MENU

Mais de 6 mil lotam a ALMG em defesa da Copasa neste 22 de outubro

Manifestação começou na sede da empresa e terminou na ALMG, onde foi realizada audiência pública sobre a PEC do Cala a Boca

Publicado: 22 Outubro, 2025 - 16h38 | Última modificação: 22 Outubro, 2025 - 20h10

Escrito por: Fernando Dutra | Editado por: Maria Beatriz de Castro

Ramon Bitencourt/ALMG
notice

O debate em torno do processo de privatização de empresas públicas mineiras, em especial a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), contou com um dia histórico de luta nesta quarta-feira (22/10). A mobilização popular tomou as ruas da capital, com a presença de caravanas do interior do estado, lideranças de sindicatos e movimentos sociais, e aumentou a pressão sobre o Governo e deputados estaduais que pretendem aprovar a proposta de retirada do referendo popular da Constituição Mineira, a PEC 24/2023, batizada de PEC do Cala a Boca.

O dia de luta começou logo cedo com ampla participação de trabalhadores e trabalhadoras na sede da empresa, no bairro Santo Antônio, em Belo Horizonte, de onde partiram em passeata até a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Lá, às 11h, teve início a Audiência Pública da Comissão do Trabalho, Previdência e da Assistência Social, convocada pelo deputado estadual Betão (PT) com o apoio de toda a bancada de oposição ao Governo do Estado. Mais de seis mil trabalhadores acompanharam presencialmente a reunião, lotando a sala e o pátio.

 

 

A mobilização contra a PEC provocou a greve dos trabalhadores copasianos e copasianas, que inicialmente duraria três dias, entre 21 e 23 de outubro, mas foi prorrogada por tempo indeterminado nesta quarta. A luta em defesa da empresa pública mineira envolveu toda a sociedade e diversas entidades sindicais que se juntaram à luta dos companheiros do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos (Sindágua-MG).

Dia histórico para Minas Gerais, para o movimento sindical, essa onda azul e branca dos companheiros da Copasa, que vieram do interior, que está deixando claro que vale a pena a luta. Com tudo que está acontecendo aqui hoje, tenho certeza de que vão votar contra a privatização da Copasa e a contra a retirada do referendo”, Jairo Nogueira, presidente da CUT Minas.

 

Presente na audiência pública na ALMG, o presidente da CUT Brasil, Sérgio Nobre, destacou as experiências negativas de privatizações de empresas públicas que cuidam da água, como já ocorreu em outras regiões do país.

Essa é uma luta extremamente justa. Eu acompanhei vários processos de privatização Brasil afora, infelizmente, e eu sei o que acontece no dia seguinte. Primeiro que a luta dos trabalhadores é muito importante pelo emprego deles, que é de qualidade. Porque quando privatiza uma empresa pública, a primeira coisa que fazem é a demissão dos trabalhadores, é rebaixamento de salário, é rotatividade, é a precarização das condições de trabalho. Mas essa luta não é apenas em defesa do emprego, é em defesa do povo brasileiro, porque se a Copasa for privatizada os trabalhadores mais pobres não vão ter acesso ao serviço, vão piorar a qualidade dos serviços como aconteceu em São Paulo”.

 

Água da privada não dá para engolir

O deputado Betão (PT), que convocou a audiência pública, criticou a celeridade do processo de privatização do governador Romeu Zema, feito a “toque de caixa sem a menor necessidade”. Betão também destacou a ampla participação popular na luta contra a privatização.

Os interesses financeiros estão atropelando as discussões da Assembleia. Tenho dito várias vezes que essa experiência de privatização de empresa de saneamento não deu certo em lugar nenhum. Isso já foi feito em diversos países, cidades e nunca deu certo. É necessário mantermos essa mobilização, destacar a presença dos trabalhadores dos Correios, educação, saúde, eletricitários, são muitos sindicatos participantes e ajudando na discussão”, disse Betão.

 

 

60% da população é contra a retirada do referendo e a privatização

Durante a audiência, Jairo Nogueira destacou que o povo já se manifestou contrário tanto à privatização da Copasa quanto à retirada do referendo que garante à população o direito de decidir o futuro da empresa. Pesquisas realizadas tanto pela ALMG quanto pela Itatiaia indicam que mais de 60% da população é contra a privatização.

A Copasa é uma empresa de qualidade, reconhecida no Brasil inteiro. Minas Gerais está acostumada com a qualidade da água, do tratamento do esgoto fornecido pela Copasa. Aqui dá para tomar água da torneira, porque a água é limpa. Nos estados onde a água já está privatizada, como Rio de Janeiro e São Paulo, ninguém tem a coragem de fazer isso. A água sai turva, suja, a população de periferia fica sem água vários dias”, disse Jairo.

O presidente da CUT Minas também apontou que grupos privados não se preocupam em manter a qualidade do atendimento para a população mais pobre.

Não é interesse do setor privado fazer o que a Copasa faz aqui em Minas Gerais, que é a questão do subsídio cruzado, que é pegar uma região onde se arrecada muito dinheiro, como é a região metropolitana, e investir no Norte de Minas, para que todas as regiões tenham a água de qualidade atendida pela Copasa. Temos que ter o projeto de ampliação da atuação da Copasa e isso só será possível com a empresa pública”.

 

Outro ponto abordado por Jairo diz respeito à defesa dos trabalhadores e do futuro da empresa que, junto à Cemig, tem condições de beneficiar ainda mais o povo mineiro, mantendo-se como empresas públicas.

Quando o Zema assumiu, a Copasa tinha quase 14 mil funcionários e hoje são pouco mais de 9 mil copasianos e copasianas para atender a maioria do estado de Minas Gerais. Não é possível fazer esse atendimento. Na Cemig são 5 mil funcionários, a Cemig está em todo o Estado, para levar energia elétrica de qualidade. Se formos fazer uma discussão séria sobre essas duas empresas, com responsabilidade, vamos discutir como que essas empresas podem gerar emprego em Minas Gerais através de concurso público. Estudos recentes mostram que a capacidade de geração de emprego da Cemig e da Copasa juntas é de mais de 30 mil pessoas”, afirmou.

Por que a Cemig e a Copasa não podem ter tarifa zero para as pessoas mais carentes? Empresa pública não precisa ter o lucro que tem. Esse lucro não fica no Estado, fica com os acionistas, que levam esse dinheiro para fora. São R$ 8 bilhões por ano. Quantas escolas, hospitais, moradias, estradas poderiam ser construídas? Para fazer isso, só com as duas empresas sendo públicas”, finalizou Jairo.

 

Fotos: Ramon Bitencourt/ALMG

Assista à audiência pública completa: