se não se discute o modo de vida, não se faz a transformação social. As relações sociais estão contaminadas, precisamos mudá-las. Nos impõem as narrativas: você é branco, você é hétero. Temos que reafirmar: você é negro, classe trabalhadora, LGBTQI+”, analisou.

José Luiz Rodrigues deu ênfase à ancestralidade, a volta como uma alternativa para o combate ao racismo. “Precisamos de nossas memórias ancestrais para nos dar sustentação, resistência, resiliência. O poder é bom e tempos que ocupar os nossos espaços. Em 13 de dezembro de 1988 conquistamos uma Constituição, com luta, com resistência. Precisamos executar uma estratégia de escuta e de ida. No Rio isso funciona em todos os espaços. Numa roda de samba, por exemplo, com a conversa ao pé do ouvido. Lançar a semente de uma sociedade comunitária, uma vida comunitária. Para resgatar isso, o nosso caminho é a ida e a volta.”

“Temos que compreender que eles foram aonde nós não fomos. Estávamos na luta por políticas sociais, por demarcação de emprego, pela sobrevivência. Eles lançaram os seus dedos e chegaram e chegaram a esses lugares. E disputaram o imaginário das pessoas e ganharam nas redes sociais. Esquecemos a vida comunitária, a conversa de porta de boteco, de participar mais da comunidade, dos espaços religiosos. Hoje, boa parte da população negra do Brasil está nas igrejas pentescostais. Não conseguimos difundir uma teologia negra, de inclusão. Ganharam espaço e foram para o nosso território. Nikolas Ferreira (deputado federal eleito pelo PL) foi gestado, construído”, analisou.

“Quando foi construído o modelo de educação elitista, colocando tudo numa caixinha. Precisamos ocupar a universidade, desatrelar o conhecimento, nossa relação com a natureza, com projeto de sustentabilidade e solidariedade. Estamos em defasagem desde o império. Por isso resgatar a ancestralidade é fundamental. A ancestralidade esteve presente em uma comunidade quilombola. A família Araújo, de Betim, derrotou um projeto de desocupação do prefeito e conseguiu reconhecimento da comunidade em pleno governo Bolsonaro, mesmo com o sucateamento da Fundação Palmares, Temos esperanças com o governo Lula, mas, por enquanto, estamos apenas com um pedaço da cereja do bolo. A disputa vai ser necessária”, ponderou o diretor do Sind-UTE/MG.

“Há um racismo estrutural intrínseco no Brasil. E a própria população negra não sabe como atuar nesta conjuntura. No governo de Fernando Pimentel, a secretária de Educação era Macaé Evaristo e faltou entendermos que tínhamos uma secretária negra e oriunda da periferia. Estamos diante de um governo de coalização, de enfrentamento. Não estamos chegando ao paraíso. Nós só temos um respiro, com o fim do governo Bolsonaro. Sem dúvida, precisaremos lutar muito por políticas públicas para educação, mulheres, população LGBTQI+, negras e negros, povo ribeirinho, povo sem-terra. Nossa ancestralidade está nos quilombos, que apresentaram a negras e negros a liberdade. Isso ajuda a lembrá-los qual é a sua missão. A resposta está no passado. Com raiz e fundamento encontraremos a profundidade”, concluiu José Luiz Rodrigues.

A secretária de Combate ao Racismo da CUT/MG, Elaine Cristina Ribeiro, fez algumas considerações sobre as falas dos palestrantes do Fórum Mineiro Novembro Negro. “Precisamos tratar a coisa com seriedade. Não pode ser considerado normal retirar crianças de escolas para ficar com os pais em bloqueio de estradas ou nas portas de quartéis. Temos que capacitar os jovens. Fazer com que eles nos ouçam, passar nossas experiências. Nós lutamos muito pela liberdade sexual e por vários avanços na sociedade. Eles precisam entender isso.”

“Trabalhar a reflexão coletiva e a autorreferência. As escolas, em alguns bairros, são referências e espaços comunitários e de decisão política. No Bairro Piratininga a juventude tem grupo de quadrilhas, de congado. Mas ninguém trata disso na escola, muito menos do racismo. Temos que recuperar isso. Uma referência de território. Há o preconceito com a música de periferia, que é uma forma de dialogar com a juventude”, acrescentou Maria da Consolação Rocha.

“Precisamos ser mais propositivos. O racismo está entre nós e é muito cruel. Quantas mulheres e quantos homens negros estão nestes espaços, nas entidades. É necessário colocar a cunha e abrir estes espaços. Se não gritarmos, ninguém vai escutar”, respondeu José Luiz Rodrigues.

A cientista política Diva Moreira fez uma análise histórica do racismo, a partir de pesquisas que vem realizando para escrever um livro sobre a escravidão e a dívida do Brasil com negras e negros. “Não gosto desta bandeira. Ela não nos representa. Os negros precisam de justiça social e de reparação por séculos de dívidas. A violência é um traço permanente do povo negro do país. A história é dialética. Companheiras e companheiros nossos vêm cobrando autocrítica dos governos. O tráfico negreiro foi um projeto do capitalismo, que precisava de mão-de-obra. E até hoje a escravatura é mantida. O capitalismo é incompatível com tudo. A violência é intrínseca, estrutural e inerente ao sistema colonial, tanto nos países africanos quanto na América. A brutalidade era tanta que a expectativa de vida dos escravos era de 29 anos. E, por ironia, foi promulgada antes da Abolição a Lei dos Sexagenários”, afirmou.

“A violência contra os negros na República brasileira foi também cruel. Ordem e Progresso, palavras da bandeira dizem muito. O progresso ficou para os imigrantes, que vieram para substituir os negros, e a ordem para a população negra, reprimida desde os primeiros dias da República. Os negros eram informados da libertação de escravos em outros países por intermédio de pessoas que iam às fazendas. Essas pessoas levavam panfletos e liam jornaizinhos abolicionistas. Aqueles visitantes foram acusados sabe de quê? Comunistas, pelo senador Vergueiro. Então, depois da Abolição e da Proclamação da República, o progresso sobrou para os imigrantes, pois o povo brasileiro não servia. Veio, segundo historiadores, a escória da Europa para nos substituir no mercado de trabalho. E vários negros, mesmo libertos, continuaram trabalhando nas fazendas. A Europa aproveitou a ocasião para fazer uma higienização das forças de trabalho. O desemprego acabou criando um conflito social. O custo desta importação foi elevadíssimo e para nós sobrou a ordem: controle e repressão social de qualquer maneira. A República criou o Código Penal para reprimir os negros, antes menos de promulgar uma Constituição. Floriano Peixoto aprovou uma verba para construção de colônias correcionais para inimigos do trabalho honesto. Institui-se a pecha de mal trabalhador acoplada a nossa testa, e de bom trabalhador na dos brancos. Em 1903, foi criada a colônia correcional de Três Rios, uma ‘fábrica de matar negros’.”

A repressão do Império e da República se estendeu, segundo Diva Moreira, aos intelectuais negros. “No século XIX, o Brasil era a 15ª  economia do mundo. E Minas era uma potência econômica em parte pelo trabalho escravo. E era o Estado com o maior número de escravos, porque aqui era muito difícil conseguir a carta de alforria. A perseguição aos intelectuais negros também foi intensa em fins do Império e no início da República. André Rebouças foi desterrado para o Amazonas; José do Patrocínio, considerado inimigo do Estado; José de Cruz e Souza morreu de tuberculose; Lima Barreto enlouqueceu. Mas um negro, Juliano Moreira, se tornou presidente da Academia de Ciências. Ele entrou na Faculdade de Medicina aos 14 anos e se formou aos 18 anos. Há registros no Ministério da Educação de que, no início do século XX, havia muitos professores negros nas escolas. Com a criação dos institutos de educação, isso acabou, com o embranquecimento da educação básica. Um ato chocante que deixou o povo negro sem lideranças.”

O fato mais chocante foi a criação de campos de concentração para negros no Ceará, no século XX. “O Ceará foi o primeiro Estado a proclamar o abolicionismo. Os negros, contudo, não tinham escolas, trabalho ou terra. Por causa das secas, milhares deixaram o interior e foram para Fortaleza, flagelados. E, para abrigá-los, criaram campos de concentração, durante a seca de 1930. Um absurdo. Mas a história nos mostra a resistência de negras e negros, em quilombos e nas lutas armadas como a Guerra de Canudos, Contestado, Caldeirão de Santa Cruz e Revolta da Chibata”, ressaltou

“Temos muitas expectativas, mas precisamos criar movimentos sociais negros. Quem for negro que vá lá e leve nossa bandeira. Em 2018, a OCDE apresentou um relatório que os negros brasileiros levariam nove gerações para atingir o mesmo nível de renda dos brancos. Então são 17 gerações para sair deste atoleiro. As lutas contra o racismo precisam avançar pela CUT, pelo PT, pelo campo progressista. O racismo é tão cruel que nos impede de participar da estrutura de classe.”

Pai Ricardo, do Cenarab, enfatizou a atenção à discriminação, em todos os sentidos, às religiões de matrizes africanas.  “O Cenarab está no movimento negro em 23 estados. Esta lança é a nossa ferramenta, procurando um lugar para nossos corpos e para nossas coisas também. É muito importante estar na CUT para falar de nossa luta. Não é possível falar de racismo sem falar de história, de pobres negros, dos povos de terreiro, que não podem ser mais vistos. Como os sindicatos falam sobre isso? Cinco crianças de terreiro foram retiradas de uma escola. O que eu faço? A merenda que é servida não leva em consideração, por exemplo, que tem crianças que não pode comer carne de porco. Isso é ensinado só no terreiro. Os chás, as benzedeiras são ao que que muitas pessoas recorrem. Falo de uma realidade que é ignorada. O mais preparado para governar não vai entregar políticas públicas para o povo negro. Vai ser preciso muita luta. Temos toda a classe sindical dentro do terreiro. Todas as classes e setores da sociedade. Mas não há reação quando os terrenos são atacados e destruídos.”

Para Pai Ricardo, falta também ao movimento sindical, aos movimentos sociais, à sociedade e aos governos mais conhecimento sobre os terreiros. “Retornamos ao governo federal, mas temos o estadual, com Zema. Fascista e falso. Quase não se vê mais pessoas de religiões de matrizes africanas nas ruas. Nos colocaram numa caixinha, somos cultura, folclore. Não somos educação, saúde, segurança, emprego, força sindical. Existem nos terreiros corpos humanos. Comemos, estudamos, pegamos ônibus, brigamos, tomamos porrada. Há uma espinha dorsal de identidade.”

“A sociedade, os governos, os movimentos têm que olhar mais para as coisas do negro. Ainda se discute só a cor da pele. Belo Horizonte foi construída a partir da Lagoinha. Os negros é que quebraram pedras para a construção da cidade lá onde é a Pedreira Prado Lopes. Enquanto eles quebravam pedras, os imigrantes eram atraídos com batatas, cesta básica e ganharam terra. Os negros foram para a Pedreira, que é uma favela. É um corpo humano. No Buraco Quente somos vários terreiros e há dez anos não ouve um tiro lá. Não se fala em zona de tráfico, prostituição. Só acontece confusão quando os playboys da Savassi aparecem por lá. Mas não temos acessos às nossas coisas. Se procurarem um livro que conte a nossa história vocês não vão encontrar. Dentro do terreiro, a discussão é lugar de luta, aprendizado e transmissão de saber”, disse Pai Ricardo.

Ele também denunciou que a exclusão também está ocorrendo nas periferias, de onde negras e negros estão sendo expulsos. “E estão nos expulsando de nossos territórios. A Serra vai virar condomínio. Belvedere, Venda Nova e Pampulha eram periferia. Não são mais. É preciso pensar como a gente pode criar estratégias coletivas. E dentro dos coletivos combater a segregação. Hoje há um projeto em Belo Horizonte de uma Rede de Espaços Sagrados. Queremos estar, também, dentro das instituições, a partir da sindicalização.”

“Mas não podemos nos iludir. Não se faz política antirracista sem muito investimento. Muito dinheiro. Como vamos discutir racismo desconsiderando as práticas, os saberes. Não se pode negar. Qual preto que ouça falar que não tem ancestralidade africana e não se manifesta. Com 134 anos de Abolição, benzeção, pajelança, chás, somos acusados de curandeirismo. Florais de bach pode. Somos considerados criminosos por isso. Em torno de 56% da população brasileira se autodenomina negra. Por isso, é preciso uma transversalidade entre os movimentos negro e sindical. Falta informações, ações, práticas conjuntas.”

O representante do Cenarab cobrou mais atitude dos movimentos sociais e sindical e reação contra os ataques que os terreiros vêm sofrendo. “Vimos o que foi passar quatro anos nas mãos de um fascista, que adotou uma política com relação aos pretos: terreiros quebrados, agressões. O que os sindicatos fizeram? Os terreiros são coletivos. Acolhem, têm bendezeiras, chás. Quando o terreiro trabalha o poder público deixa de gastar. A cultura para nós sempre foi um trabalho. Foi muito importante ser chamado para esta conversa, pois estamos em todos os lugares e não nos escutam.”

“Uma coisa é ser macumbeiro na cidade grande e outra numa localidade pequena. Já deu de ser mártir, negro tem que ser super-herói, bater no bandido e no mocinho. Nós estamos em uma guerra, não podemos parar de lutar. Estamos em novembro e ainda discutimos a cor da pele. É caro combater o racismo, mas, como falou Makota Celina, não vamos chutar portas, queremos a chave. Somos resistência, somos resiliência. Não temos opção. O mais importante para o movimento negro é o militante se colocar como resistência. Os nossos estão sabendo e trazendo as lideranças para os territórios. Estão trabalhando para construir o futuro. Conseguimos construir um prédio de quatro andares com sobras de construção e fizemos, no Buraco Quente, um posto de saúde. Somos um povo que começou a ter voz agora nos sindicatos e, nestes espaços, vamos apresentar nossas pautas”, concluiu Pai Ricardo.

“A gente já nasce no terreiro. O povo evangélico tentam plantar na cabeça dos jovens que não é bom frequentar o terreiro. Mas muita gente vai lá para tomar passe, fazer descarrego, receber nossas rezas. É muito bom lidar com os jovens. Nós acolhemos, abraçamos, damos alimento, socorremos os que precisam”, completou Mãe Adriana, do Cenarab

 “A convenção dos sindicatos tem que ir além. Hoje é possível a jornada intermitente, que é a legalização da prostituição do mercado de trabalho. Como fica a nossa espiritualidade. Para inserção no mercado de trabalho, voltamos aos anos 1970. Havia anúncios de emprego exigindo boa aparência. Um retrocesso. Agora exigem informação sobre religião. Os terreiros não são uma luta só nossa. A questão passa pela distribuição de renda. Até quando os terreiros precisarão de doações de cestas básicas. Os quilombolas são trabalhadores, mas não têm organização. Precisam de participação e engajamento. É preciso de verbas para os terreiros e os quilombos. Não vamos esgotar esses debates aqui. O certo é que precisamos fortalecer o movimento sindical, pois fizeram uma reforma trabalhista para enfraquecer os sindicatos. Nossas ações e lutas são permanentes. Não vão ser apenas em novembro. Trabalhamos o ano inteiro”, disse José Carlos de Souza.