Educadoras e educadores fazem ato por aprovação imediata na ALMG do PL 822/23
Projeto reajusta salários em 12,85% e garante pagamento de retroativo a partir de janeiro deste ano. Categoria paralisa atividades também por valorização de carreira e garantia de paridade para aposentados
Publicado: 08 Junho, 2023 - 11h04
Escrito por: Rogério Hilário, com informações da ALMG e do Sind-UTE/MG | Editado por: Rogério Hilário
Trabalhadoras e trabalhadores da rede estadual de educação de Minas Gerais paralisaram as atividades nesta quarta-feira, 7 de junho. A categoria, representada, organizada e coordenada pelo Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE/MG), realizou ato público em frente à Assembleia Legislativa (ALMG). A manifestação foi pela aprovação do projeto de lei (PL) 822/2023, reajusta os salários em 12,85%, com pagamento de retroativo a partir de janeiro deste ano, pelo cumprimento da lei do piso nacional da educação, por carreira aberta justa, e atraente, contra a privatização (educação não é mercadoria), e pela garantia da paridade para os aposentados. Antes do ato, educadoras e educadores participaram de audiência pública no Espaço Democrático José de Alencar.
“Estamos na luta, com paralisação, audiência pública e mobilização, e nosso foco neste momento é que haja celeridade de deputadas e deputados para a aprovação do PL 822/23, de reajuste dos salários e pagamento do retroativo. Não é o reajuste que pretendíamos, mas estamos sem reajuste desde o início do governo Zema. Por isso precisamos de agilidade e nosso foco é aqui na Assembleia Legislativa. Nossas palavras de ordem não mudaram: o governo do Estado vem dando calote no reajuste, na carreira, em tudo que quer. Professoras e professores chegam ao final da vida, mas não chegam ao fim de carreira. Zema só não dá calote nas mineradoras, nas locadoras de veículos. Para elas têm tudo, para a educação, nada. Os recursos são nossos e garantidos pelo Fundeb. Queremos a maior celeridade possível. Romeu Zema, caloteiro, pague tudo que nos deve”, afirmou Denise Romano, coordenadora-geral do Sind-UTE/MG.
“Vocês, como sempre, estão de parabéns por mais esta mobilização por seus direitos e contra o descaso do governo Zema com a educação, com serviços, servidoras e servidores públicos e, por consequência, com o povo mineiro. Cabe a todos nós, mais uma vez, mostrar à população e a todo o país o que está acontecendo com a educação em Minas Gerais e também a outras categorias. O que acontecendo na Cemig, na Copasa. Zema só é barrado em seu projeto de privatização pela necessidade de um referendo popular, que ele vem tentando retirar do caminho, com um projeto de lei. Quer, simplesmente, destruir o Estado. Ele não esconde seu preconceito. Deixou isso claro em um encontro com governadores do Sul e Sudeste, em que discriminou a povo das outras regiões do país. Em seu projeto, Zema quer demonstrar que sua gestão deu certo e se cacifar para a candidatura à Presidência da República em 2026, como o representante do projeto da extrema direita. Nós não vamos permitir isso. A educação sempre esteve na luta contra os desmandos deste e de outros governos. E a CUT estará sempre junto com servidoras e servidores e vamos vencer Zema”, disse o presidente da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), Jairo Nogueira Filho.
Revisão política de carreira
As demandas são tantas que o Auditório José Alencar, o maior da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), não foi suficiente para receber o público presente, que se espalhou também pelo Espaço Democrático José Aparecido de Oliveira para participar de audiência da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia, nesta quarta-feira (7/6/23).
Em pauta estava a situação da política de carreira dos profissionais da educação da rede estadual, que se queixaram também do posicionamento do governo em relação à categoria, de forma geral.
Logo no início da audiência, José João Maciel, professor em Turmalina (Jequitinhonha/Mucuri), resumiu os principais pontos de descontentamento: baixa remuneração, sobrecarga de trabalho, descumprimento do piso salarial nacional, falta de infraestrutura de trabalho, burocracia para a concessão de benefícios e aposentadoria e a municipalização do ensino fundamental.
Promoção e progressão
Denise Romano, coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE), citou a promoção por escolaridade, que só se dá após 15 anos de efetivo exercício, no caso de mestrado, e 20 anos, para doutorado, mesmo que os pretendentes já tenham a titulação.
Ela também cobrou a regularização do pagamento do Adicional de Valorização da Educação Básica (Adveb), correspondente a 5% do vencimento básico dos servidores a cada cinco anos de trabalho, e a quitação imediata de verbas retidas, como férias-prêmio convertidas em espécie e progressões e promoções não pagas.
Estas últimas têm se acumulado devido à burocracia para sua publicação, conforme denunciaram diversos convidados. Joelisa Gama, que trabalha em uma instituição de ensino de Araçuaí (Jequitinhonha/Mucuri), disse que sua progressão já está atrasada há dois anos.
Já Aroldo Lima e Geraldo da Costa, ambos auxiliares de serviço da educação básica (ASBs) em Montes Claros (Norte de Minas), reclamaram da exclusão desses servidores do concurso público aberto para a educação. “Estamos nos sentindo como pessoas que podem ser descartadas”, disse Geraldo da Costa.
ASB em Montes Claros
Eles ponderaram que, mesmo com a iminente terceirização do serviço, será necessário passar por uma seleção, a mesma que poderia ser aplicada em um concurso, que lhes daria segurança, uma carreira e direitos previdenciários.
Mãos Dadas
Sil Rosa, professora de Belo Horizonte, abordou o Mãos Dadas, do governo, que prevê a municipalização dos anos iniciais do ensino fundamental. Para ela, a consequência é a precarização da vida dos profissionais atingidos, até mesmo por não haver garantia de realocação na escola municipalizada ou em outra próxima à sua casa.
Mobilização da categoria
A deputada Lohanna (PV) lembrou a importância da mobilização dos servidores na luta que é comandada pelos sindicatos e outras entidades para mudar o quadro que classifica de ataque à educação em Minas Gerais. Ela defendeu, inclusive, a convocação pela comissão dos titulares da Secretaria de Educação e das Secretarias de Fazenda e de Planejamento e Gestão, que detêm o poder de liberar os pagamentos.
“Sempre será necessária muita pressão de vocês, fortes e unidos, para que as leis, como as da carreira, sejam cumpridas por este governo”, observou.
Na mesma linha, Beatriz Cerqueira (PT), que preside a comissão e solicitou a audiência, cobrou esclarecimentos definitivos do Executivo sobre o cumprimento de aspectos da carreira, como o pagamento da Adveb e o tempo demasiado longo para a promoção por escolaridade.
“Estamos tratando da vida e da sobrevivência dessas pessoas e, em um plano maior, do futuro da educação pública e gratuita em Minas Gerais. Chegamos hoje a uma das piores carreiras do País", disse Beatriz Cerqueira.
Ela lembrou a convocação do titular da pasta da Educação, Igor Alvarenga, no próximo dia 21 de junho, quando ele terá que comparecer ao Assembleia Fiscaliza, evento de prestação de contas do Executivo à ALMG.
Por fim, o deputado Professor Cleiton (PV) reforçou que, na maioria dos casos, a decisão de cumprir a carreira dos servidores esbarra na oposição de outras áreas, como as Secretarias de Fazenda e de Planejamento.
Ele salientou que estimativas independentes apontam que o governo tem em caixa mais de R$ 31 bilhões. Enquanto isso, comparou, o Executivo não cumpre a carreira dos servidores da educação, mas confere renúncia fiscal a locadoras de veículos.
Secretaria diz cumprir a legislação
Em resposta aos questionamentos apresentados ao longo da audiência, o superintendente de Desenvolvimento e Avaliação da Secretaria de Educação, Paulo Henrique Rodrigues, argumentou que a pasta vem cumprindo estritamente o que está nas normas legais, como a Lei 15.293, de 2004, que estabelece os intervalos para promoção e progressão nas carreiras, inclusive com relação a aspectos da escolaridade.
O pagamento do Adveb, segundo o gestor, está sendo negociado com a Secretaria de Planejamento para que possa ser feito o mais rápido possível. “Quanto ao passivo da promoção e progressão, temos feito um esforço muito grande para tentar diminuir o prazo entre a obtenção do direito pelo servidor e a publicação dele”, justificou.
Ele exemplificou que, no último mês de maio, foram publicados 3.360 atos de progressão, que serão pagos na folha de junho, enquanto em todo o ano passado foram publicados cerca de 46 mil atos de progressão e outros 12 mil de promoção.
|
|