Protesto contra a Saneouro e a privatização do saneamento marca Dia Mundial da Água
Manifestação realizada na Praça Tiradentes, em Ouro Preto, denuncia cobranças abusivas de tarifas, falta constante de abastecimento e má qualidade da água
Publicado: 23 Março, 2023 - 13h26 | Última modificação: 23 Março, 2023 - 16h11
Escrito por: Rogério Hilário, com informações do Sindágua/MG e da ALMG | Editado por: Rogério Hilário
A retirada da Saneouro, a remunicipalização dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário e a luta contra as privatizações, projeto do governo de Romeu Zema, foram os temas do ato do Dia Mundial da Água, realizado na quarta-feira, 22 de março, na Praça Tiradentes, em Ouro Preto. Os manifestantes enfatizaram que a cidade histórica é o exemplo dos danos que a entrega do saneamento ao capital privado pode causar para a população e os recursos hídricos.
As principais reclamações dos moradores de Ouro Preto são de cobrança de tarifas e multas abusivas pela empresa, falta constante de água na cidade e nos distritos, má qualidade da água e cortes no fornecimento de parcela expressiva dos usuários devido ao não pagamento das contas. De acordo com a Federação das Associações de Moradores de Ouro Preto (Famop), os valores das contas de água são três vezes maiores que a média de cobrança em outras cidades.
Outro agravante é o alto impacto sofrido pelas famílias de baixa renda e em pobreza extrema com o valor alto das tarifas. O contrato de concessão com a Saneouro estabelece que somente 5% dos consumidores de água podem ser incluídos na tarifa social, apesar de 23% da população local estar abaixo da linha da pobreza.
O protesto, convocado por movimentos sociais e sindical, contou com o apoio e participação da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos (Sindágua/MG), do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte e Região, do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE/MG), representantes dos mandatos da deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT), do deputado federal Rogério Correia (PT), estudantes da Escola Estadual Dom Pedro II, da presidenta da Associação de Proteção Ambiental de Ouro Preto (Apoep), Marilda Costa, do presidente da Famop, Luiz Carlos Teixeira, e de Marcos Moraes Calazans, do Comitê Sanitário de Defesa Popular, entre outras lideranças políticas e comunitárias.
“Queremos a imediata suspensão da cobrança de tarifas e multas abusivas. Aquele cartão-postal que colocam de Ouro Preto não é verdadeiro. É uma cidade pobre, preta, com a maioria das pessoas recebendo baixos salários, morando apinhadas nos morros das periferias”, disse o presidente da Federação das Associações de Moradores de Ouro Preto (Famop), Luiz Carlos Teixeira
“Estamos aqui em Ouro Preto, neste 22 de março, Dia Mundial da Água, para fazer a denúncia que em Minas Gerais com a quantidade de mineradoras levando a nossa água embora. Até chegar aqui, nas estradas, vi a quantidade de mineradoras que estão espalhadas por toda Minas Gerais, várias todo Estado de Minas Gerais. Várias regiões lindas do nosso Estado não têm mais água potável, por conta da mineração, do agronegócio e por causa da irresponsabilidade do governo Zema, que está em seu segundo mandato. Que está vendendo tudo que ele acha que pode vender em Minas Gerais. O ato de hoje, além da denúncia sobre a Saneouro, é de protesto contra este governo Zema. E deixamos claro para ele: não estamos à venda. Minas Gerais não está à venda. E que vamos reagir a tudo que está acontecendo em Minas Gerais por causa dos desmandos deste governo, que está destruindo a nossa história”, disse Jairo Nogueira Filho, presidente da CUT/MG.
“Passar um dia em Ouro Preto, no Dia Mundial da Água, dia de luta. O que está acontecendo em Ouro Preto, uma cidade patrimônio histórico mundial, acho que serve de exemplo para Minas Gerais e para todo o Brasil. Ouro Preto, como cidade histórica, não cobrava pela água. E hoje, o que vemos aqui, é um reflexo da privatização. Estamos em uma disputa, mas não uma disputa política e ideológica. Temos uma disputa com o governo Zema, que quer privatizar as estatais de Minas, a exemplo da Cemig e também da Copasa. E os mineiros podem tomar Ouro Preto como exemplo. A população da cidade tem dificuldade para pagar as contas de energia, o gás e, agora, a conta de água cobrada pela Saneouro. Uma discrepância clara entre o preço de uma água pública e uma água privada. Saneamento é algo que não se privatiza. Não se privatiza o que é essencial em sua vida. A população está sofrendo as consequências da privatização”, afirmou Eduardo Pereira, Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos (Sindágua/MG) e secretário de Meio Ambiente da CUT/MG..
“É fora Saneouro, mas ao mesmo tempo lutamos contra as concessões feitas pelo governo Zema e as privatizações do saneamento no nosso Estado. Parabenizo a CUT Minas, os movimentos sociais, as lideranças comunitárias e os parlamentares que estão representados aqui. Os deputados têm sido fundamentais nesta disputa. Que este descaso não continue em Ouro Preto. O que está acontecendo em Ouro Preto não pode acontecer em outras cidades. Ouro Preto não pode só servir de exemplo. Este até é de basta. Aqui vai ser um exemplo de luta. Temos que reverter a situação que acontece em Ouro Preto”, disse o presidente do Sindágua/MG.
"Temos que entender a luta da água como direito,e não como mercadoria, como uma luta de toda a sociedade ouropretana. As gerações futuras não podem pagar pela irresponsabilidade dos gestores e a passividade do povo. Vamos lutar pela remunicipalizacao da água e dos serviços de saneamento de nossa gente. Estamos na nascente de importantes rios mineiros que são essenciais na obtenção de água de milhões de pessoas. Nossa luta servirá de exemplo para outros mineiros que se sintam ameaçados pela mercantilização da água nos municípios. No nosso serão 35 anos. Muitos de nós não estaremos mais aqui mas a nossa luta ficará marcada para as gerações futuras", analisou Rosane Maria Gonçalves, representante do Sind-UTE/MG.
“A água é um bem natural de todas e de todos. Não é admissível que um administrador municipal coloque nas mãos do capital privado a nossa água. O Estado, muito menos. Nós temos um governador, filhote de um ex-presidente genocida, que quer privatizar tudo. Eu sou bancário e luto há anos contra a privatização de bancos federais. Privatizar banco é muito ruim. Mas, privatizar a água é condenar o povo à morte. Porque a Saneouro não tem o poder, não tem o direito de decidir qual cidadão ouro-pretano tem o direito de beber água de qualidade e qual não tem. Ninguém pode ser condenado a beber lama, água contaminada. Fora Saneouro. Fora Zema”, afirmou Sebastião da Silva Maria, diretor do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte e Região e secretário de Administração e Finanças da CUT/MG.
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