CUT/MG debate estratégias e pautas para disputa eleitoral em Minas e no Brasil
Diretoria Estadual e sindicatos fazem análise de conjuntura com os deputados estaduais Beatriz Cerqueira e André Quintão, pré-candidato a vice-governador, e o deputado federal Rogério Correia
Publicado: 10 Junho, 2022 - 15h10 | Última modificação: 11 Junho, 2022 - 17h33
Escrito por: Rogério Hilário | Editado por: Rogério Hilário
Com análise das conjunturas econômica e política, com foco nas eleições para o governo do Estado, para a Presidência da República e da nova composição do Congresso Nacional, a Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG) iniciou na manhã desta quinta-feira, 9 de junho, em sua sede, em Belo Horizonte, a Reunião Ampliada das Diretorias Executiva e Estadual. Coordenado e mediado pela secretária-geral da Central, Lourdes Aparecida de Jesus, o debate contou com a participação do presidente da CUT/MG, Jairo Nogueira Filho, da deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT), do deputado federal Rogério Correia (PT) e do deputado estadual e pré-candidato a vice-governador André Quintão (PT). Em um segundo momento, Antônio Calado, presidente da Conselho Federal de Economia (Cofecon), compôs a mesa.
“Para entender a conjuntura teríamos que anteceder ao golpe de 2016, à prisão de Lula e a eleição de Bolsonaro. A conjuntura atual passa pelas pesquisas, que deixam Bolsonaro desesperado. Elas apontam sempre Lula com 46% dos votos e 52% dos votos válidos, o que consolida a vitória no primeiro turno. Isso reflete uma resistência muito grande que tivemos durante o golpe e os 532 dias da prisão do ex-presidente, em que fizemos vigília e demos bom dia e boa noite. Sobrevivemos a um violento golpe. O saldo deste governo é 33 milhões de pessoas passando fome. A Frente Brasil Sem Fome levou três décadas no combate à fome. E a miséria voltou a assombrar o país. A reforma trabalhista fez com que trabalhadoras e trabalhadores seja a mais baixa de todos os tempos. As pesquisas são uma resposta a um governo da destruição. De que o povo compara ao que tinha ao que existe hoje. Hoje tem a carestia. Um projeto que inflaciona a economia, centrado no aumento das taxas de juros, que é a origem da inflação. O custo da energia e dos combustíveis eleva os preços dos alimentos. A ausência de investimentos gera mais desemprego. Não recuperaram o emprego. O que mais tem é emprego sem carteira assinada, subemprego, informalidade. O trabalhador, então, se lembra do tempo em que comia bem, assava uma carne.”
“O quadro atual provoca duas reações. O governo tem feito ameaças à democracia. Um dos filhos de Bolsonaro disse que precisaria de apenas um cabo e um soldado para fechar o Supremo. Tenta consolidar um golpe e uma ditadura neofascista. Em 7 de setembro não houve golpe, mas vivemos um dia de terror. Cercaram o Congresso, ameaçaram uma intervenção militar. Mas faltou povo e as instituições reagiram. Ele agora se baseia na unificação de uma parte do Exército pelos altos salários pagos a generais, que chegam a R$ 300 mil, duplamente remunerados com aposentadorias e benesses de ocupar cargos no governo federal. Uma panelinha que pegou o gosto e não querem abandonar o que conseguiram. E vemos o que fizeram no FNDE, com superfaturamento de carteiras, uma corrupção endêmica. Olha o que aconteceu na Codevasf. Não querem largar o osso. É o ultraneoliberalismo e o neofascismo, uma aliança com as elites mais reacionárias do país, que se apressa para privatizar a Eletrobrás, os Correios, a Petrobras. Arthur Lira já acenou para os ultraneoliberais que vão continuar o processo. A PEC 32, da reforma administrativa, ele disse, que ganhando a eleição será colocada em pauta”, disse.
“Nossa tarefa é lutar para ganhar a eleição no primeiro turno. Tentam reverter o quadro da eleição com a questão do preço da gasolina e vão pra cima dos estados. Arrecadação de ICMS menor, sem a perspectiva de reforma tributária, é mais um golpe. Sem ICMS, os estados não têm como pagar professores, investir na saúde, na segurança. Aqui no estado temos as renúncias fiscais, baseadas na Lei Kandir, para mineradoras e a produção agrícola de exportação. Um golpe eleitoreiro, apenas com compensação este ano. São R$ 46 bilhões para compensar os estados. E onde vão arrecadar este dinheiro. Acreditam que com a venda da Eletrobras para reposição do ICMS. Temos que nos unir e lutar muito para ganhar no primeiro turno. Juntos vamos derrotar o governo Bolsonaro e eleger Lula. Para nós é vida ou morte. Outra tarefa é derrotar o Centrão. Arthur Lira é peça fundamental de sustentação do golpe. Esta tarefa é o arcabouço para retomar o desenvolvimento do Brasil. O Centrão confiscou o orçamento nacional. Precisamos eleger pelo menos 250 deputados aliados para fazermos as mudanças necessárias. É preciso fazer muita pressão para garantir o processo democrático, o processo de mudança, com o povo na rua. Mãos às obras”, concluiu Rogério Correia.
André Quintão, pré-candidato a vice-governador, falou de sua revolta com 33 milhões de pessoas passando fome no Brasil e sobre a aliança com Kalil para derrotar Romeu Zema em Minas Gerais. “Durante a pandemia, a renda média caiu 20%, enquanto para os pobres a queda foi de 40%. São 33 milhões de pessoas passando fome. Temos que ganhar a eleição no primeiro turno. E aí entra Minas Gerais. Em 2014, vimos que quem ganha em Minas, se elege. Com Dilma vimos isso, numa eleição apertada, com 3 milhões de votos de frente. O PT fez uma opção. A luta é contra o ultraneoliberalismo. Zema é o aliado e réplica política de Bolsonaro. Ele disse, no início da pandemia, que o vírus tinha que viajar. Não deu apoio à Funed e muito menos às pesquisas da UFMG. É uma alma gêmea de Bolsonaro, embora tente agora se afastar dele. Kalil, é claro, se associa a Lula pela vantagem dele nas urnas. Porém, com ele, Lula tem mais condições de discutir o conteúdo de seu projeto. Zema significa para Minas a forma de empregar o esquema estrutural e consolidar o componente ideológico do seu partido. Tenta a adesão ao regime de recuperação fiscal, que é o abre alas para a privatização da Cemig. E para o projeto de estado mínimo. Ou seja, corte de investimentos. Redução do papel do Estado. Seu governo foi absolutamente omisso na questão social. O programa de auxílio emergencial, na pandemia, não partiu do governo Zema e, sim, da Assembleia Legislativa. Nós também aprovamos a aquisição de vacinas. Nossa tática foi a resistência.”
Para o deputado estadual, a vitória de Lula não seria suficiente para fazer as mudanças necessárias no país. “Precisamos de uma maioria no Congresso, para evitar os retrocessos, e de um governo aliado em Minas Gerais. Não adianta eleger Lula lá e o Zema ficar aqui. Lula precisa de aliança em um Estado estratégico como o nosso. Minas hoje é um Estado desigual. Zema não priorizou o desenvolvimento sustentável. O Estado é quase um setor da Fiemg. Zema se refere a Brumadinho como um acidente. Como assim? A rota de fuga do refeitório gastaria quase 5 minutos. Morreram 272 pessoas. Mesmo assim, aprova a mineração na Serra do Curral, que está em processo de tombamento. Ele não pensa em Minas. Segue os interesses dos grandes grupos econômicos. O compromisso com Kalil, com o PSD, nos dá mais tempo de TV e estamos num processo de aproximação programática. Fazemos a aproximação com nossas pautas para construir um projeto de governo. Durante a pandemia, Kalil seguiu a ciência, enfrentou os grupos econômicos, fortaleceu a rede de proteção social, distribuiu cestas básicas, ampliou de 2% para 30% a aquisição de produtos da agricultura familiar para a merenda escolar e as cestas. O ponto crucial do discurso dele é a convergência com Lula, que o caminho passa por Lula.”
André Quintão alertou para a necessidade de o Estado não ser refém da mineração. “Vejam o que o governo federal faz, no desespero pela reeleição, com desoneração do ICMS. Com a desoneração, não há saúde. Não há educação. A subserviência de Zema ao bolsonarismo é ideológica. Ele quer o Estado mínimo. Este é um debate que Kalil terá que fazer com o Lula. Zema fez acordo de R$ 26 bilhões com a Vale pelo que aconteceu em Brumadinho, às custas de 272 cadáveres. Teve o rompimento da barragem em Mariana. Agora ele vai esperar outra barragem romper para ter dinheiro para o Rodoanel. Não podemos ser reféns de uma atividade econômica. Não podemos deixar que destruam a Serra do Curral. Nosso compromisso com o Kalil tem dimensão estratégica de Minas Gerais. Lula precisa de Kalil, conosco, aqui e Haddad em São Paulo. E é fundamental a força existencial para encarar esta tarefa. E das reeleições de Beatriz Cerqueira e Rogério Correia. Beatriz na comissão de educação e no enfrentamento à mineração. Rogério que, desde o início, denuncia a dimensão genocida e fascista de Bolsonaro. Temos que reconstruir o Brasil. É um desafio civilizatório. A civilização ou a barbárie.”
Antônio Lacerda, presidente do Cofecon, também referência à miséria associada ao desemprego. “Como economista, me causa assombro milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar. O desemprego na ordem de 11 milhões em desocupação e 6 milhões de desalentados é um absurdo. Os desalentados são aqueles que não tem oportunidade de procurar emprego, porque isso custa caro. São, também, 10 milhões de subocupados, que fazem pequenas atividades, bicos, para sobreviver. Ou seja, 28 milhões fora do mercado de trabalho, um quarto da população economicamente ativa. E excluídos do consumo, o que é uma burrice do capitalismo. E a demonização do Estado desde Temer e potencializada com Bolsonaro e a explosão do custo de vida afetam diretamente esses 28 milhões, em situação de vulnerabilidade, agravada com a destruição dos serviços públicos.”
“O nosso futuro está ameaçado pela consolidação de um Estado voltado para os grupos econômicos, baseado em privatização de empresas e a favor de oligopólios, que deterioram o equilíbrio entre as forças. Acredito que dependemos de uma frente ampla de trabalho, uma articulação política. Sou voluntário da Fundação Perseu Abramo e colaboro com a criação de um programa de governo. O que está em jogo não é só a eleição, mas a governabilidade. Vamos precisar dos governadores, do Parlamento. Trabalhadoras, trabalhadores e a CUT têm papel determinante para isso. É preciso articular com setores progressistas do empresariado. A sociedade tem assistido inerte ao que está acontecendo no país. Estou à disposição para colaborar”, afirmou o presidente do Cofecon.
Para a deputada estadual Beatriz Cerqueira, é importante, no momento, fazer uma leitura da realidade do Brasil. “As mudanças que precisamos não virá do Parlamento. Virá dos sindicados, dos movimentos sociais, da Central. Por isso, dependemos de estratégias. Viemos de um golpe em que tiraram a primeira mulher eleita para a Presidência da República. Um golpe. E seguiu-se a interferência do Judiciário em uma eleição. Daí veio o abismo, a morte, a fome, que atingiu a maioria das casas. Nas eleições de 2018 surgiu o não-político. Como os políticos não prestavam, impuseram que o Brasil precisava de um mito. Em Minas Gerais, apoiaram um bom moço, que faz o seu café, vai ao banco receber o salário, porque os políticos deram errado, fracassaram. E ele colou na onda de Bolsonaro e foi fiel a isso”, analisou.
“O governo Zema é autoritário. Não admite a adversidade. Os sindicatos não conseguem dialogar com o governo. Zema não tem políticas públicas. Diz sempre que o problema está nos outros poderes que não o deixam governar. Além disso, o governo judicializa todos que discordam dele. Judicializou a greve na educação e a Justiça, mesmo depois que o movimento foi suspenso, multou o Sind-UTE em 3,2 milhões e vai bloquear as contas do sindicato. O governo quer destruir o maior sindicato do Estado. O presidente da Assembleia Legislativa pelo governo do Estado, porque as manifestações são divulgadas. Eu também estou sendo processada pelo governador. Puro autoritarismo e judicialização”, afirmou Beatriz Cerqueira.
“E, em todos os aspectos, não aparece que o governo investiu apenas 0,1% em políticas sociais. Que emprego e renda estão no pior momento. Que 55% da força de trabalho está na informalidade. O Estado não ampara o cidadão. O auxílio assistencial teve que ser aprovado na Assembleia Legislativa”. Mas, afirmou a deputada estadual, como o governo não conseguiu avançar no seu projeto de privatização, mudou de tática. “Se não posso privatizar, ele pensou, eu vou aparelhar. A Cemig fechou contratos sem licitação, prestação de serviços sem contrato. Um aparelhamento da empresa pelo partido Novo nacional. Foram 29 contratos. E implantou um esquema de subcontratações. Conseguimos divulgar o esquema. Pôs em curso uma grande privatização da saúde e educação, com as organizações sociais (OS). Vai também entregar a segurança pública às OS. Houve regressão na atuação de auditores fiscais.”
Beatriz Cerqueira revelou que o governo Zema tem como seu maior aliado estratégico a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). “O lobby está descarado. A Fiemg entregou para todos os deputados estaduais um caderno azul, com as pautas da indústria, como se representasse todos os industriais, o que não é verdade. Defende a mineração, inclusive a liberação da atividade na Serra do Curral. Liberação da Samarco em Bento Rodrigues, em Congonhas, no Norte de Minas. E a volta da mineração na Serra do Rola Moça. A direção retrógrada da Fiemg não representa todas das indústrias, pois tem industrias que querem agregar valor aos seus produtos. Querem projeto de industrialização. A Fiemg adota a estratégia de processar quem discorda dela. Foi o que aconteceu com o professor Apolo Heringer. A comunicação é do governo e das mineradoras. Fiemg, Tamisa, Vale mandam. Cada vez que você compra espaço na mídia garante a pauta. A CPI da Cemig mostrou coisas aterrorizantes e, mesmo assim, pouquíssimos veículos de comunicação divulgaram ou acompanharam. O governo faz uma das maiores campanhas publicitárias. Está sempre aparecendo na mídia”, disse Beatriz Cerqueira.
Segundo a deputada estadual, as eleições são a oportunidade de interromper a política de morte em curso no país. “Não se ganha a eleição se não ganhar aqui no Estado. E para ganhar em Minas dependemos de alianças táticas. Cabe destacar a pré-candidatura de Kalil e a importância de André Quintão como vice. Este governo tem que ser derrotado. Estamos brigando para sobreviver na reta final deste governo. Para avançar, é preciso que Lula ganhe e que Kalil vença aqui em Minas. Nós vimos quando Lula foi presidente e Aécio Neves governador. A disputa aqui é uma disputa nacional. Temos que ir para o enfrentamento e derrotar Zema. Se ele ganhar, nos restará reduzir danos. A Assembleia foi um ponto fora da curva no governo dele. Várias pautas do governo não avançaram. Temos que construir a nossa pauta e discuti-la com Kalil, pautar nossa conjuntura. Apresentar a nossa pauta com quem temos condições de disputar. André é importantíssimo. É o vice que vai ter condições de fazer a disputa. E não estará sozinho, vamos juntos com ele. Estamos sem tempo. E precisamos de mais mulheres em todos os espaços, ou não vamos evoluir.”
“Ninguém solta a mão de ninguém. Temos que unir, nos cuidar para lutar muito nas eleições, depois de tantos ataques que sofremos desde 2016. Eles virão com muito agressividade. Vamos construir nossa pauta, debater nos sindicatos, nas ruas, nos ônibus, na periferia, em todos os locais. Fazer a disputa de narrativa. Criar o maior número de comitês. Fazer o debate nas comunidades. Sabemos que é difícil, mas vamos em frente. Aqui em Minas não temos outra opção: e o Kalil. Fundamental para reconstruirmos a democracia. Não adianta só eleger Lula. Com ele e Dilma na Presidência sofremos aqui com o PSDB, com as farsas do choque de gestão e do déficit zero. Não dá para suportar mais o modelo de estado mínimo e privatizações do partido Novo. Vamos conversar e conversar com o Kalil. O caminho é brigar por nossas pautas”, afirmou o presidente da CUT/MG, Jairo Nogueira Filho.