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Greve do Metrô de BH continua, mesmo com o aumento da multa do TRT 3ª Região

Metroviárias e metroviários aprovam continuidade do movimento em assembleia realizada na Estação Central e só admitem voltar ao trabalho com abertura de negociação com o governo federal

Publicado: 16 Fevereiro, 2023 - 15h57 | Última modificação: 16 Fevereiro, 2023 - 16h58

Escrito por: Rogério Hilário, com informações do Sindimetro/MG | Editado por: Rogério Hilário

Rogério Hilário
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Ato em frente à sede da CBUT-MG, ocupada por movimento de usuárias e usuários do Metrô

Metroviárias e metroviários de Belo Horizonte decidiram, em assembleia realizada na manhã desta quinta-feira, 16 de fevereiro, na Estação Central, manter a paralisação total das atividades por tempo indeterminado até que seja aberta, oficialmente, pelo governo federal negociação para revogação do leilão da venda da Companhia Brasileira de Transportes Urbanos (CBTU-MG). A categoria luta, principalmente, pela garantia de emprego de 1.600 concursados que, pelo edital, teriam apenas a garantia de um ano de estabilidade caso a empresa Comporte Participações S.A., vencedora do leilão, assuma o Metrô. Dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Metroviários e Conexos (Sindimetro/MG) não se intimidaram com o anúncio do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região de uma multa de R$ 100 mil por dia de greve, aumentada para R$ 150 mil no período de Carnaval. Nova assembleia está marcada para este sábado, 18 de fevereiro, às 10 horas na sede da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG).

A presidenta do Sindimetro/MG, Alda Lúcia Fernandes dos Santos, foi enfática durante a assembleia. “A proposta do Sindicato é a continuidade da greve e vamos fazer a assembleia em pleno Carnaval. Se a gente de fato conseguir uma reunião com o governo, podemos suspender a paralisação. Queremos que o presidente Lula nos receba. E, por isso, os metroferroviários vão ocupar Brasília depois do Carnaval. Iremos em três ônibus para fazer barulho lá. Estamos nesta luta há três anos e a ferida está aberta. Nosso tempo é curto. Faltam apenas 22 dias para assinatura do contrato com a Comporte. Se não revertermos isso, não teremos nada além de um ano de estabilidade e, depois, rua. Não nos preocupa a multa. Estamos lutando pelo sustento de nossa família, pela dignidade do nosso emprego. Vamos pagar o preço e seguir na luta.”

Na assembleia, mais uma vez metroviárias e metroviários receberam apoio da CUT/MG, outras entidades sindicais, movimentos sociais e de parlamentares. Denise de Paula Romano, coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE/MG), levou a solidariedade de educadoras e educadores ao movimento da categoria metroviária. “Assim como vem acontecendo conosco, a greve de vocês sofre um processo de criminalização. Mais uma vez eu denuncio que as contas do Sind-UTE estão bloqueadas por uma ação judicial do governo de Romeu Zema. Isso por causa de uma greve que foi suspensa e as aulas compensadas. O objetivo de Zema é nos derrotar. Lembro a ele que o Sind-UTE nasceu antes de ter CNPJ, durante a ditatura militar. Não é qualquer gestor que vai impedir nossa luta. Estamos à disposição de vocês, que têm toda a nossa solidariedade e reiteramos nosso compromisso com vocês, pois seus filhos estão nas escolas em que trabalhamos.”

“Este enfrentamento contra a privatização, nós dos Correios também fizemos. Estivemos na lista de privatizações de Bolsonaro, mas felizmente o presidente Lula nos retirou deste processo. Mas seguimos vigilantes, pois o projeto de lei de Bolsonaro ainda está no Senado. No caso de vocês, há possibilidade de reversão. A luta dos metroviários é a luta dos trabalhadores dos Correios, da Copasa, dos eletricitários, de toda a população do Brasil. É muito importante a coesão da categoria e a junção com outras categorias, o apoio da CUT, do Sind-UTE, do Sindágua. Com essa união temos chances de vencer. Estamos ombro a ombro. Só a união vai garantir a vitória da classe trabalhadora”, afirmou Robson Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Sintect/MG).

“A luta de vocês é a luta dos eletricitários. A privatização do Metrô está nos planos de Romeu Zema. Ele não conseguiu privatizar a Cemig e a Copasa e, por isso, tem a venda do Metrô para dar satisfação aos seus aliados. O Metrô de BH está sendo entregue de graça. Se houvesse condições, nós dos sindicatos teríamos condições de tocar o Metrô. Uma cooperativa teria como fazer isso. Mas, não. Pelo projeto, que começou com Bolsonaro, e tem prosseguimento com Zema, a CBTU-MG tem que ser entregue para o capital. E, assim que a empresa Comporte assumir, a tarifa vai subir. Cada cidadão vai pagar caro por essa doação de Zema para o capital. Temos que lutar em defesa do patrimônio do povo mineiro”, disse Emerson Andrada Leite, coordenador-geral do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética (Sindieletro/MG).

“Os metroviários estiveram conosco, na terça-feira, no ato que fizemos em frente à sede do Banco Central contra as altas taxas de juros e contra Roberto Campos Neto, filhote de Bolsonaro. Hoje, estamos realizando um ato em São João del-Rei. Não podemos recuar um passo antes que consigamos reverter este leilão. Isso é possível e temos que estar nas ruas. Este governador, assim como Bolsonaro, não ampliou o Metrô com o setor público porque não quis. Agora está dando dinheiro para a iniciativa privada fazer a ampliação. É inadmissível não deixar o Metrô com o Estado, que vai financiar a obra, e, assim, manter os empregos de quase 2 mil pessoas”, protestou Sebastião da Silva Maria, diretor do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte e Região e secretário de Administração e Finanças da CUT/MG.

“A luta dos bancários é pela redução das taxas de juros; dos Correios é pela prestação de serviço público de qualidade a preços justos; do Sindieletro é pela redução do preço da energia. A da Copasa é pelo acesso à agua e ao saneamento para toda a população. A dos metroviários é pelo direito das pessoas à mobilidade. Até a população defende que transporte seja público. O país é desigual e, como vemos há décadas, privatização piora isso muito mais. Privatização é precarizar, destruir. Parabéns pela greve de vocês. Vencemos Zema por quatro anos e vamos continuar vencendo com a união da classe trabalhadora”, afirmou Lucas Gabriel Tonaco, diretor de Comunicação do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos (Sindágua/MG) e secretário nacional da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU).

“Parabéns pela greve. Metroviárias e metroviários conseguiram dialogar com a população que tem manifestado apoio ao movimento. A mídia foi obrigada a falar de vocês. As pessoas, nas entrevistas, defendem a greve de vocês. Vamos, juntos, encampar esta luta. E estaremos, no dia 28, com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Aloisio Mercadante, para discutir a revogação desde processo de privatização do Metrô”, disse jairo Nogueira Filho, presidente da CUT/MG.

Jairo Nogueira revelou que a Central e sindicatos vão realizar, em março, uma plenária para organizar as lutas da classe trabalhadora neste ano. “Precisamos nos organizar para o enfrentamento com o governo Zema. O processo de privatização, que aconteceu no dia 22, é uma sequência que Zema vem dando ao projeto de Bolsonaro. E temos que nos fortalecer para vencer este enfrentamento ao projeto do governador.”

Usuários ocupam sede da CBTU-MG

Depois da assembleia, a categoria, dirigentes do Sindimetro/MG e representantes de entidades que apoiam o movimento de trabalhadoras e trabalhadores do Metrô saíram em passeata até a sede da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU-MG), no Bairro Floresta, que estava ocupada por integrantes do Movimento dos Usuários do Metrô contra a Privatização, formado por setores dos movimentos populares e estudantis. Eles faziam uma manifestação contra a venda da CBTU-MG e em defesa dos direitos de metroviárias e metroviários.

Ao chegar à sede da CBTU-MG, a categoria encontrou os portões trancados com os manifestantes no pátio interno e não foram abertos para que nenhum metroviários entrasse. Os manifestantes relataram que chegaram e o portões estavam abertos e, assim, eles se mantiveram lá pacificamente.

Não houve nenhum ato de vandalismo ou de violência, mas direção da empresa acionou um forte aparato da Polícia Militar. Os militares, chamados pelo diretor-presidente da CBTU-MG, Gustavo Barbosa Dias dos Santos, que esteve no pátio da companhia, portavam fuzis para disparar balas de borracha, bombas de gás de pimenta e cassetetes. Várias viaturas ficaram estacionadas próximo à sede da empresa, na rua Januária, enquanto parte do pelotão entrou na CBTU.

As negociações com manifestantes e dirigentes do Sindimetro/MG foram tensas e, segundo a presidenta do Sindicato, Alda Lúcia Fernandes dos Santos, o comandante ameaçou usar a força policial para acabar com o movimento. Apesar da tentativa de intimidação, passados 50 minutos, os manifestantes saíram do local, quando os portões foram abertos. O Sindicato e vários metroviários registraram tudo para se precaver de qualquer acusação de violência e depredação.

A preocupação dos movimentos populares é com a privatização e com o aumento no valor das passagens do metrô e com a consequente redução de usuários. Estes movimentos defendem a expansão pública do metrô e a redução no preço da tarifa.

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