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RETROSPECTIVA NEGRA

2018 - O ANO do retrocesso

Publicado: 21 Novembro, 2018 - 11h21 | Última modificação: 21 Novembro, 2018 - 11h29

Escrito por: Elaine Cristina Ribeiro, secretária de Combate ao Racismo da CUT/MG

MÍDIA NINJA
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14/03/2018 - A vereadora Marielle Franco (PSOL), 38 anos, e Anderson Gomes foram assassinados a tiros, na noite desta quarta-feira (14), no bairro do Estácio, no Centro do Rio. A polícia investiga a hipótese de homicídio doloso (com intenção de matar).

6/08/2018 - A policial militar Juliane dos Santos Duarte, 27 anos, negra, lésbica e moradora da periferia (no caso, de São Bernardo do Campo, Grande São Paulo). A soldado, que havia sido raptada por criminosos na comunidade de Paraisópolis (Zona Sul de São Paulo) na semana passada, ficou cinco dias desaparecida até ter o corpo localizado na noite dessa segunda-feira (6), em Jurubatuba.

8/10/ 2018 -  Salvador:  Romualdo Rosário da Costa, conhecido como Moa do Katendê, 63 anos. Dois homens, uma divergência política, 12 facadas. Parece uma sequência sem lógica – e é –, mas foi ela que acabou com a vida do mestre de capoeira, compositor e dançarino baiano que rodou o mundo divulgando a cultura baiana.

Segundo o Atlas da Violência 2017, lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e  pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mulheres, jovens e negros  de baixa escolaridade são as principais vítimas de mortes violentas no país. A população negra corresponde à maioria (78,9%) dos 10% dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios. O documento revela que a cada 100 pessoas assassinadas, em 2017, 71 eram negras. Em sua grande maioria mulheres e jovens. Só em 2015, cerca de 385 mulheres foram assassinadas por dia. A juventude segue sendo vítima. Mais de 318 mil jovens foram assassinados no Brasil entre 2005 e 2015. Apenas em 2015, foram 31.264 homicídios de pessoas com idade entre 15 e 29 anos. No geral, cerca de 92% dos homicídios acometem essa parcela da população.

Casos relatados aqui confirmam a intolerância política, racial, homofóbica, de gênero, e  intolerância religiosa. A impunidade e o descaso das autoridades combinado com o momento político atual, onde o racismo foi naturalizado com a vitória de um presidente que se afirma racista e homofóbico, escancara o caráter de uma sociedade que antes se  escondia, atrás de um racismo velado, e hoje o confirma nas urnas, com a promessa de dar poderes à polícia para matar. Morrerão negros e negras na guerra diária contra o atraso e o racismo.

O grito de liberdade e justiça ecoa, permanentemente. As palavras de indignação e resistência persistem. Mas o racismo, um dos instrumentos estruturais do capitalismo, continua matando, marginalizando, invisibilizando e demonizando a cultura, os corpos e a religião do povo negro.

Vidas Negras importam, por Marielle Franco, Anderson Gomes, Juliane dos Santos Duarte, Moa do Katendê e milhares de anônimos que fazem parte da triste estatísticas das policias e pela demora ou descaso em elucidar crimes bárbaros onde mães, esposas, namoradas, filhas choram a morte anunciada em qualquer esquina, ou na volta do trabalho, uma vez que ,por ser negro as chances de ser assassinado sobe para 17 vezes a mais do que o jovem branco, em Alagoas, maior diferença racial do país.

Os dados são cruéis com o povo NEGRO. Naturalizar o discurso sobre a morte e pessoas, sejam brancas ou negras, é negar a violência estrutural e o racismo arraigado nos moldes conservadores. O que evidencia ainda mais o racismo, nesse discurso, é quando pelo Atlas da Violência do Ipea, já citado acima,  mostra que a cada 23 minutos um jovem negro morre, vítima de homicídio.

Não ao extermínio dos jovens negros. Não ao modelo de polícia que, mesmo antes de averiguar, julga culpado e muitos pagam o despreparo desta polícia com a própria vida.

Basta de intolerância!

Basta de racismo!

Basta de impunidade!

Marielle e  Anderson vivem!

Elaine Cristina Ribeiro / Secretária de Combate ao Racismo da CUT MG