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  Mulheres lideram atos contra o fascismo no Brasil e no mundo

As mobilizações #EleNão foram realizadas em todos os estados brasileiros

Publicado: 01 Outubro, 2018 - 11h06 | Última modificação: 01 Outubro, 2018 - 12h34

Escrito por: Rogério Hilário, com informações do BHAZ e Brasil de Fato

Rogério Hilário
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Mais de 100 mil manifestantes, segundo cálculo dos organizadores,  tomaram o Centro de Belo Horizonte, durante a tarde de sábado (29), no ato das mulheres contra o fascismo.  Com direito a trio elétrico, apresentações de vários blocos e artistas, o protesto reuniu pessoas – especialmente mulheres – de todas as idades, raças, movimentos sindicais, sociais, estudantis, militantes e lideranças políticas de vários partidos.

O ato começou no início da tarde, na Praça Sete. Por volta das 15h30, seguiu para a Praça da Estação em meio a música e gritos de ordem. “Ô, Bolsonaro, pode esperar, a mulherada vai te derrotar” e “Pode chover, pode molhar, em Bolsonaro eu não vou votar” (em alusão à chuva no fim da tarde) foram alguns dos cânticos. O número de participantes, como de praxe, é um mistério. A Polícia Militar se recusou a passar uma estimativa, os organizadores falaram em 100 mil pessoas.

Em todo o Brasil, mais de um milhão de pessoas participaram das mobilizações contra o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL). Os atos da campanha #EleNão foram organizados em mais de 260 cidades brasileiras. O cálculo, elaborado pelo Brasil de Fato, tem como base as informações fornecidas pelas organizações dos atos.

As manifestações foram organizadas por centenas de movimentos populares do campo e da cidade e tiveram uma participação expressiva nas principais capitais do país.

A campanha #EleNão ganhou expressão logo que as pesquisas de intenção de voto mostraram o candidato de extrema-direita à frente da disputa eleitoral para a Presidência da República. Mulheres de todo o país iniciaram uma série de mobilizações nas redes sociais contra o fascismo e o discurso de ódio estimulados pelo candidato.

Na medida em que as manifestações cresciam, o líder das intenções de voto também viu crescer sua taxa de rejeição, que chegou a 46%, segundo a última pesquisa divulgada pelo Datafolha nesta sexta-feira (28).

Os cartazes, lambes, pirulitos e faixas, presentes nas centenas de manifestações, expressaram o repúdio ao “coiso", como ficou conhecido o candidato do PSL. E também trouxeram pautas propositivas, como: a defesa da saúde pública e o combate à violência contra as mulheres, ao racismo e à LGBTfobia. Além da defesa dos direitos trabalhistas.

Alexania Rossato, liderança do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), esteve presente no protesto no Rio de Janeiro. Segundo a organização, o ato contou com a participação de 200 mil pessoas.

"Estamos nas ruas no Rio de Janeiro e em todo o Brasil para dizer #EleNão e também para dizer não à privatização dos nossos recursos naturais e das nossas empresas estatais. Nos manifestamos contra todos os retrocessos que tivemos durante estes dois anos com Temer. As propostas de Bolsonaro são exatamente as mesmas do atual governo".

Em São Paulo, o ato #EleNão reuniu cerca de 500 mil pessoas e ocupou todo o Largo da Batata, na zona oeste da capital, além das duas faixas da Avenida Faria Lima.

 As manifestantes entoam a palavra de ordem #EleNão e pediram respeito aos direitos das mulheres, dos negros e dos LGBTIs. Inúmeros cartazes criticaram o projeto neoliberal de Bolsonaro e as medidas postas em prática pelo presidente Michel Temer (MDB), como a reforma trabalhista e a EC 95, que ficou conhecida como a PEC do Teto dos Gastos.

A estudante Tainá saiu do ABC Paulista, região metropolitana de São Paulo, para participar da marcha na capital. "Ele [Bolsonaro] representa um modelo de sociedade que nós não toleramos mais. Estamos aqui negando a candidatura dele”, afirmou. Ela disse ainda que o ato é uma forma de gritar contra o extermínio das minorias e das mulheres.

A menção ao retrocesso que o candidato do PSL representa foi uma constante nos atos realizados pelo Brasil e pelo mundo. Nayara Martins, da Secretaria Nacional de Juventude da União Nacional por Moradia Popular, participou do ato #EleNão em Belo Horizonte (MG), que reuniu cerca de 100 mil pessoas.

“Eu digo 'Ele Não' por todas as mulheres que são mães solteiras, que são pobres e que precisam de moradia. É preciso que a gente se una, porque somos a maior parte deste país", disse a militante.

Durante a campanha do PSL, o general Mourão, vice-presidente na chapa do candidato de extrema-direita, afirmou que famílias compostas por mãe e avó são "fábricas de desajustados".

Elisa Maria, da Marcha Mundial das Mulheres, participou do ato em Recife, onde 250 mil pessoas saíram às ruas. Ela avaliou que "Bolsonaro é a continuidade de Temer, mas nos moldes de uma ditadura agressiva. Queremos uma economia voltada para os mais pobres e não para os mais ricos", concluiu a feminista.

A vereadora do PSOL e ativista de direitos humanos Marielle Franco, morta há 6 meses e meio, foi lembrada em muitos dos atos realizados pelo país.

A época do assassinato, Bolsonaro foi o único presidenciável que não se pronunciou a respeito do crime. Carla Ambrósio, do coletivo Mulheres Negras contra o Bolsonaro, afirmou que Marielle representa o dia a dia de resistência das mulheres brasileiras, principalmente das negras e periféricas.

“Ela, como vereadora, lutou para que todo o povo periférico, principalmente da Maré, tivesse condições dignas de moradia, tivesse condições dignas para viver, e não só para sobreviver. Quando assassinaram Marielle, eles acharam que iriam nos calar e nos diminuir. Ao contrário, nós ganhamos mais força", afirmou.

Resistência sem ódio

Apesar da gravidade da conjuntura, o clima dos atos foi de animação. Várias cidades contaram com blocos de carnaval, batucadas e shows. Em Salvador (BA), as 50 mil pessoas que participaram do ato assistiram ao show de Daniela Mercury, que afirmou: “a gente não pode aceitar uma pessoa que traga ódio e violência para o Brasil".

No Rio de Janeiro, participaram mais de 90 blocos de carnaval. "Isso mostra a potência de uma geração que não vai aceitar o conservadorismo reinando em nosso país", disse Maíra Marinho, liderança do Levante Popular da Juventude e integrante da organização do ato.

O ato em Recife (PE) saiu da Praça do Derby, rebatizada de Praça da Democracia pelos movimentos populares desde o golpe de 2016. Ao longo de todo o caminho, os manifestantes entoaram palavras de ordem e paródias contra Jair Bolsonaro. Vários blocos e troças carnavalescas também se juntaram à mobilização.

A deputada federal Erika Kokay (PT-DF) participou do ato em Brasília, que reuniu mais de 30 mil pessoas. "O parlamento só não basta. Ele é apenas um espaço para fazer valer e deixar subir às tribunas a força da população. Todas as vitórias que tivemos foram conquistadas nas ruas, por meio da parceria entre a institucionalidade e o movimento concreto", afirmou a deputada.

Mulheres do movimento "Mães pela diversidade" também saíram às ruas em Brasília. É o caso da funcionária pública Ana Valéria Monção. Mesmo recém-operada, ela participou do protesto. "O avanço do fascismo é algo aterrorizante e inaceitável. Não quero esse mundo para eles [filhos]", afirmou.

Um ato mundial

Dezenas de atos da campanha #EleNão foram realizados em vários países da América, África, Europa e Oceania. Na Europa os atos ocorreram na Alemanha (Berlim), na Holanda (Amsterdã e Haia), na Irlanda (Dublin), na Suécia (Malmö), na Itália (Milão), na França (Paris e Lyon), na Espanha (Santiago de Compostela e Barcelona), em Portugal (Cidade do Porto, Coimbra e Lisboa), na Noruega (Oslo) e na Dinamarca (Aahrus).

Na América, os atos foram realizados na Argentina (Buenos Aires e Rosário), nos Estados Unidos (Atlanta, Boston e Nova Iorque), no Canadá (Quebeque) e na República Dominicana. O continente africano foi representado pela África do Sul (Cidade do Cabo) e a Oceania pela Austrália (Melbourne e Sydney).

Galeria de fotos do Ato em Belo Horizonte