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Nota sobre o incêndio no Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG

Este incêndio expõe novamente a precariedade da guarda e da manutenção de acervos das instituições públicas de ensino, que vêm sofrendo com o corte nos seus recursos

Publicado: 19 Junho, 2020 - 19h09 | Última modificação: 19 Junho, 2020 - 19h23

Escrito por: Sindicato dos Trabalhadores nas Instituições Federais de Ensino – SINDIFES UFMG/CEFETMG/UFVJM/IFMG

Agência Brasil
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Na segunda-feira, dia 15 de junho de 2020, a comunidade universitária da UFMG foi tristemente surpreendida pelas notícias referentes a um incêndio de média proporção ocorrido no Museu de História Natural e Jardim Botânico (MHNJB) da UFMG, que destruiu parte importante do patrimônio e do acervo cultural e arqueológico da instituição e da sociedade mineira e brasileira, resguardados naquele espaço. Lamentamos profundamente que o descaso das autoridades governamentais para com o patrimônio público do país tenha comprometido mais ainda a pesquisa, a ciência, a história e a memória de brasileiros e brasileiras. Este incêndio expõe novamente a precariedade da guarda e da manutenção de acervos das instituições públicas de ensino, que vêm sofrendo com o corte nos seus recursos e com frequentes contingenciamentos desde o ano de 2015.

Entretanto, o que o Sindicato dos Trabalhadores nas Instituições Federais de Ensino (Sindifes) mais lamenta e repudia neste momento de extrema gravidade é a atitude do ex-diretor do MHNJB/UFMG, professor Antônio Gilberto da Costa, que se aproveitando da comoção nacional por mais um incêndio em um museu brasileiro de acervo arqueológico de inestimável valor, vem a público apresentar, em várias entrevistas em diferentes veículos de comunicação, denúncias de situações supostamente muito graves que estariam ocorrendo no MHNJB.

O referido professor, remanescente de inúmeros cargos na gestão universitária, ocupou a função de diretor do Museu de 2013 a 2019, período no qual poderia ter feito todas as obras e benfeitorias necessárias à adequação do patrimônio do Museu, caso realmente quisesse, vez que afirma ter tido acesso a verba financeira para tal. Se não usou, deveria explicar o motivo: seria incompetência na gestão? Não priorização das reformas e ampliações necessárias? Excesso de burocracia? Outros usos dos valores? Porém, se os recursos foram supostamente malversados por algum gestor, e se ele sabia disto, indaga-se? Por que não denunciou antes tal situação? E se não houver resposta a tais indagações que lançou publicamente e não tiver provas das suas graves acusações, terá cometido crime de injúria, calúnia e difamação contra a atual direção do Museu e à Reitoria da UFMG.

O Sindifes informa que, reiteradamente, desde o ano de 2018, vinha realizando gestão junto à Reitoria da universidade solicitando providências relacionadas à conduta do referido ex-diretor, tendo em vista que havia denúncias de servidores do órgão sobre o mesmo. Os servidores destacavam que o professor Antônio Gilberto estaria realizando no local uma administração questionável do ponto de vista do interesse público, com atitudes que iam desde o descaso com o patrimônio da instituição até perseguição e assédio moral aos trabalhadores, como também ações antidemocráticas de ingerência nos processos eleitorais locais, inclusive retirando dos servidores Técnico-Administrativos em Educação o direito ao voto para a escolha do diretor do Museu.

Visando resolver tais situações, que provocavam o adoecimento emocional e físico frequentes, absenteísmo, pedidos de remoção dos servidores lotados no Museu, dentre outras, o Sindifes solicitou reunião com a Reitoria da UFMG. Após entrega de documento que relatava os desmandos do então diretor, ocorreu o seu afastamento do processo eleitoral e das funções que exercia no Museu. Pode-se perceber que este afastamento gerou sentimentos de rancor e vingança e, diante da tragédia, quando se questiona qual é o nível de responsabilidade dos dirigentes, oportunisticamente o mesmo busca desqualificar e desmerecer a UFMG e sua atual gestão.

O Sindifes salienta que, dentre as questões relatadas por servidores lotados no Museu, encontra-se documento datado de 20 de julho de 2018 detalhando 07 (sete) itens que mereciam intervenção da administração da UFMG na gestão do Museu de História Natural, quais sejam: Casa da Arqueologia; Casa da Lagoa (Exposição Arqueológica); Cercamento do MHNJB; Patrimônio (antiga baia da Polícia Militar); Rede Elétrica, Segurança Patrimonial; Relação entre os Servidores e a Administração do MHNJB.

Portanto, reafirmamos que os problemas existentes no Museu vêm de anos e perpassam a gestão do referido professor Antônio Gilberto, sendo que muitos deles podem ser atribuídos à sua gestão. O Sindicato fez a sua parte, denunciando os abusos e buscando resolver administrativamente os aspectos que diziam respeito à prática do trabalho dos Servidores Técnico-Administrativos em Educação lotados no MHNJB, impactados pelos problemas patrimoniais, de segurança, de relacionamento e de gestão.

O momento político, econômico e social do país já é suficientemente grave para que acusações levianas e irresponsáveis coloquem em xeque uma instituição pública de ensino com a importância da UFMG. Nesta situação de pandemia por causa do novo coronavírus, as universidades públicas, juntamente com o SUS, são essenciais no enfrentamento à doença que assola o país e que já ceifou quase 50 mil vidas em apenas três meses. Tais desgastes drenam as energias que deveriam ser direcionadas à superação da crise e na qual a UFMG é peça chave nas pesquisas em busca de vacinas, medicamentos, testes, na oferta de leitos hospitalares para os pacientes da capital mineira e do interior, e na produção de insumos e equipamentos como álcool gel, respiradores, protetores faciais, entre outros.

Ao colocar sob suspeição a gestão da universidade, o ex-diretor do Museu tão somente busca ganhar os holofotes da mídia e alguns minutos de fama, pois teve oportunidades e, segundo ele, motivos para denunciar, mas só o faz agora, diante de uma “tragédia anunciada”, conforme seu testemunho público. O professor Antônio Gilberto cria, assim, um impasse, vez que será necessário provar as acusações. Além disso, seus mais de seis anos à frente do Museu como diretor não o deixam em uma situação confortável, pois teve, também segundo suas próprias declarações, tempo, recursos e oportunidades para resolver os graves problemas do MHNJB, mas não os fez, e agora tenta se eximir das suas responsabilidades atacando terceiros, tentando desqualificar a UFMG, colocando-a, irrefletidamente, sob suspeição.

A educação brasileira, especialmente as instituições federais de ensino, vêm sendo alvo preferencial do atual governo, seja no corte de recursos humanos e financeiros, no contingenciamento das verbas orçamentárias, nos frequentes ataques à autonomia universitária e na tentativa de desconhecer a essencialidade da ciência e a importância da educação. Atitudes como a do ex-diretor do Museu só reforçam a cruzada ideológica contra as universidades federais. Se há dúvidas quanto à gestão da coisa pública, que as denúncias sejam feitas com responsabilidade e dentro da legalidade, através dos órgãos de controle e outros espaços próprios da administração pública.

Cabe aos membros das comunidades universitárias ter compromisso e ética no trato com a instituição, e isto passa por protegê-la, não a submetendo à execração pública por motivos pessoais e mesquinhos. E é nosso dever, enquanto trabalhadores em educação, nos preocupar com a importante defesa do patrimônio material e imaterial das universidades públicas.