MENU

Não é justo despejar o Acampamento José Bandeira, do MST, em Pirapora

No Norte de Minas, 180 famílias Sem Terra estão lutando para viver com dignidade

Publicado: 16 Agosto, 2013 - 09h20

Escrito por: Nota da Comissão Pastoral da Terra - CPT/MG

No Acampamento José Bandeira, do MST, no município de Pirapora, Norte de  Minas Gerais, 180 famílias Sem Terra resistem há 8 anos. Em 2003, famílias  do MST ocuparam a Fazenda Prata, área de 2.937 hectares, abandonada mais de  um século. Após sete anos, o MST foi "despejado" da fazenda. A fazenda Prata  voltou a ficar abandonada. Após 2 anos, em 05 de  agosto de 2012, cerca de  180 famílias do MST reocuparam a Fazenda Prata. Muitas pessoas idosas da  região dizem: "Somos testemunhas de que a Fazenda Prata nunca produziu nada,  além de engordar boi e ser mansão para receber o general João Batista  Figueiredo e gente poderosa." Na fazenda, há uma sede com casas enormes, grãfinas, inclusive uma enorme piscina abandonada, pista de pouso para pequenos aviões. Tudo isso largado.  Laudo do INCRA atestou que a fazenda era  improdutiva e não cumpria sua função social. As famílias acampadas em  barracos de lona preta, sem energia elétrica - com lamparina de querosene ou  óleo, ou à luz de vela - produzem bastante hortaliças - verduras e legumes -, milho, feijão, arroz, mandioca etc. Detalhe: sem agrotóxico, com adubação  orgânica, na linha da agroecologia. Criam galinhas, porcos e algumas cabeças  de gado. Após 8 anos de resistência na terra, o juiz da Vara Agrária de  Minas Gerais, Octávio de Almeida Neves concedeu Liminar de reintegração de  posse a não sei quem. O juiz não foi visitar a fazenda e em uma decisão absurda, mandou despejar as 180 famílias que estão lá vivendo em paz,  produzindo alimentos saudáveis para, inclusive, abastecer a Feira Popular de  sábado e domingo na cidade de Pirapora. O povo de Pirapora e o atual  prefeito, com todo seu secretariado, apoiam o Assentamento das 180 famílias  que hoje resistem no Acampamento José Bandeira.

Dia 08/08/2013, os acampados  fizeram uma Marcha do Acampamento até a Câmara dos Vereadores, em Pirapora, onde, com centenas de militantes, participaram de audiência com a juíza da  Comarca Local, que tem em mãos carta precatória para cumprir o despejo, mas a juíza, diante das manifestações e da legitimidade da luta do MST na  Fazenda Prata pediu para juntar documentos e enviará em 15 dias um Parecer  ao Juiz da Vara Agrária de MG, esperamos que sugerindo a revogação da  Liminar de reintegração de posse. As 180 famílias do MST dizem que não saem  de lá nem mortos. E tem direito de resistir, pois a lei que manda despejá-los é injusta. Dias 10 e 11/08/2013, frei Gilvander Moreira e muitos  outros apoiadores visitaram o Acampamento José Bandeira, celebraram  ecumenicamente, fizeram Marcha até ao Rio São Francisco, onde foram  batizadas nas águas do Velho Chico, 13 crianças Sem Terrinha do Acampamento.

Depois participamos de um gostoso almoço comunitário, churrasco, forró e  muita confraternização. Assim, todos estão revigorados para continuar a luta  pela conquista definitiva da Fazenda Prata, hoje, Acampamento José Bandeira,  com 180 famílias do MST, que não admitirá em hipótese alguma o despejo. A  Comissão Pastoral da Terra hipoteca irrestrito apoio à luta das 180 famílias  do Acampamento José Bandeira, do MST, em Pirapora, como uma luta justa, legítima e necessária. A Vara Agrária de Minas foi transformada em Vara

Latifundiária pelo juiz Octávio Almeida Neves, o que tem agravado muito os  conflitos agrários em Minas Gerais. Mandar despejar as famílias do MST da  fazenda Prata é uma decisão injusta e covarde, não pode ser aceita.

 

 Belo Horizonte, MG, Brasil, 15 de agosto de 2013.

 Frei Gilvander Luís Moreira,

 P/Coordenação da CPT/MG.