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Maioria dos eleitores mineiros é contra projeto de privatização de estatais de Zema

Pesquisa aponta que 65,3% são contra a venda da Cemig. Presidente da CUT/MG e coordenador-geral do Sindieletro/MG avaliam que a defesa do patrimônio do povo mineiro está vencendo o discurso ultraliberal de Zema

Publicado: 03 Agosto, 2022 - 12h04 | Última modificação: 03 Agosto, 2022 - 13h10

Escrito por: Rogério Hilário, com informações do jornal | Editado por: Rogério Hilário

Taís Ferreira
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A maioria dos eleitores mineiros é contra a privatização de empresas estatais, segundo a mais recente pesquisa DATATEMPO. Questionados sobre o tema, eles responderam que o Estado deve continuar sendo dono de Cemig, Copasa, Gasmig e MGS. 

A Cemig, que atua na geração, transmissão, distribuição e venda de energia elétrica, é a empresa que os entrevistados mais demonstraram ser contrários à privatização, 65,3%.

O índice é de 59,6% para a Copasa, companhia que presta serviço de saneamento básico, e de 53,9% para a Gasmig, distribuidora de gás natural canalizado. 

Além delas, 53% afirmam que o governo de Minas deve permanecer proprietário da MGS, empresa responsável pela prestação de serviços como limpeza e vigilância.

Por outro lado, a Copasa lidera o ranking das estatais que os entrevistados consideram que o governo de Minas deve vender, com 25,2%. A empresa de saneamento básico é seguida pela Cemig (22,9%), Gasmig (22,1%) e MGS (21,1%).

A opinião dos mineiros sobre a privatização das estatais do governo estadual é relevante principalmente nos casos de Cemig, Copasa e Gasmig.

Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), o eletricitário Jairo Nogueira Filho, a pesquisa reforça o que já se sabia com relação às tentativas de privatizações das empresas estatais mineiras. “A pesquisa deixa bem claro o que nós já sabemos há muitos anos. Nós vivemos esse processo de tentativa de privatizações desde os anos 1990. Desde lá para cá que a população é contrária à venda das empresas. Por isso foi colocado na Constituição mineira, no início dos anos 2000, que para privatizar Cemig, Copasa, Gasmig e outras empresas estatais seria preciso três quintos dos deputados votando a favor e um referendo popular, a população tem que referendar que quer privatização.”

Segundo ele, nenhum dos governos anteriores arriscou privatizar as empresas, porque sabiam que a população não aceita a privatização das empresas. “Os mineiros, em sua maioria, entendem que as empresas públicas têm o melhor atendimento, a melhor tarifa do que se fossem privatizadas. A pesquisa deixa isso bem claro que a população mineira tem esse apego com as empresas públicas, entende que o serviço é bem prestado, mesmo com o desgoverno como esse do Zema, que tenta destruir internamente Cemig e Copasa, por exemplo. Mas pessoas sabem da excelência do atendimento, do profissionalismo de trabalhadoras e trabalhadores das estatais daqui de Minas Gerais. E da importância de manter essas empresas na mão do Estado e fazendo o que deve ser feito com relação à geração de energia, ao saneamento, à própria Codemig, com relação ao nióbio.”

“Então essa pesquisa demonstra o que a gente já sabia. Que a população não concorda com a privatização de suas empresas. Que os mineiros se sentem donos das empresas, e realmente são donos delas. E não abre mão delas. Está aí um recado para Romeu Zema, que está aí na tentativa de privatização das empresas desde o início de seu governo”, concluiu o presidente da CUT/MG.

 “A maioria da população contrária é à privatização da Cemig, que é a empresa em que Romeu Zema concentra mais ataques. Para mim, isso demonstra, pelo menos no que diz respeito ao debate diante da opinião pública, que a defesa do patrimônio público está vencendo o discurso ultraliberal. Grande parte da população de Minas Gerais já entendeu que defender empresas públicas é defender o próprio povo mineiro”, analisou Emerson Andrada, coordenador-geral do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro/MG).

Referendo popular

A Constituição Estadual determina que é necessário realizar um referendo para que a população confirme ou negue a venda de cada uma dessas três empresas. 

O referendo seria realizado após a aprovação da respectiva privatização por pelo menos 47 dos 77 deputados estaduais na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

O deputado estadual Hely Tarqüínio (PV) chegou a apresentar projeto de lei em 2019 para também se realizar um plebiscito — ou seja, uma consulta à população antes da privatização ser votada na ALMG.

Porém, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) retirou essa exigência do texto e deixou apenas artigos que criam regras para se realizar o referendo. O projeto está pronto para ser votado em 1º turno no plenário desde o final de 2021.

De forma geral, 62,9% dos entrevistados são contrários a todas as privatizações, enquanto 20,8% são favoráveis a vender todas as empresas. Outros 16,3% são favoráveis apenas em alguns casos.

Para calcular este índice geral, a pesquisa DATATEMPO excluiu as respostas dos entrevistados que não souberam ou não responderam.

 No cruzamento entre a opinião dos entrevistados e a intenção de voto para a presidência e para o governo de Minas, a pesquisa indica que há um padrão: os eleitores de Lula (PT) e de Alexandre Kalil (PSD) são os mais contrários às privatizações, 75,2% e 70,4%, respectivamente.

Ao mesmo tempo, os eleitores de Jair Bolsonaro (PL) e de Romeu Zema (Novo) são os mais favoráveis à negociação das estatais, com 36,5% e 29%.

“Tipicamente, eleitores de direita possuem menos objeções ou defendem as privatizações, enquanto aqueles que se identificam com a esquerda são menos favoráveis a este processo”, explica a analista DATATEMPO, Bruna Assis.

“As agendas de Bolsonaro e Zema se aproximam mais da direita, causando uma identificação maior dos eleitores que assim se identificam, enquanto o oposto acontece com Lula e Kalil", diz a especialista.

Kalil já declarou ser contra a venda da Copasa e da Cemig. Já Lula, embora não tenha se posicionado sobre as estatais de Minas especificamente, adota posição geral contrária às privatizações. Além disso, os dois são aliados nestas eleições e vão ocupar o mesmo palanque no Estado.

Bolsonaro e Zema foram eleitos há quatro anos com discurso liberal na economia que defendia a venda das empresas públicas. A maior privatização durante o governo do atual presidente foi a Eletrobras, finalizada em junho deste ano. O governo federal também vendeu outras empresas, principalmente no setor de óleo e gás, como a BR Distribuidora e a Transportadora Associada de Gás (TAG). 

 Já o governador de Minas não realizou nenhuma venda de estatais. Apenas se desfez de participações que a Cemig detinha em empresas como Light e a Renova, e também ações que a Codemge era proprietária em fundos de investimento e outros empreendimentos.

Foco é vender a Codemig

Desde a campanha de 2018, Zema defende vender a Cemig e a Copasa, principais estatais de Minas Gerais. Porém, mais recentemente, o governador adotou o discurso de que a privatização dessas duas empresas ficará para um eventual segundo mandato.

De acordo com o governo de Minas, a mudança de posição ocorreu porque o novo Regime de Recuperação Fiscal retirou a obrigação de que estatais sejam privatizadas. 

Assim, o foco passou a ser a venda da Codemig, empresa que detém uma mina de nióbio em Araxá, no Triângulo Mineiro. A mina é explorada em conjunto com uma empresa privada e a estatal fica com 25% do lucro líquido.

Taís FerreiraTaís Ferreira
Emerson Andrada, Jairo Nogueira e Beatriz Cerqueira em protesto na Assembleia Legislativa durante a greve na Cemig em 2021

 

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