Ex-presidente evidencia o comando paralelo e influência do partido Novo na Cemig
Cledorvino Belini caiu várias vezes em contradição durante depoimento, na condição de testemunha, em audiência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Cemig, na Assembleia Legislativa
Publicado: 19 Outubro, 2021 - 10h33
Escrito por: Rogério Hilário, com informações da ALMG
O ex-presidente da Companhia Energética de Minas Gerais, Cledorvino Belini, depôs, na condição de testemunha, em audiência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Cemig, realizado na tarde desta segunda-feira, 18 de outubro, no auditório José de Alencar. Ao responder aos questionamentos dos deputados ele deixou evidente que há um comando paralelo na empresa e com força total na atual direção, tendo nos bastidores dirigentes do partido Novo, o mesmo do governador do Estado, Romeu Zema. Cledorvino, contudo, entrou várias vezes em contradição ao tentar defender as políticas de gestão da companhia e do governo.
A CPI apura irregularidades na empresa pública, principalmente no mandato de Romeu Zema, do partido Novo, e muitas delas têm sido comprovadas, como contratações bilionárias de empresas para prestação de serviços sem licitação, contratações e negociações que denunciam o aparelhamento da companhia pelo partido, com favorecimentos e tráfico de influência.
Belini assegurou que sua saída da Cemig se deveu não ao fato de não concordar com algumas decisões do Conselho de Administração, mas por problemas de saúde. O ex-presidente da Estatal afirmou que Cassio Azevedo, ex-secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, e um dos sócios da AeC – empresa que atuou para escolher o atual presidente da companhia, Reynaldo Passanezi Filho - arquitetou a escolha do comandante da Cemig e afirmou que desconhecia a contratação da Exec. Porém, confirmou que as negociações a Exec foram feitas por Evandro Negrão de Lima, dirigente do partido Novo, sem cargo no governo ou na estatal mineira. Quando confrontado, novamente declarou que recebeu uma fatura da Exec no valor de R$ 170 mil enviada para Evandro Negrão de Lima e encaminhou para outro setor da Cemig.
“Eu não pedi a contratação de uma empresa de headhunter, foi uma decisão do governo. Recebi essa proposta e não tomei nenhuma decisão”, afirmou Belini. Conforme já apurado pela CPI, a Exec teve o seu contrato com a Cemig convalidado, sem licitação, e recebeu o pagamento de R$ 170 mil. A convalidação foi aprovada em fevereiro de 2020, mais de 30 dias depois de o diretor-presidente Reynaldo Passanezi, que validou o ato, ter sido nomeado para o cargo. Ou seja, o atual presidente da Cemig “contratou” a empresa que o selecionou.
“Pelo que apuramos, a Exec ainda foi avisada de que tinha que baixar o preço porque existiam outras propostas mais baixas. Fica cada vez mais claro esse comando paralelo da Cemig, com insiders, pessoas alheias à empresa mas com acesso a informações privilegiadas, tomando inclusive decisões em nome da Cemig. Isso tudo está tipificado no Código Penal, é crime”, avaliou o relator da CPI, deputado Sávio Souza Cruz (MDB).
Cledorvino Belini declarou que se filiou ao Novo, partido do governador Romeu Zema, depois de sua saída da Cemig, mas que já havia se desfiliado. No entanto, foi apresentada pelos deputados, na reunião uma declaração mostrando que ele ainda está regularmente filiado.
Para justificar a contratação de mais de 40 executivos alheios aos quadros da Cemig, Cledorvino Belini disse que a empresa não tinha funcionários de carreira com experiência suficiente para assumir cargos de gestão. Ele admitiu, ainda, que o contrato de R$ 1,1 bilhão de reais com a IBM, para digitalização dos serviços de atendimento ao cliente, foi referendado pelo Conselho de Administração da Cemig, mas negou ter participado da reunião em que isso aconteceu, por estar internado, com Covid.
Belini afirmou, também, que a venda das ações da Light na Renova, negociada a 1 real em 2019, foi parte de um plano de recuperação financeira da estatal de energia, com dívidas que somavam R$ 13 bilhões de reais à época.
Ele afirmou que Salim Mattar, empresário, dono da Localiza e ex-secretário Nacional de Privatização do governo de Jair Bolsonaro, não tem influência nenhuma sobre a Cemig. Segundo Cledorvino Belini, ele apenas “dá conselhos voluntariamente”.
Belini disse que não recebeu instruções para preparar a Cemig para a privatização, mas que sempre defendeu a venda da estatal para a iniciativa privada. O ex-presidente da companhia declarou que deixou a Cemig com todas as contas pagas. Afirmou também que reduziu cargos para diminuir os custos, mas foi desmentido pela deputada Beatriz Cerqueira (PT).