Minas Gerais sedia o II Seminário Internacional Pró-Reparações
Evento acontece entre os dias 10 e 15 de novembro em Belo Horizonte e Ouro Preto
Publicado: 11 Novembro, 2025 - 20h57
Escrito por: CUT Minas
Minas Gerais está sediando o 2º Seminário Internacional Pró-Reparações, que tem com o tema "Um projeto de nações: diaspórico, popular e panafricanista". Nos dias 10 e 11 de novembro o evento ocorreu no Tribunal de Contas de Minas Gerais (TCEMG). Já entre os dias 12 e 14 de novembro, o seminário continua na Faculdade de Engenharia da UFMG, enquanto o encerramento será no dia 15, em Ouro Preto.
O evento é uma iniciativa do Coletivo Minas Pró-Reparações e tem o objetivo de construir caminhos concretos para políticas de reparação aos povos negros, historicamente submetidos à escravidão, à exploração e ao apagamento cultural. O termo “reparações” refere-se a medidas concretas para compensar descendentes de escravizados e comunidades que sofreram discriminação racial sistêmica. A escravização e o racismo institucionalizado deixaram um legado duradouro de desigualdade que se manifesta em disparidades na educação, na saúde, no emprego, na habitação e na segurança pública.
Vinícius Dias e Daniele Fernandes / TCE-MG
Serão dezenas de painéis, com presença de autoridades internacionais, lideranças de movimentos sociais, ativistas da diáspora e do continente africano, artistas, intelectuais e parlamentares negras e negros, que irão abordar experiências de reparações em diferentes regiões e contextos, como Caribe, Colômbia, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Quênia, Gana e África do Sul. Também serão discutidos movimentos e iniciativas que buscam responsabilizar aqueles que se beneficiaram da escravidão, como Portugal, Inglaterra e Vaticano.
Os debates permitirão aos participantes conhecer diferentes modelos e estratégias de enfrentamento ao legado colonial e escravocrata adotados em diversos países, bem como estruturar alianças para reparações efetivas, inclusive no Brasil.
Mais informações sobre o evento podem ser acessadas em https://reparacoeshistoricas.org/
Presença de especialistas e autoridades internacionais
O 2º Seminário Internacional Pró-Reparações acontece no Tribunal de Contas de Minas Gerais e na UFMG, e contará com a participação de renomados especialistas internacionais, como o secretário-geral da Organização de Cooperação do Sul (OCS), Manssour Bin Mussallam (Arábia Saudita), a jurista e presidenta da Força-Tarefa de Reparações da Califórnia, Kamilah Moore, a presidenta do Grupo de Trabalho da Sociedade Civil Internacional (ICSWG) do Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Pessoas de Ascendência Africana, Amara Enyia, e a presidente da Fundação Frantz Fanon (França), Mireille Fanon-Mendès-France, filha do importante pensador da questão racial Frantz Fanon.
Vinícius Dias e Daniele Fernandes / TCE-MG
Do continente africano, o evento receberá o historiador e professor na Universidade de Bristol (Guiné-Bissau), José Lingna Nafafé, a ativista feminista Phumi Mtetwa (África do Sul) , a professora, escritora e Jornalista moçambicana Conceição Queiroz, o professor e fundador da revista Africa and History, Jean Pierre (Ruanda), a escritora e jornalista angolana Elizabeth Cruz e a socióloga e comentaria da Televisão Pública de Angola, Tânia Carvalho.
Do Brasil, integram a programação a ativista, pesquisadora e comunicóloga Diva Moreira, o presidente da Comissão de Igualdade Racial do Instituto dos Advogados Brasileiros, José Agripino da Silva Oliveira, a coordenadora nacional do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira, Makota Celinha, e a integrante do Movimento Reparações, Luci Lobato, além de Cleonice Amorim, entre outros.
Debates
A coordenadora do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (Cenarab), Makota Celinha, a professora e educadora popular Ajoiê Luci de Nanã, fizeram o ritual inicial. Elas subiram ao palco acompanhando a coordenadora do Coletivo Minas Pró-Reparações, Diva Moreira, referência na luta por Justiça Racial e Direitos Humanos, além de primeira secretária municipal de Assuntos para a Comunidade Negra, em Belo Horizonte.
Vinícius Dias e Daniele Fernandes / TCE-MG
"Para nós, Diva, esse evento é a coroação de todo o esforço que você traz. Você traz consigo toda uma ancestralidade. É alguém de quem nós nos orgulhamos muito de ter conosco. A gente sabe das dificuldades para se fazer essas construções", disse Makota.
"Todas e todas nós que construímos no dia a dia uma luta antirracista sabemos o que significa. E a nossa ancestralidade, nesse momento, com certeza celebra a resistência, porque todos nós sabemos que não há dinheiro no mundo que repare a humilhação que foi a escravização dos corpos pretos. Não há dinheiro no mundo que pague o que nossos ancestrais passaram e o que nós, ainda hoje, passamos em um país extremamente racista. O que nos mantém de pé é a nossa fé, é a nossa ancestralidade", completou.
Em seguida, a Yalorixá Andreia de Oya foi chamada, com os dois filhos, para, dentro da tradição da matriz africana, dar as boas-vindas aos presentes com a bênção de um pó sagrado, chamado pemba, para que o axé pudesse ser espalhado por todos.
"Que bom que a gente vê, hoje, nosso povo aqui falando sobre reparação social, reparação racial. Que Exu possa falar pelas nossas bocas, trazer o movimento", reforçou Mãe Andreia. "Que a gente construa uma nova história, não só do lado de fora, mas aqui dentro dessas casas que falam que nos representam. E a gente quer ser representada - de verdade - nesses lugares", enfatizou.
Pró-reparações
A coordenadora do Coletivo Minas Pró-Reparações, Diva Moreira, deixou reflexões para o público, em mensagem que fechou o período da manhã. "Este país que vocês conhecem é, simultaneamente, credor e devedor das reparações. O Brasil participou do tráfico negreiro, do tráfico de escravizados", lembrou.
"Todas as pessoas que me conhecem sabem que eu não posso ver um microfone. Mas não é porque sou exibicionista não; é porque nos calaram durante séculos nesse país. E, como diria Domitila Bairros, se me permitem falar, aí eu disparo", complementou Diva.
Pouco antes, o secretário-geral da Organização de Cooperação do Sul (OCS), Manssour Bin Mussallam, palestrou remotamente, direto da Arábia Saudita.
O secretário-geral abordou a urgente necessidade de reparação e transformação da arquitetura financeira internacional, algo que ele descreve como um mecanismo concebido para perpetuar a desigualdade. "A história das injustiças está do nosso lado. O que precisamos é de visão, unidade, clareza estratégica e força para construir nossa alavancagem coletiva", argumentou.
Manssour acrescentou que o destino que buscamos é tão moral quanto prático. "[Queremos] um mundo em que cada nação disponha de espaços fiscais para investir a serviço de seu povo. Em que as injustiças sejam reconhecidas e reparadas. Hoje, devemos encontrar comunhão entre todos que creem na justiça, todos que trabalham pela igualdade e que sonham com um mundo melhor", ressaltou. "O relógio corre e a luta continua", concluiu.
10/11/2025 - Seminário - manhã
10/11/2025 - Seminário - tarde
11/11/2025 (terça-feira) - Seminário - manhã
11/11/2025 (terça-feira) - Seminário - tarde
*Com informações do Tribunal de Contas de Minas Gerais e do Sindicato dos Servidores da Justiça de 2ª Instância do Estado de Minas Gerais (Sinjus-MG)
