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Experiência, formação, resistência e união enfatizadas em um debate emocionante

Jacy Afonso e Lucimar Gonçalves Martins participam da mesa Conjuntura Política, Econômica e Social no Contexto da Pandemia e Perspectivas

Publicado: 29 Agosto, 2021 - 12h16

Escrito por: Rogério Hilário

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Dois palestrantes, que refletem a diversidade da CUT e a importância da Central na organização e na representação de categorias de todos os setores, compartilharam experiências, lutas, apresentaram propostas de estratégias para os enfrentamentos atuais e contribuíram para formulação de um projeto de Brasil. Jacy Afonso, sindicalista e presidente do PT de Brasília; e Lucimar Gonçalves Martins, presidenta da Fetraf/MG, integrante da Direção Executiva da Contraf e secretária da Mulher Trabalhadora da CUT/MG, encerraram a programação do primeiro dia 15ª Plenária Estatutária falando sobre o tema “Conjuntura Política, Econômica e Social no Contexto da Pandemia e Perspectivas”, quarta-feira, 25 de agosto. A mesa foi coordenada por Jairo Nogueira Filho e Lourdes Aparecida de Jesus.

Jacy Afonso fez uma análise na perspectiva das ações necessárias e urgentes da CUT, dos movimentos sindical, sociais e populares nas eleições de 2022, baseado no momento atual, cujo adversário é um governo de extrema direita, genocida e negacionista diante de uma crise sanitária que já ceifou quase 600 mil vidas, e nas lutas históricas da Central e do Partido dos Trabalhadores.

“Passei pela Covid-19, estive entubado e volto às atividades na segunda-feira. Mas não poderia deixar de participar por ser mineiro. Covid é um processo difícil ainda mais para o dirigente sindical. Responsabilidades e proteção. Muitos não tiveram home office, os problemas estavam colocados, os sindicatos precisaram responder a estes assuntos. Diante dos ataques de Bolsonaro como podemos reagir? O desafio é muito grande. Há muito tempo não temos uma conjuntura tão complexa, tão forte com relação aos adversários. O Brasil foi o terceiro caso das fake news, da questão virtual. Um movimento de organização mundial de negação da ciência e contra a vacina. Estimuladas por isso, ocorreu a volta do sarampo e de outras doenças que estavam extintas. Políticas públicas foram atacadas, partidos de direita, como o nazista, ressurgiram. Le Pen, que sempre foi uma nulidade política, chegou ao segundo turno na França. Na América Latina, nos Estados Unidos, com Trump houve uma ascensão da direita. Os estados nacionais apoiaram golpes. Na Bolívia uma empresa financiou o golpe. Eu destacaria o processo da Bolívia e o nosso. Os companheiros bolivianos passaram por dificuldades, mas voltaram ao poder antes de nós. Aqui, houve o golpe de 2016, mas não conseguimos voltar em 2018. É um caso de sabotagem. O processo começou com Aécio Neves, que não reconheceu a derrota em 2014. O próprio Tasso Jereissati reconheceu o que o PSDB fez no governo Dilma. E o contexto propício ao golpe se consolidou com o acesso de Eduardo Cunha à presidência da Câmara dos Deputados. Algo que pode voltar a acontecer em 2023”, avaliou Jacy Afonso.

Para o presidente do PT de Brasília, a resistência ao golpe de 2016 foi insuficiente.  “Temos chances de Lula se eleger, mas com um Congresso Nacional que anularia a vontade popular e as mudanças que queremos fazer. Cunha colocou em pauta a votação da terceirização, por exemplo. São elementos que precisamos avaliar neste processo eleitoral. Para resumir um pouco o período, eles perceberam que no voto não ganhariam da gente. Um partido ganhar quatro eleições seguidas era algo inédito. Viram que num processo natural não derrotariam o PT. E queriam nos derrotar pelos acertos, como a política de segurança alimentara de segurança alimentar, educação, saúde, luz para todos. Queriam interceptar os avanços democráticos. A consolidação do golpe vem de nossos erros, dos partidos, do movimento sindical. Não tivemos a reação devida. O PT deveria ter tido atitude altiva, organizativa do povo. O movimento sindical deveria ter dado um salto organizativo. E houve o enfraquecimento dos movimentos sociais. Agora estamos trabalhando para voltar a ser governo. E para isso analisamos a nossa derrota. Na questão da Bolívia, Evo Morales organizou a resistência. O filme sobre a ditadura militar, ‘O dia que durou 21 anos’ expõe bem o que aconteceu no Brasil. Juscelino Kubitschek, infelizmente, votou no impeachment de João Goulart, acreditando que voltaria ao governo com as eleições. Acreditamos na mesma coisa em 2018 e fizeram todo o processo da Lava Jato quando Lula estava na frente nas pesquisas e ganharia a eleição.”

“O movimento sindical tem que definir quais os passos que iremos dar. O governo Temer, o Congresso Nacional, a reforma trabalhista, o que veio depois. O que era ruim, o Congresso piorou. Se a gente não olhar a estratégia para as eleições parlamentares, teremos problemas. A votações para a privatização do setor elétrico mostram o pesadelo que vivemos. Hoje temos o governo de um mandato só, sabem disso e vão fazer tudo a toque de caixa, política de terra arrasada, privatizando tudo o que for possível: setor elétrico, Correios, setor bancário. A Caixa apresentou um balanço bom, mas fruto da venda de patrimônio público. Como a privatização de oleodutos. Você vende e compra o serviço de uma empresa privada. Isso gera custo. A reforma administrativa é para acabar com o povo brasileiro. E, mesmo se ganharmos as eleições, são projetos que teríamos dificuldades de reverter. Lula ganhou em 2002, impediu a privatização dos bancos, dos Correios. E já havia privatizações de bancos nos estados. Veio a Covid-19, a negação da ciência, dos serviços. A CPI mostra o que foi feito. O Estado está privatizado nos interesses, por militares que estão nos postos chaves. A luta fora Bolsonaro é um exercício. Vamos ganhar no ano que vem. Só que temos que tirá-lo antes, para salvar vidas. O impeachment é importante”, disse.

“Como os sindicatos teriam atuação do movimento sindical no processo eleitoral. Como fazemos isso. Primeiro, é importante a questão de não pensar somente na presidência. Ela tem que estar combinada com a estratégia de eleger deputados e deputadas.  Alguns partidos cresceram, com parlamentares conservadores. Boa parte do PSB e do PDT votou no impeachment e nas reformas do Temer. Os sindicatos precisam criar formas de a gente fazer política. Politizar o debate. Quais são os deputados que se dispõem a revogar a reforma trabalhista? Quais assumem o compromisso da revogação das pautas autoritárias dos governos Temer e Bolsonaro? A CUT precisa marcar posição. Temos que marcar CUT, o sindicalismo classista, democrático, o que precisamos revogar. A CUT precisa fidelizar a marca, o que ela representa. Cada um que olhou aquela marca, sabe o que quer. Fazer alianças com os setores do movimento sindical e populares. A candidatura de Lula vai ser ampla, vários setores perceberam isso. É só ver a viagem de Lula, o espectro dos setores econômicos. Apoiam, mas vão lá com outros programas. Nossa pauta tem que estar lá, disputar a agenda com Lula. Ele tem que construir uma aliança que derrote Bolsonaro. Se a direita fascista e negacionista for vitoriosa em 2022, o obscurantismo e o retrocesso vão ficar no poder por 20 anos. Até 1982, o PDMB tinha uma base militante socialista, com o fim da ditatura. Agora não. Bolsonaro tem militância. Vamos demarcar isso: eleger Lula e uma bancada progressista, um Congresso favorável. Vejam os jornais da Globo, narram uma lógica que é o adubo para a terceira via. Candidato que possa enfrentar o Lula, um bloco vinculado ao processo. O bloco de Bolsonaro é uma terceira via para definir a eleição no segundo turno. Papel organizativo tem que ser reforçado, nos dedicarmos a fundo nas eleições de 2022”, concluiu Jacy Afonso.

Lucimar Gonçalves Martins ressaltou em sua fala, principalmente, o fortalecimento da formação e do diálogo com a sociedade nos enfrentamentos aos governo Bolsonaro e Zema. “Trouxe tanta coisa para incrementar a nossa mesa. Saudar a Lourdes, parabenizar pela condução da mesa. Saudar o presidente Jairo, a CUT, delegadas e delegados. Jacy trouxe coisas que botam qualquer ser humano para pensar.  É preciso que se invista, agora e sempre, na formação. Nós temos Lula como opção, vamos trazer Lula de volta para o governo. Mas muita gente não sabe nem a quantas andam as análises de conjuntura. Precisamos acordar nacionalmente para a formação de mulheres e jovens. Nós mulheres já cansamos de ser os 30% para registro de chapa. Não aceitamos mais ser tapa buraco. Sobre Bolsonaro, precisamos conversar muito, saber como nos direcionar. Chamar ele de maluco, que tem poucos neurônios, é pouco. Não serve mais. E ainda temos que combate o filhotinho dele, Zema, o cão, que apareceu como um trem que estava escondido. Chamar Bolsonaro de genocida ainda é pouco. Muitos de nós fomos pegos pela Covid-19. Eu duas vezes. Minha mãe foi levada, em fevereiro de 2021, depois de mais de oito meses que a pandemia chegou ao Brasil. Chamar Bolsonaro de genocida, assassino, é pouco. Quase 600 mil pessoas já morreram. Não são apenas vidas que se foram. Parte das famílias foi embora. Quem partiu era amor de alguém. Foram muitas vidas impactadas. Não é só quase 600 mil pessoas mortas, é muito mais que isso.”

 

“Vamos tocar em outros pontos atuais. A gente está vivendo, discutindo preços altos, superfaturamento de alimentos. Tem que baixar, tem que pensar como o Lula vai fazer para reduzir os preços. Como discutir com o povo o preço dos alimentos, o valor do salário mínimo. O povo mais fala em combustíveis e alimento. Como é que com o salário mínimo ele vai pagar aluguel, comprar o gás, comprar alimento. Isso não casa com os recursos disponíveis, é vergonhoso no Brasil com relação aos preços dos alimentos. Ofenderam e a Dilma com uma imagem grotesca quando a gasolina chegou a R$ 2,80. E agora, quando alcança R$ 7, por que não reagem da mesma forma com Bolsonaro? “, questionou a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT/MG.

“Como se encaixa o salário mínimo com a vida do trabalhador? Ele vê crescendo a fome do jeito que está. A gente vê passar na televisão filas enormes para pegar osso para comer. Falo como quem andou com a mãe 14 km para buscar osso. Eu e minha mãe andávamos em Simonésia. Osso para poder comer, cozinhar e beber o caldo com farinha. Teria que botar o povo na fila do açougue, sim, não para pegar osso, mas comprar picanha. O auxílio emergencial é uma vergonha. Uma pessoa recebe R$ 150. O que ele faz: compra uma botija de gás e dois pacotes de arroz. A gente deveria estar recebendo pelo menos R$ 1.500, para garantir o aluguel, a comida e a conta de luz.  É preciso discutir  e aprovar  um auxílio que garanta a dignidade do povo”, definiu Lucimar Martins.

“Nós ainda não saímos do Covid-19. Vamos passar momentos muitos piores.  Continuamos neste embate elite x pobres. Discutir com trabalhadoras e trabalhadores é fundamental. Principalmente com aqueles pobres que estão apoiando a direita. Não podemos admitir que o pobre que financiou sua casa, tem um negócio pequeno apoiar um governo que só se preocupa com a elite. Sérgio Reis (cantor e latifundiário) falou em paralisação, convocou caminhoneiros que ganham uma mixaria para protestar e quebrar o STF. Isso não é possível. Precisamos conscientizar trabalhadoras e trabalhadores, mostrar que eles são pobres e que o governo de Bolsonaro é dos ricos. São mão de obra barata por causa deste projeto que está no poder. Mão de obra barata e sentindo os efeitos dos preços lá em cima. Por causa das aulas à distância, tiveram que colocar internet nas casas. E o que chegava de gente lá em casa para pegar internet foi muito. Coloquei como senha Lula 13”, revelou.

“O impacto da pandemia de Covid-19 no campo foi enorme. Dificultou o escoamento da produção. Plantei 150 pés de alface. Sobrou, perdeu alface e os jacus comeram uma parte. Elevou os preços dos produtos, mas impactou nas vendas. E, para nós, não houve isonalemento, quarentena. Agricultura familiar não tira férias, não pode fazer greve. Se não tivermos produtos para vender, a população não terá o que comprar. Plantar é o nosso lazer. Tem muita gente que o momento de lazer é a celebração no domingo”, disse Lucimar Martins.

Segundo a presidenta da Fetraf/MG e integrante da Direção Executiva da Contraf, é preciso combater Bolsonaro e resgatar a dignidade do povo brasileiro. “Não temos alternativa, a não ser combater Bolsonaro. Ele é um panaca. E ainda tem uma grande parte que o endeusa e ousa compará-lo a um messias. Como combater? É falando da economia deste país. Quem conseguia comprar carne, hoje não compra ovo. Ovo virou um incremento do arroz com o feijão. Combater falando a realidade. De 2003 para cá, a gente vivia bem, comia bem, viajava de avião. Eles têm raiva da gente ter conseguido isso. A questão da economia.  Temos que pensar para além, plano B para a hora que o Lula sair. Ele não vai ser eterno. Precisamos fazer a união da esquerda. Vai ter eleição e por isso temos que investir na formação. Nós precisamos de formação das nossas áreas. O único rumo para o ano que vem é Lula presidente. Espero ter contribuído com este jeito matuto de ser”, concluiu Lucimar Gonçalves Martins.